Desejos

Cibele estava em um penhasco sentada ao lado de uma fogueira improvisada. A noite estava fria, no céu a lua cheia era parcialmente encoberta por nuvens vagarosas. Olhava para o mar que estava agitado naquela noite, sempre gostou de sentar-se ali para pensar na vida, quando estava triste por alguma coisa, ou só para ficar sozinha.

Nunca sentiu-se feliz de verdade, até aquele dia, aos 19 anos de idade, vivera como os outros esperavam, não quebrava nenhuma regra e nem criava caso. Sua família a sufocava com a cobrança de que ela devia ser a filha perfeita. Era assim dia após dia... Sentia algo estranho que parecia chamar por ela, não sabia explicar mas sentia que aquilo possuía sua alma.

Estava cansada de fingir-se realizada quando na verdade estava incompleta, forçar-se a viver quando queria a morte, não tinha mais vontade de seguir esta farsa e nem coragem de rebelar-se contra tudo.

Sentiu um arrepio percorrer sua espinha e a presença de algo ao seu lado, olhou assustada mas não viu nada.

- Acho que estou ficando louca – sussurrou.

Então uma voz gutural e sinistra soou ao seu lado.

- Não é loucura, sua profunda tristeza e vontade de morrer me trouxe aqui.

Cibele olhou novamente e viu uma silhueta ao seu lado mas não conseguia ver o rosto, sentiu que era algo sobrenatural, instintivamente encolheu-se.

- Eu vim realizar o seu pedido – disse a sombra.

- Não pedi nada – ela estava ficando apavorada - deixe-me em paz.

O ser aproximou-se, vestia um manto negro com um capuz que ocultava quase todo o rosto, ela podia ver somente os lábios finos e sem cor.

- Os mortais sempre fazem isso, desejam e quando chego tentam me fazer acreditar que é um engano - neste momento levanta a cabeça um pouco mais, exibindo completamente o rosto, seus olhos eram profundamente negros e malignos.

Ele fixou o olhar em Cibele, que perdeu o controle sobre e em sua cabeça ouvia uma voz dizendo “este é seu desejo, não resista”, então ela virou-se para o penhasco e começou a andar.

A garota não conseguia desviar os olhos do mar que se estendia logo abaixo, sentia uma profunda dor no peito, e pensou “será que não poderia ter uma segunda chance?” enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto.

- Não tenha medo, isto é o que deseja.

Cibele parou na beira do penhasco e olhou para baixo, abriu os braços e fechando os olhos se jogou. Estava livre, era a paz que desejava, sua segunda chance.

Lá no alto a criatura diz enquanto vai embora.

- Pobre coitada, acredita mesmo que terá paz, será que ela não sabe que os suicidas nunca encontram o descanso? O meu papel é dar coragem, afinal de contas não sou eu que mato, são eles que morrem, eu apenas realizo os desejos mais obscuros dos vivos...

O corpo de Cibele choca-se nas pedras e é levado pela força do mar revolto. Será que ela conseguiria o descanso eterno?

Marcia Fox
Enviado por Marcia Fox em 26/02/2006
Código do texto: T116512