Pesadelos de Katherine

Eu me sentia feliz demais! No telhado de meu apartamento dava pra ver a cidade inteira brilhando! E dessa vez brilhando na mais absoluta paz! Não havia mais violência, não havia mais mortes, não havia mais dor!

Pela primeira vez na minha vida, eu conseguia entender o motivo que me fazia anjo!

Com meu trabalho terminado, eu achava que poderia finalmente ser considerada um ser celestial completo e ir para o meu verdadeiro lugar.

Despi-me completamente sobre o telhado. Nua, olhei uma última vez para a cidade e depois observei a lua, que estava cheia.

Não precisei tomar impulso algum. Bati minhas asas e elas fizeram o seu trabalho. Comecei a voar como um belo pássaro. O vento gelado da noite batia em meu rosto e trazia uma agradável sensação.

Tudo o que eu ouvia naquele instante era a brisa…

Mas, de repente, o vento tomou um aspecto agressivo. Ele ficou ainda mais forte e eu não conseguia seguir em direção ao céu. Do nada, a brisa ficou cortante, formando pequenas agulhas de vento. Desviava sem me preocupar com elas, já que não teriam como me machucar…

Conforme algumas desciam em direção a terra, muitas passaram por mim sem me causar dor… Mas quando dei por mim, por onde elas passaram eu sangrava!

Olhei para a terra, onde elas caíram. As pessoas, que estavam em plena harmonia, começaram a atacar umas às outras! Algumas com socos, outras com armas e facas! Com apenas alguns segundos, muitas pessoas caíram mortas no chão!

Me desesperei, mas me mostrei decidida a ir ao céu. Não iria voltar àquele mundo fétido e desprezível!

De repente, uma voz veio aos meus ouvidos:

– Olhe entre suas pernas…

Sem saber quem poderia ser, por instinto obedeci à voz.

Mas aquilo era completamente impossível! Eu estava… sangrando!

As feridas que as agulhas causaram em mim sangravam ainda mais, me fazendo perder muito sangue. E esse sangue chovia em direção a terra, molhando os corpos das pessoas que estavam mortas. Todos estavam mortos! Aquela cidade inteira se matou!

– E seu lugar é com eles! – disse a voz.

Tapei meus ouvidos, cheia de medo, negando, dizendo que meu lugar não era ali.

– Veja como eles a querem…

Olhei para baixo. Os corpos das pessoas se levantavam, com sorrisos psicopatas nos rostos! Era como se tivessem revivido, mas… Eu sentia que eles estavam mortos. Eles estavam! Mas como podiam se manter de pé?

– Seu lugar é lá! Eles a querem…

– Não! – gritei. – Eu sou um anjo!

– Não seja tola. Como pode ser um anjo se está sangrando?

Meu corpo inteiro tremia de medo. Como eu podia estar sangrando?

– Você é uma humana…

– Não!

– Você não é um anjo. Anjos não sangram!

– Não! Veja minhas asas, veja meus olhos!

– Você não é um anjo! Isso é o que você é!

Senti como se meu corpo estivesse sendo pressionado. Minha coluna curvou-se levemente para trás, me deixando completamente reta.

De repente, meus olhos começaram a queimar e minhas asas a desaparecer! Saía um pouco de fumaça de meus olhos, que voltaram a cor castanha, e minhas asas diminuíam, como se estivessem entrando por minhas omoplatas!

– Você é uma humana…

Quando dei por mim, havia voltado a ser humana, mas continuava flutuando.

– Uma humana inútil! – encerrou a voz.

Num súbito comecei a cair daquela altura gigantesca! Eram mais de seiscentos metros em queda livre!

Gritei, desesperada. Pedi socorro, mas ninguém me ajudava.

E aqueles mortos vivos lá embaixo… Riam de mim, abrindo um círculo, onde eu cairia bem no meio!

Foram segundos horripilantes. Não parei de gritar nenhum segundo, arranjando fôlego sabe-se Deus de onde!

Foi quando cheguei ao chão… Num repente, tudo se apagou, sem dor.

Luiza Araújo
Enviado por Luiza Araújo em 16/10/2008
Código do texto: T1231973
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