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A calçada era tomada pelo sangue que escorria da Dr. Mia Choung, os curiosos cercavam o corpo dela que estava com um enigmático sorriso nos lábio, um carro de polícia se aproxima do local do acidente e para no lado do carro que atropelou Mia.

3 meses antes.

Faculdade de Psicologia, supervisão.

Mia: Essa atração pelo medo e pelo grotesco é na verdade uma atração pôr algo que nós deixamos para trás, ou seja nossos desejos reprimidos que são manifestos na tela na forma de atos desprezíveis que incomodam as pessoas mais “comportadas”.

Rachel: Em suma é uma forma de fugir das restrições do dia a dia.

Mia: Isso mesmo.

Rachel: Eu quase esqueci, me indicaram um site muito assustador, eu nem consegui entrar.

Mia: Me dá o endereço que eu entro.

Rachel: www.medo.org

Mia: Como alguém que faz um trabalho sobre o fascínio pelo terror pode ter medo de um site?

Rachel: Não é isso, o trabalho é seu.

Mia: É nosso.

Durante a noite Mia senta-se na frente do seu computador e digita o endereço do site, surge uma tela negra com o texto "À medida que você estiver lendo esse texto, e vendo essas imagens, algo de muito assustador e anormal acontecerá com você. Essa página é somente para maiores de 21 anos e não recomendada para casados(as) ou patronos de família. Portanto, se você ainda acha que dar valor a vida é algo importante, saia imediatamente desse site apertando as teclas ALT + F4 do seu teclado." Mia fica olhando para a tela, ela sorri e entra no site. Abre uma página totalmente escura, não havia nada nela, absolutamente nada, neste momento a luz verde (ligado) do monitor muda para amarelo (stand by) e para vermelho, Mia se assusta com aquilo.

Mia: Mas não existe luz vermelha.

A página pisca, aparece uma nova mensagem na tela "Você ainda pode sair. Você provou sua coragem, mas ainda há tempo. ALT + F4 para sair, ou ENTER para nunca mais SAIR." Mia estava boquiaberta, uma gota de suor escorre

Mia: Genial, nunca imaginei que pudessem fazer algo tão inteligente com tão poucas palavras.

Ela olha intrigada para a luz verde, olha para a tecla ENTER, para as teclas ALT + F4, ENTER? Ou ALT + F4, ela gira a cadeira para o lado, estica as pernas e os braços e espera por alguns segundos.

Mia: Mas que ridículo.

Ela se volta para o monitor, respira fundo e aperta ENTER com força, imediatamente a luz do escritório se apagou, o monitor desligou, alguns segundos depois ela sente uma respiração em seu pescoço, Mia se levanta e grita, seu grito soou abafado, o escritório estava vazio, ela ouve portas batendo, cadeiras caindo, ela correr até a porta e percebe que a fechadura estava trancada, Mia começa a bater na porta, cada vez mais forte, cada vez mais rápido, ela batia na porta, gritava, chorava, suava, saiam nuvens de vapor de sua boca.

Silêncio, tudo parou, as luzes se ascenderam, o computador estava reiniciando, Mia tenta desliga-lo, mas os botões estavam travados, ela olha para a porta e timidamente sai do escritório, enquanto anda pelo corredor escuro (som de um coral de crianças rezando o pai nosso), ao se aproximar da cozinha ela para, seu queixo treme, sua mão vai de encontro a parede para evitar uma queda, a mesa estava de ponta cabeça, as cadeiras espalhadas pelo chão, que estava repleto de comida, a geladeira e os armários estavam de portas abertas. Mia: que foi que eu fiz?

Ela olha para trás, sua perna fica bamba e Mia cai no chão batendo a cabeça.

Amanhece, Mia estava dormindo dentro do escritório, os fios do computador estavam em cima da mesa, o sol batia nos olhos de Mia acordando-a, ela agarra o telefone e disca para Rachel.

Mia: Atenda.

Rachel: Alo.

Mia: Rache!

Rachel: Professora?

Mia: Graças a Deus.

Rachel: Eu estava preocupada. Onde você esteve?

Mia: O que?

Rachel: Essa semana.

Mia: Como assim, nós conversamos ontem, você até me deu o endereço de um site.

Nenhuma resposta.

Mia: Rachel?

Rachel: Isso foi a uma semana.

Desta vez é Mia que fica muda.

Mia: Do que você esta falando?

Rachel: Você está bem? Eu fui várias vezes no seu apartamento, Jack também foi ai, nós batemos na sua porta várias vezes, tentamos ligar, o professor Raul ligou também, mas nada. Onde você esteve?

Mia: Eu não sei.

Rachel: O que?

Mia: Nos vemos na Universidade.

Rachel: Você está bem?

Mia: Sim.

Ela desliga o telefone e liga o PC, abre alguns arquivos e percebe que a ultima vez que mexeu nele tinha sido a uma semana atrás, ela entra na Internet, a página estava totalmente negra com a frase “Você fez a sua escolha”, em seguida o monitor piscou e desligou, ela ouve uma batida de palma atrás de si, Mia se levanta e olha em volta, ela estava sozinha.

Mia andava rapidamente pelo corredor de universidade, ela estava descabelada, suas roupas estavam amassadas, e ela abraçava seu material, Raul corre até ela.

Raul: O que aconteceu?

Mia: Aqui não.

Eles vão até uma sala onde Mia conta tudo o que aconteceu, Raul olhava fixamente para ela por alguns minutos eles ficaram em silêncio.

Raul: Desculpe pela minha pergunta, mas eu sou seu amigo e tenho que perguntar. Você usou alguma coisa?

Mia(gritando): Não.

Raul: Desculpe.

Os dois continuavam se olhando em silêncio.

Ao sair da universidade Mia vê Jack sorrindo para ela, Mia corre até o namorado e o abraça como se fosse a ultima vez que eles se viam, Mia chora.

Jack: Mia?

Os dois estavam dentro do carro de Jack. Este dirigia, enquanto Mia estava encolhida no banco do passageiro olhando melancolicamente pela janela.

Mia: Você não vai me perguntar se eu usei drogas?

Jack: Você usou?

Mia: Não.

Jack: Então eu acredito.

Mia: Eu posso dormir na sua casa hoje, eu não quero ficar sozinha esta noite

Os dois estavam deitados na cama, abraçados, assistindo televisão, a televisão sai do ar, mas volta imediatamente, eles escutam um sussurro.

Jack: O que foi isso?

Mia abraça ele, que tenta se levantar, mas ela o abraça mais forte.

Mia: Não.

Jack: Eu tenho que ver o que aconteceu.

Mia: Não.

Jack: Eu já volto.

Ele se solta e sai do quarto, Mia olhava em volta assustada, ela pula na cama e olha para um canto, rapidamente olha para o outro lado, a porta se abre lentamente, uma respiração abafada invade o quarto. Jack abre a porta.

Jack: Acho que foi alguma coisa se dilatando, a sua história deve ter me assustado.

Ele nota que Mia estava pálida, com lágrimas nos olhos, suas mãos tremiam.

Jack: Mia.

Ela não responde, só o olha com medo, muito medo.

Alguns dias se passaram, Mia estava dando aula, ela passava a matéria na lousa quando sente uma mão em seu ombro, ela grita e gira nos calcanhares, mas a única coisa que vê são seus alunos que olhavam assustados para ela, Mia sai da sala e encontra Raul no corredor. Mia: Raul.

Raul: Escutei um grito, o que foi?

Mia: Não sei.

Raul: Este sábado eu vou fazer um churrasco e quero que você venha.

Mia: Raul...

Raul: Eu não aceito “não” como resposta.

Mia sorri e faz que sim com a cabeça.

Muitas pessoas tinham ido até a casa de Raul, Mia estava sentada numa cadeira observando Raul e Jack conversarem, algumas crianças estavam se reunindo, uma menina vai até uma árvore e conta até dez, as outras crianças correm para se esconder.

Criança 1(ai vou eu): Aqui vou eu. A menina entra na casa enquanto anda pelo corredor ela vê um vulto passando numa janela.

Criança 1: Ei ai não vale. A menina vai até o quarto principal e escuta um barulho debaixo da cama

olha em baixo da cama forçando os olhos para ver o que havia lá em baixo.

Criança 1: Te achei.

A menina se assusta e grita, ela corre para o quintal, Mia a abraça e percebe que a menina estava chorando.

Mia: Ei o que foi?

Criança 1: Tem um monstro em baixo da cama.

Mia sorri e enxuga as lágrimas da menina.

Mia: Monstros não existem, deve ser algum menino tentando te assustar.

Criança: Meninos são burros.

Mia: Que tal se nós assustarmos ele?

Criança: Oba!

As duas vão até o quarto, a menina aponta para a cama, Mia se abaixava para ver em baixo dela quando as duas ouvem um barulho na sala, elas se olham e sorriem, Mia segura a mão da menina e vai para a sala, um vulto preto se arrasta em alta velocidade para atrás do sofá, a menina abraça Mia que estava paralisada.

Mia: Não.

Ela anda até o sofá e não encontra nada, Raul entra na sala e chama elas para comer, Mia olha para ele assustada.

Raul: O que foi?

Mia conta o que aconteceu, Raul e outras pessoas revistam a casa mas não encontram nada, Mia estava sentada num banco tomando água.

Jack: Tem certeza de que não era uma criança?

Mia: Nem você acredita mais em mim.

Alguns dias se passaram, Mia estava na frente de seu PC lendo alguns e-mails quando encontra uma mensagem de Rachel “Oi professora como vai? Eu estou bem, mas me sinto um pouco culpada com o que tem acontecido com você, por isso eu resolvi entrar novamente no site para ver o que eu descubro. Quando você estiver lendo esse e-mail eu já devo ter entrado nele, até amanhã”. Mia fica perplexa diante do computador, ela se levanta e sai correndo, algum tempo depois ela chega até o prédio onde Rachel Mora, Mia não agüenta esperar pelo elevador e sobe até o décimo andar de escada, ela para na frente da porta do apartamento de Rachel que estava entreaberta, ela recupera o fôlego e entra no apartamento, havia uma marca de sangue em forma de mão na parede, conforme anda ela vê que o sofá branco estava com várias manchas vermelhas, Mia segue os pingos de sangue no chão, ela escuta alguns sussurros, Rachel estava sentada em posição fetal no chão de seu quarto de costas para a porta se balançando para frente e para trás.

Rachel: Todos sumiram... todos sumiram... todos sumiram...

Mia: Rachel?

Rachel: Todos sumiram... todos sumiram...

Mia se abaixa ao lado de Rachel que se vira, Mia percebe que ela havia arrancado seus olhos, suas mãos estavam manchadas de sangue, assim como sua roupa e o chão, Mia abraça Rachel e chora.

Alguns dias depois Mia coloca um prato dentro da pia, abre a torneira e olha para a lua pela janela, ela fecha a torneira e vai para o banheiro, Mia começa a escovar os dentes de frente para um espelho que além dela refletia a mesa da cozinha, ela abaixa a cabeça para cuspir e quando olha novamente ela vê uma família de quatro pessoas vestidas inteiramente de branco sentadas a mesa olhando para ela

Mia olha para a cozinha, mas não havia mais nada, Mia sai de seu apartamento.

Jack estava no banheiro quando o telefone toca, ele escuta a voz de Mia que chorava na secretária eletrônica “Por favor atende. Por favor. Aconteceu uma coisa, não dá para explicar por favor venha, eu te amo muito.” Jack sai correndo do banheiro e pega o telefone, mas já não havia ninguém do outro lado. Jack sai de casa.

Algumas horas depois Mia voltava para seu apartamento ela vê a porta aberta, já esperando por alguma coisa ela entra nele, um fiapo de água escorre pela sala indo até o seu escritório, Mia segue a água e entra no escritório, ela grita de pavor e cai de joelhos no chão, Jack estava sem roupa pendurado no teto de ponta cabeça envolto em cabos elétricos, vários cortes haviam sido feitos em seu corpo, seus olhos tinham sido furados com um arame farpado que saia das cavidades oculares e envolvia sua cabeça.

Alguns minutos depois a policia vasculhava o apartamento de Mia, um policial senta ao lado dela.

Policial: Não encontramos nenhum sinal de luta, nem de arrombamento, seja quem for que tenha feito isso tinha a chave da sua casa e tinha total confiança de seu namorado.

Outro policial se senta do lado de Mia.

Policial 2: A senhora disse que estava andando pela noite.

Mia: Sim.

Policial 1: Choung é chinês?

Mia: Sim.

O policial anotava alguma coisa em um bloco de anotações, Mia olha para os dois preocupada.

Mia: O que vocês estão pensando?

Os policiais se olham.

Policial 2: Esse foi o segundo incidente em que você estava presente.

Mia: Foi ...

Ela tapa sua boca e olha para o nada.

Policial: Foi...?

Mia: Ninguém.

Policial 2: Não saia da cidade.

Mia olha para os dois, o corpo de Jack passa na sua frente, um vulto pequeno estava de cócoras em cima do corpo dele encoberto pelo saco plástico, Mia segura o choro.

Policial1: Você tem onde ficar?

Mia: Jack me deu uma cópia da chave do seu Ap.

Mia estava deitada no sofá da casa de Jack ouvindo música por um fone de ouvido que estava plugado no aparelho de som, Mia se mexe e o fone de ouvido desplugou, o som invadiu a sala, ela colocou o fone no plug rapidamente, só que ao invés de música ela ouvia pessoas chorando e uma voz alta ao fundo “Choung”, ela joga o rádio no chão, a música invade a sala enquanto Mia se encolhe no sofá.

Raul estava sentado a mesa com sua família rezando antes de jantar, eles escutam alguém batendo na porta muito forte, em seguida escutam a voz de Mia “abra por favor”, um chute muito forte na porta, seguidos por muitos outros, a família de Raul estava assustada. Raul(gritando): Mia?

Taum, como se algo acertasse a porta, taum novamente, a filha de Raul começa a chorar nos braços da mãe, Raul vai em direção da porta, as duas mulheres ficam na cozinha escutando as batidas, que agora pareciam marteladas, para mudar novamente para arranhões, de repente parou, elas escutam a porta sendo aberta e um grito muito alto de Raul, as duas correm em direção a porta e encontram Raul morto no chão sem nenhum ferimento a parente, a porta estava aberta, a pesar das batidas não havia nenhuma marca.

Mia estava dormindo, a porta de seu quarto abre lentamente, ela se vira na cama mas sem acordar, um vulto se aproxima da cama, Mia abre os olhos, ela vê Jack parado em cima da cama com os olhos furados, Mia perde a voz, Jack se aproxima lentamente, ela consegue gritar, Jack tira lentamente o lençol da cama e segura sua perna, a garota tenta se soltar, Jack segura a outra perna dela e engatinha lentamente até ficar por cima da psicóloga, Jack prende as pernas dela com as suas e as mãos dela com as suas, ele se aproxima de seu rosto e lambe sua face.

Mia acorda com batidas em sua porta, ela abre e se depara com a polícia. Mia: Sim.

Policial: Sra. Choung?

Mia: Sim.

Policial: Vá se vestir a senhora está presa. Por favor nos acompanhe.

Mia respira fundo e se encosta na batente da porta, ela olha para o policial.

Mia: Qual acusação?

Policial: Pelo assassinato de Raul Castro.

Mia empalidece, o policial impede que ela caia, a garota se recupera do impacto e se levanta.

Mia: Posso me trocar?

Policial: Sim.

Alguns minutos depois Mia estava numa sala na delegacia, ela estava escrevendo sua história num pedaço de papel, ela terminava a carta “...há meses eu passo por isso e nunca sei de meus gestos, nunca sei de minha vida. Tudo que sempre li e nunca acreditei estava acontecendo comigo. Eu que não terei credibilidade de qualquer meio de comunicação, tudo que me resta é a rede. Infelizmente, por ninguém acreditar nela, por acharem-na tão inverossímil, ninguém também acreditará em mim. Mas preciso tentar. Tudo o que eu sempre tive de mais precioso foi jogado fora, meus amigos, meu trabalho, minha sanidade, minha felicidade e minha alma, nem o medo me acompanha mais, sei que a partir de hoje terei que viver sozinha, isolada do mundo apenas eu e minha melancolia, Eu rezo para encontrar um cibercafé, para digitar meu texto, pois o meu computador e o da casa de Jack, meu adorável Jack, foi quebrado peça por peça.”

A porta abre, um advogado entra na sala, Mia o olha por entre seus cabelos que caiam sobre sua face, o advogado se assusta.

Advogado: Você pode ir, mas vai ter que comparecer no fórum no final da semana.

Mia se levanta e passa pelo advogado que sente um arrepio forte e fica olhando para a garota que vai embora de cabeça baixa pelo corredor da delegacia, atrás dela estavam Jack e Raul pálidos e vestidos de branco.

A rua estava tomada por espíritos, alguns se arrastavam ao lado de Mia, umas crianças brincavam de amarelinha e pular corda, outros espíritos saiam dos bueiros, Mia anda pela rua esbarrando nas pessoas que ficam olhando para ela sem perceber a existência dos espíritos, ela para num semáforo esperando para atravessar, os espíritos a rodeiam, uma criança pálida de roupa branca a abraça, Mia olha para ela e depois para frente, uma garota cega tocava violino ao seu lado, o som do violino é abafado pela freada de um carro, Mia estava caída no chão, o motorista sai do carro e coloca as mão na cabeça em total desespero.

FIM