Hospedaria Final

Crepúsculo

O balseiro levava Misa em sua balsa rumo a hospedaria, esta estava intrigada com algo que nem ela mesma sabia o que era. Ao chegar em seu destino Misa apresenta-se a Michael que não dá importância a garota.

Michael: Vá logo para seus afazeres.

Misa: Sim senhor.

Ela percebe que a chave do quarto 02 não estava em seu lugar, Michael percebe,

Michael: Antes de você chegar um hóspede registrou-se aqui.

Misa (preocupada): Quem é?

Michael: Ela pediu para não ser incomodada.

Misa: Ela?

Michael: Você ouviu o que eu disse? Ela não quer ser incomodada, por isso não se aproxime do quarto 02 entendeu?

Misa: (contrariada): Sim, o que quer que eu faça?

O gerente entrega uma chave para Misa, que fica sem entender.

Michael: Limpe o quarto 03, a noite passada houve muita bagunça lá.

Misa: Sim senhor.

A garota vai para o quarto 03 deixando Michael sozinho no Hall. Este sorri ao perceber a presença da garota de preto.

Pouco depois Misa estava dentro do quarto 03 ajoelhada limpando o chão, a porta estava aberta de frente para o quarto 02. A porta do ultimo abre-se em uma pequena fresta sem que Misa percebe-se, porém ela sente algo estranho no ar, ao virar-se ela vê a porta do quarto 02 com uma fresta aberta.

Misa: Olá!

Ela obtém o silêncio como resposta, Misa levanta-se visando ir até o quarto 02.

Misa: Deseja alguma coisa?

Alguém fecha a porta, indecisa sobre qual atitude tomar Misa decide voltar ao trabalho sabendo que sua mestra não iria gostar de vê-la importunando um hóspede.

Algum tempo depois Misa termina de limpar o quarto 03, ela prepara-se para sair quando para na frente do quarto 02, mesmo sabendo que a porta estava fechada ela sente como se alguém a observasse, ela tenta tirar aquela idéia da cabeça sem perceber que havia uma sombra atrás dela. Misa passa pela porta do quarto quando olha para trás, não havia nada. Exceto por uma passa que passa correndo pela janela, Misa chama por ela correndo para o lado de fora da pensão, ela corre em volta desta procurando por quem quer que seja. Neste momento ela para se perguntando o que ela faria se encontrasse esta pessoa.

Como não encontrou ninguém ela volta para a hospedaria onde encontra Michael com uma expressão severa.

Michael: Perdeu alguma coisa?

Misa: Eu... vi uma pessoa do lado de fora.

Michael: Não tem ninguém lá.

Misa: Alguém mais virá hoje?

Michael: Não, só a hóspede do quarto 02.

Misa: Então é uma mulher?

Michael (sorrindo): Por que o interesse? Quer ver a mestra criando sua arte?

Misa: Não, não é isso é que...

Sem saber o que responder Misa volta a seus afazeres pensando por que ela gostaria de saber quem estava no quarto e mais importante o que ela poderia fazer.

Misa: Será que era uma criança que estava correndo em volta da hospedaria?

Ela resolve ficar em silêncio enquanto varria a entrada dos fundos da hospedaria, onde a garota depositava os barcos com as velas dentro, Misa varria o chão tentando esquecer seus questionamentos quando uma mulher de aparência jovem e cabelos negros surge atrás de Misa, de costas para ela com a cabeça baixa em silêncio sepulcral.

Misa: Por isso está acontecendo?

Ela continuava varrendo, a garota atrás dela havia desaparecido, Misa vira-se para varrer o outro lado e a garota misteriosa surge atrás de Misa de costas para ela. Misa termina de varrer, ao virar-se ela se depara com aquela garota.

Misa: Posso ajuda-la?

A garota desaparece, Misa entra de novo na pensão onde aquela garota estava andando pelo corredor, Misa apressa seu passo para alcança-la.

Misa: Espere.

Ela corria pelos corredores até parar na frente do quarto 02, a porta deste se fecha. Misa estica seu braço tocando a porta com seus dedos quando para Misa não sabia o que fazer. Ela abre a porta encontrando aquela estranha garota de costas. Ela vestia-se como uma colegial, Misa aproxima-se da garota tocando seu ombro, esta vira-se. Misa reconhece a garota era ela mesma.

Misa estava parada atônita, olhando para ela mesma a outra Misa sorri enquanto que a original cai de joelhos paralisada, Misa começa a hiperventilar, ficando zonza ela começa a ouvir vozes: “Eu não quero ver” (Saory H. 01); “Eu não fiz nada”(Rei H. 01); “Deixe-me ir”(Takashi H 02); “Não, me ajude por favor” (Mark H. 03).

“Garota: Sua alma será atormentada no inferno por toda a eternidade”.

Em meio a uma densa neblina Misa consegue identificar uma lua cheia, ela tenta andar ma estava atolada em uma espécie de lodo. Ao fundo duas figuras se destacam semi-ocultas pela neblina. Eram suas amigas Saory e Rei emergindo do lodo e andando na direção de Misa que tenta fugir mas estava atolada, Misa se vira tentando fugir quando depara-se com a garota de quimono preto esta trazia uma cabeça decepada em suas mãos.

Misa: Por que você está fazendo isso?

Garota: Seu nome estava no livro.

Misa: Mas eu ajudei você.

Garota: Esta foi a sua escolha.

A neblina dissipa-se revelando uma gigantesca estátua viva de um humanoide com cabeça de bode meditando sobre uma flor de Lotos como se quisesse alcançar o céu.

Garota: Pobre alma atormentada, consumida pela culpa perante a impotência perante tantas mortes a condenou ao inferno.

Misa: Não, por favor! Eu quero viver.

Garota: Cada pessoa possui o seu próprio inferno este é o que você escolheu.

Misa: Por favor Mestra, me dê mais uma chance!

Garota: Infelizmente Misa, este lugar combina com você.

Misa cai de joelhos perante a estátua viva contemplando-a em completo desespero.

Misa: Minha busca pela bondade e a minha negação quanto aos assassinatos me condenaram ao inferno.

A garota esboça um sorriso, mas não o concretiza, intrigada ela permanece observando Misa. Esta continuava de joelhos como se orasse para o senhor das moscas.

Um altar estava sendo construído atrás de Misa enquanto cenas das mortes eram refletidas dentro de um líquido contido em um cálice de ouro. Uma mão entrega este cálice para Misa que o bebe sob o olhar penetrante da garota de preto.

Misa acorda dentro do quarto 02, assustada ela levanta-se rapidamente ficando tonta, apoiando-se na parede ela sai d quarto deparando-se com Michael, este parecia orgulhoso.

Michael: Nossa mestra está do lado de fora.

Misa: Desculpe, eu acabei dormindo e tive um sonho...

Michael: Não foi sonho – ele sorri de forma paternal – agora vá.

Misa sai da hospedaria pela entrada dos fundos onde encontra sua mestra esta levava gentilmente uma flor de cerejeira as narinas onde aspirava seu perfume de forma tenra.

Garota: Nunca pensei que você conseguiria.

Misa: O que?

Garota: O inferno, você voltou. Por isso está tão tranqüila.

Misa: Então?

Garota: Mas cuidado, o inferno que você construiu ainda existe e está a sua espera a qualquer momento você pode cair nele.

Misa: Por favor o que aconteceu.

Garota: Você estava atormentada com tudo o que aconteceu, sua mente precisava reorganizar-se, curiosamente você conseguiu.

Misa: Os hóspedes?

Garota: Em parte, porém eles já estavam condenados enquanto você ainda tem uma chance.

Ela indica a borda da hospedaria com o olhar, Misa aproxima-se desta olhando para o riu. Pela primeira vez desde que chegou ela enxerga seu reflexo quando começa a chover, as gotas dissipam o reflexo de Misa, ela volta seu olhar para a garota de preto esta sustentava uma aparência jovial, delicada e pura sob os pingos da chuva. Delicadamente a garota entra na hospedaria deixando Misa para trás.

Misa: Mestra?

Alguns meses depois cartas e cartões postais de pessoas agradecidas estavam espalhadas pelo chão, algumas fotos de Misa ajudando pessoas em ações sociais ao lado de várias páginas de caderno arrancadas “eu escapei” escritas repetidas vezes. Misa olhava para uma pintura feita por ela da garota de preto. Seu quarto estava repleto de velas, imagens de santos, cruzes, livro sagrados de várias religiões, orações e mantras os olhos de Misa estavam cheio de lágrimas.

Misa: Fui eu, fui eu, fui eu.

Um monge abre a porta gentilmente uma luz suave e sem intensidade encobre Misa, enxuga suas lágrimas quando duas sombras encobrem a garota. Tratavam-se de dois policiais.

Monge: Misa...

Misa: Obrigada.

Os policiais ficam assustados ao verem o quarto de Misa, um deles entra neste encaminhado-se até a garota, ajudando-a a levantar-se lentamente, sentindo um forte sentimento de piedade, o outro policial permanecia paralisado perante aquele quarto angustiante, ele pega uma das fotos de Misa em uma atividade de assistência, a pesar da foto ser de três meses atrás Misa estava completamente diferente – abatida, pálida, uma magreza doente, olheiras profundas e cabelo quebradiço em queda.

O primeiro policial leva Misa consigo enquanto o segundo ainda estava abismado pelo sofrimento da garota, percebendo a dor do policial o monge aproxima-se.

Monge: É muito comum pessoas com a consciência pesada tentarem reparar suas ações. Quando veio a nós Misa estava desesperada confessando vários assassinatos.

Policial: Ela parece tão diferente.

Monge: Seus trabalhos sociais foram realizados para aliviar sua culpa, porém uma vida salva não compensa uma vida perdida.

Horas depois Misa estava em uma sala de interrogatórios a frente do policial que a prendera, o segundo policial estava em uma sala escura observando o interrogatório atrás de um vidro espelhado.

Policial: Vou perguntar de novo, onde estão os corpos?

Misa (inaudível): Eu não sei.

Policial: Mas você os matou? Como não sabe onde os corpos estão?

Misa (inaudível): Eu não podia perguntar.

Policial: Como assim?

Misa (inaudível): Eu poderia tê-los salvo, mas não fiz nada... tinha medo de morrer, mas isto... isto é pior.

O policial permanece em silêncio enquanto Misa desaba a chorar.

Misa: Ela me disse que o inferno ainda estava comigo.

O segundo policial assusta-se com esta revelação, sem notar o reflexo da garota de quimono preto no vidro, como se ela estivesse dentro da sala com ele.

Policial: Tinha mais alguém envolvido nestas mortes?

Misa: Existe uma hospedaria flutuante em um riu na cidade de Tóquio, lá mora uma garota, não. Não é isso. Todos que entram lá dentro morrem.

Policial: Esta mulher é a responsável pelos assassinatos?

Misa (inaudível): Seus destinos já estavam selados minha mestra é uma simples seifadora, recolhendo a triste colheita dos seres humanos.

O primeiro policial olha para o espelho, como se desse um sinal ao segundo policial. Cada um deles sai de sua respectiva sala deixando Misa sozinha. Os dois policiais se olham.

Policial 1: Este depoimento é inútil.

Policial 2: Em algumas situações angustiantes a mente humana pode alterar a realidade para suportar seus próprios atos.

Policial 1: O que você sugere?

Policial 2: Este prédio realmente existe, é uma velha casa flutuante, não custa nada darmos uma olhada.

Seu diálogo é interrompido por um grito estridente provindo da sala de interrogatórios. Ambos correm até a sala encontrando Misa caída no chão em prantos.

Misa (urrando) : Não me leve, não!

Seus gritos são abafados na memória dos dois policiais que agora caminhavam pelos corredores desertos da hospedaria, esta estava muito diferente com paredes arruinadas pela umidade, piso frouxo, teias de aranhas além de um cheiro insuportável de mofo. Ambos os policiais param diante do quarto 01, este estava com sua porta corroída, entreaberta, como se tivesse sido abandonada a muitos anos.

Os dois policiais eram observados por esta fresta pela garota de preto sem perceberem, os dois policiais se retiram sob o olhar piedoso da garota.

Garota: Pobres humanos, insistentemente tentando abrir portas que deveriam permanecer fechadas.

Misa estava dentro de um quarto acolchoado em um sanatório sendo observados por uma enfermeira e um médico, sem conhecimento que ambos os policiais responsáveis por sua prisão tinham sido encontrados mortos em suas casas.

Enfermeira: Ela passou outra noite em claro, com está já são três noites em claro.

Misa mantinha seu olhar fixo no nada, alternando a direção de seu olhar como se procurasse algo no vazio.

Enfermeira: Raras vezes eu vi alguém sofrer tanto e ainda ter o inferno a sua espera.

O médico não contem seu sorriso, ficando sóbrio em seguida, a enfermeira afasta-se sabendo que ainda tinha alguns afazeres, o médico continua observando Misa dentro da sala acolchoada, revelando-se Michael.

Michael: Eles nunca escapam.

Dentro da sala sua mestra de pé na frente de Misa com olhar sereno, postura delicada e olhar penetrante. Misa grita em desespero.

FIM