Cidade dos Zumbis

Passos desesperados eram ouvidos aos montes naquela noite. A lua cheia no céu era como um holofote sobre o grotesco espetáculo que se abatia sobre a cidade, um pequeno e desolado povoado, habitado por pessoas simples que do dia para noite, ou melhor, da noite para o dia se vira infestada de zumbis.

Ninguém sabia de onde eles haviam vindo, nem como nem o por quê. Fora pouco depois das 9 da noite que o primeiro tiro fora escutado, junto com os primeiros gritos. O primeiro a atirar fora o delegado, que ao chegar em sua chefatura se deparou com a grotesca figura devorando um de seus presos, um velho conhecido da região que costumava passar algumas noites bebendo além da conta no bar, e acabava tendo que acordar na cadeia para clarear as idéias. Claro que agora o velho não iria mais arranjar qualquer confusão com qualquer pessoa que fosse.

Mesmo tendo descarregado sua arma na criatura, o delegado não conseguiu impedi-la de se aproximar, até que ela chegasse próximo o bastante para que ele reconhecesse sua fisionomia: era o velho Fernandes, um fazendeiro bastante conhecido da região que morrera alguns meses atrás. Efetivamente Fernandes estava morto, pois sua pele e corpo já corroídos pelos vermes não davam outra chance de um destino diferente.

A descoberta sem dúvida alguma abalou o delegado, que inerte foi um alvo fácil para que Fernandes chegasse próximo o bastante para de um único golpe arrancar fora os dois braços de sua vítima. No chão, agonizando em dor, o delegado só pode gritar e gritar, enquanto a criatura calmamente se abaixava e sem qualquer pressa abrisse sua cabeça e devorasse seu cérebro.

Vizinhos, parentes, conhecidos. Todos mortos a pelo menos 1 mês estavam de volta a cidade, uns mais corroídos por vermes do que outros, mas lá estavam eles trazendo um espetáculo grotesco de sangue, morte e dor. Não havia consciência, não havia simpatia, havia apenas um desejo de violência, um instinto primitivo e maligno que os dominava a comer tal barbárie conta a natureza.

Em uma das casas mais afastadas, um jovem casal aproveitava a noite a sós para assistir a um filme de terror antigo que passava na televisão. Um estava tão absorto no outro, que sequer escutavam os gritos de desespero e dor que vinham de fora da casa. Os poucos que se faziam notáveis eram confundidos com os provindos da televisão. Lá pelas tantas da noite, quando pensamentos mais libidinosos tomavam a cabeça de ambos, batidas e empurrões na janela os fizeram deixar de lado suas intenções. Poderiam ser os pais da menina, será que eles teriam voltado mais cedo?

“Vamos pegar um refrigerante”, disse o menino enquanto se levantava estendendo a mão a sua companhia, para que ambos fossem até a janela ver quem os atrapalhava. Acreditando se tratar de uma piada de seus amigos, ele abriu as janelas com rapidez, revelando as monstruosidades que os aguardavam. “Zumbis”, eles gritaram antes de serem mortos como seus vizinhos.

Não levou mais de 4 horas para que a cidade tivesse sua pena capital assinada. Foram 4 horas de horror e dor, antes que os zumbis liquidassem todas na cidade, e arrastassem os corpos para um velho e sinistro mausoléu no velho do cemitério. Ao amanhecer nada mais restaria na cidade, nem suas memórias, apenas vagas lembranças que não poderiam mais ser sonhadas por qualquer habitante da recém deserta cidade.