Culpa

Nikara estava à procura de uma vítima para aquela noite. Estava com fome, havia tentado escapar desta necessidade mais foi em vão, era mais forte do que ela.

Avistou um grupo de adolescentes que caminhavam pela rua, completamente despercebidos do perigo que corriam, e o que ela desejava eles iriam oferecer: sangue fresco.

Ela acompanhou-os por um tempo até que um deles se despediu do grupo e tomou um sentido diferente entrando em uma viela escura e cheia de lixo.

O rapaz parou para acender um cigarro protegendo a chama do isqueiro com uma mão, Nikara ao mover-se apagou a chama antes que ele pudesse acendê-lo, então o rapaz com o cigarro ainda preso nos lábios olhou para a frente pronto para xingar quem tinha feito aquilo.

Foi quando ele viu que quem estava à sua frente era uma mulher de olhos estranhos, eram cinza mas vermelhos ao redor da íris, a pele era muito branca e o pior caninos enormes apareciam através do sorriso diabólico que ela lhe dava.

Rapidamente ela pulou sobre ele derrubando-o no chão, segurou-o nos ombros e logo estava com os dentes cravados no pescoço. Ela não se incomodou com o fato de que ambos caíram em cima de um monte de sacos de lixo e caixas de papelão, estava com tanta sede de sangue que começou a mordê-lo até que o líquido quente e viscoso fluísse para sua boca, sugando-o com avidez.

Uma densa neblina rodeava os dois, fazendo a cena ainda mais sinistra e perturbadora. O rapaz podia sentir as mãos frias e unhas afiadas através da sua roupa ferindo seus ombros, mas aos poucos foi perdendo os sentidos até pensar que estava flutuando, como se o seu corpo levitasse em meio à escuridão.

Nikara sugou até a última gota de sangue, mas mesmo assim quando o soltou percebeu que ele ainda estava vivo, lutava para manter seu coração funcionando mesmo sem seu combustível essencial, parecia não aceitar a morte que o abraçava.

Então ela percebeu que não poderia ir embora e deixá-lo assim. Abaixou-se, e segurando a cabeça do rapaz de uma forma que se alguém os visse até pensaria que ela iria lhe fazer um carinho, mas ela puxou-a para o lado quebrando o pescoço rapidamente.

A vampira levantou-se e seguiu seu caminho sem olhar para trás, afinal de contas ela não tinha culpa de ter sido transformada naquela criatura, talvez só um pouquinho, mas como tal precisava se adaptar e sobreviver, se é que se pode dizer que um vampiro sobrevive.

De qualquer forma ela tinha pressa, a manhã se aproximava trazendo consigo um inimigo que ela não poderia enfrentar e sair vitoriosa, o sol. Portanto ela não tinha tempo para devaneios, precisava voltar para a segurança da escuridão, outra hora pensaria nesse sentimento de culpa por matar e pelo fato de não ter sido capaz de deixar que ele ficasse ali largado agonizando até a morte. Por que ela se preocupou com isso? Pensaria nisso depois...

Marcia Fox
Enviado por Marcia Fox em 26/02/2006
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