Cidade da Noite

O sol começava a se por, mas as irmã Joana e Alice não perceberam pois estavam entretidas na conversa, elas riam e se divertiam e por isso não percebem que a gasolina estava acabando.

Joana: Eu não acredito!

Alice: Sim!

Ele tirou a cueca e nada.

Joana: Você assustou ele.

Alice liga o rádio e procura por alguma estação que tocasse uma música boa, quando finalmente acha elas sentem o carro falhar.

Alice: O que foi?

Joana: A gasolina está acabando.

Elas olham pela janela e vêem o início da noite, Joana fica repetindo as palavras "vamos" enquanto Alice procura no mapa por alguma cidade.

Joana: E esta "Cidade da Noite" que mostrava a placa lá atrás?

Alice: Acho que chegamos lá em meia hora.

Joana: É o tempo de anoitecer.

A cidade da noite justificava seu nome, uma vez que o sol havia se posto a escuridão reinava, havia pouca iluminação e um denso nevoeiro cobria as ruas e quase oculta o carro das duas irmãs que para por total falta de gasolina, as duas descem do carro olhando em volta.

Alice: Parece que somos as únicas acordada por aqui.

Joana: Que buraco, vamos andando, deve haver algum lugar para passarmos a noite.

Vista de cima a cidade estava deserta a não ser pelas duas irmãs que cruzavam a rua em sua metade, havia alguns carros estacionados.

As duas param estranhando um carro embicado a frente de uma loja com as portas abertas. Alice se aproxima e olha dentro dele.

Alice: Está vazio.Joana se aproxima da loja de bebidas, a porta estava aberta, as irmãs entram lentamente, Joana tenta ascender a luz, mas essa não funciona, cada uma caminha por um lado da loja, Alice se aproxima lentamente do balcão, enquanto Joana se aproxima da porta dos fundos. Alice olha atrás do balcão e grita ao encontrar um corpo sem rosto, com se a sua pele tivesse sido corroída, Joana ia ao auxílio de sua irmã quando uma mulher sai de dentro da porta dos fundos e pula sobre Joana, as duas caem no chão, a mulher não reconhece Joana e se afasta, encolhendo-se em um canto da loja, Alice corre até sua irmã e a abraça.

Joana: O que está acontecendo?

A mulher abraçava suas pernas e se balançava para frente e para trás repetindo as palavras "todos mortos". Neste momento um policial entra na loja de bebidas, assustando as mulheres, mas logo Joana percebe que ele era um policial e sorri aliviada. Pouco depois na delegacia Adam (o policial) entregava um copo com café para Elizabete (a mulher na loja de bebidas), após ter dado um pouco de café para as duas irmãs.

Joana: Você pode explicar o que aconteceu aqui.

Adam: Eu não sei ao certo, começou hoje de manhã, o xerife estava indo para a delegacia quando alguém atirou nele, desde então as pessoas vem sendo assassinadas.

Joana: Como é possível que ninguém tenha visto o que os matou?Adam: Quase ninguém.

Ele olha para Elizabete que devolve o olhar mas permanece em silêncio, nesse momento Jhon, outro policial, usando um uniforme diferente, entra na delegacia, ele olha de maneira desolada para todos.

Jhon: Encontrou sobreviventes.

Alice: Por enquanto somos nós.

Jhon: E acredito que são apenas vocês.

Adam: No final da tarde nós pedimos ajuda a cidade vizinha, e três policiais vieram nos ajudar, mas já era tarde.

Joana: Então temos quatro policiais nos protegendo e procurando esse assassino?

Jhon: Quatro não, o Orlando está morto.

O Orlando estava crucificado em um poste de luz com o estômago aberto e suas vísceras para fora. Nesse momento eles ouvem tiros de rifle vindo de fora, todos (menos Elizabete) corre para fora e seguem os sons, Billy (o terceiro policial) estava gritando e atirando no vazio, Jhon salta sobre Billy e retira o rifle de seu colega com a ajuda de Adam.

Jhon: O que aconteceu?

Billy: Eu o vi, eu encontrei o assassino do Orlando.

Jhon: Onde?

Billy: Ele sumiu na escuridão.

Joana: Onde está Elizabete?

Billy: Quem?J

hon: Uma sobrevivente, ela deve estar na delegacia, vamos.

Billy(gritando): E o assassino?

Eles correm até a delegacia e encontram Elizabete sentada, envolta em um cobertor olhando fixamente para eles.

Elizabete: Ele matou meu irmão, minha mãe e meu pai, então eu corri para a loja de bebidas, o dono me escondeu, mas ele foi morto, ele...

Jhon: Tudo bem.

Billy: Alto, caucasiano, usando roupas escuras...

Elizabete: Não, ele era negro e baixo.

Jhon: Assassinos seriais não trabalham em duplas.

Adam: O importante é decidir o que vamos fazer.

Jhon: Billy você leva as garotas para fora da cidade enquanto que Adam e eu tentamos descobrir o que está acontecendo.

Billy: Venham, a viatura está na outra rua.

Os policiais escoltam as mulheres até a outra rua, o nevoeiro os cegava, Jhon e Adam ascendem as lanternas pois eles levavam revolveres, já Billy mantinha suas duas mãos ocupadas pois levava um rifle.

Joana: É comum esse nevoeiro todo?

Adam: Não, aqui dificilmente temos neblina e frio, mas hoje o dia está estranho desde cedo.

Ao se aproximarem eles descobre que a viatura estava com o motor destruído.

Joana: o nosso carro está bom, mas falta gasolina.

O vento sopra mais forte, Elizabete começa a tremer, Jhon percebe e leva o grupo de volta para uma fábrica, uma vez lá dentro Elizabete fica mais tranquila.

Billy: E agora?

Jhon: Assim que o nevoeiro diminuir vamos abastecer o seu carro e tirar vocês da cidade.

Joana: Enquanto isso por que não nos apresentamos?

Alice: Tudo bem, eu me chamo Alice e sou esteticista, a minha irmã Joana é matemática, nós estávamos indo visitar nossa mãe, e rapazes, nós somos solteiras.

Elizabete: Eu sou Elizabete e morei aqui toda a minha vida e todos os que eu conheço foram mortos.

Adam: Eu sou o auxiliar do xerife, eu sempre vivi aqui e esse é o dia mais estranho da minha vida.

Billy: Nós somos policiais da cidade vizinha, eu nasci no interior mas Jhon veio da cidade grande, eu sou solteiro, mas ele é viúvo.

Jhon se levanta e olha pela janela, Joana vai até ele enquanto Alice se levanta dizendo que vai ao banheiro.

Alice caminhava por um galpão, um leve som de correntes balançando invade o lugar, Alice olha em volta estranhando alguns vultos, a luz da lua entra pela janela e ilumina o galpão revelando os corpos dos funcionários pendurados pelo pescoço em correntes a mais de dez metros do chão. Os outros seguem os gritos de Alice e chegam ao galpão onde os corpos estavam pendurados, Alice abraça sua irmã, Jhon caminha por entre os corpos olhando para cima, ele não consegue entender como eles foram parar lá.

Adam: São os trabalhadores daqui, todos os cem.

Jhon: Como alguém conseguiu fazer isso?

Joana: Não sei... é impossível pendurar todos dessa forma, não existe ponto de apoio, nem equilíbrio...

Alice: Você está dizendo que esse assassinato contraria as leis da física?

Joana: Eu não conseguiria dizer o que fez isso.

Elizabete afasta-se do grupo e sai correndo de dentro do galpão, Billy a segue e encontra a garota parada no escuro olhando para ele, sem nenhuma expressão em seu rosto.

Billy: Tudo bem, vamos.

Ele caminha lentamente na direção da garota, para evitar assusta-la com algum movimento brusco, mas ela não se mexe, ele se aproxima dizendo que esta tudo bem, e quando chega bem perto ele encosta sua mão na cabeça de Elizabete. Uma linha vermelha surge lentamente no pescoço dela, sua cabeça se desprende do corpo que cai no chão aos pés de Billy, enquanto a cabeça fica entre as mãos deste. Billy grita de pavor enquanto se afasta do corpo, os outros surgem e vêem a cena, Billy deixa a cabeça de Elizabete cair e grita de raiva, o policial corre para a porta da fábrica e em desespero corre pela rua deserta e escura.

Jhon corre até a porta mas para assim que vislumbra a noite e percebe que as duas irmãs ficariam muito vulneráveis se ele saísse, Jhon se limita a ver a silhueta de seu colega desaparecer em meio a neblina.Billy segue um rastro de sangue até uma loja de brinquedos, ele vislumbra a entrada da loja onde podia-se ver alguns palhaços e bonecas, o policial entra pela porta e caminha lentamente pelo escuro até deparar-se com uma boneca de pouco mais de um metro de altura, ele a encara e percebe como o brinquedo parecia real, Billy acaricia os cabelos da boneca, mas logo ele se vira e dispara um tiro de seu rifle, ao aproximar-se do corpo ele reconhece um palhaço de pelúcia caído no chão, ao virar-se novamente ele depara-se com a boneca, imóvel com seu olhar doce, olhos cintilantes e pele rosada. Enquanto isso na fábrica os quatro restantes do grupo sentam-se em um círculo, menos Jhon que se afasta para olhar pela janela, ninguém dizia nada.

Alice: Por que ninguém admite? Não existe assassino.

Adam: E aqueles corpos?

Alice: Minha irmã disse que era impossível um humano fazer aquilo.

Adam: Então alguma coisa fez aquilo?

Jhon (ainda olhando pela janela): Por que as pessoas tem medo do escuro?

Alice: Foi uma pergunta?

Jhon: Quando criança eu tinha muito medo do monstro do armário, todas as noites minha mãe deixava uma pequena luz acesa no quarto.

Joana: Nós tínhamos medo do bicho papão, nosso pai dizia que se nós não nos comportássemos o bicho Papão viria nos comer.

Adam: O monstro de debaixo da cama, eu colocava uma lanterna em baixo dela para poder dormir.

Joana: Você não está sugerindo que essas criaturas existam não é?Jhon: Essas "criaturas" são mitos, mas mesmo depois de descobrirmos que elas não existem ainda tínhamos medo.

Alice: Temos medo por que não tem nada lá?

Jhon: Não, o escuro nunca está vazio, ele retém tudo aquilo que nós negamos, fugimos e tememos, ele é uma coisa que não pode ser explicada.Todos voltam ao silêncio, Jhon permanece olhando pela janela quando Alice se levanta e caminha até a porta, apoiando-se na parede.

Alice: Adam, tem algum restaurante aqui perto?

Joana: Não acredito.

Alice: Faz muitas horas que nós comemos, podemos não estar sentindo fome agora por causa do medo, mas o nosso organismo sente e se quisermos sair vivas suponho que devemos estar nutridas.

Adam: Eu levo vocês lá.

Há poucos metros da fábrica Jhon avista algo no chão, ele pede para todos ficarem onde estão e se aproxima até ver o que parecia uma grande mancha de sangue e gordura envolta do rifle de Billy. Joana e os demais se aproximam da mancha, Adam se abaixa para pegar o rifle.

Joana: Essa arma não ajudou Billy.

Ele para e se levanta dando razão a mulher, em seguida Adam aponta para um prédio escuro dizendo que lá era o restaurante. Eles entram no restaurante que estava deserto, as mesas estavam postas como se esperando pelos clientes, Joana e Jhon vão a cozinha onde encontram o cozinheiro morto, a parte de cima de seu corpo estava caída sobre o fogão com uma panela de água tombada ao lado, a carne de seu rosto estava cozida.Jhon procura nas outras panelas e encontra comida crua.

Jhon: Vamos Ter que cozinhar.

Joana: Você é prendado.

Enquanto isso Alice se arrumava a frente de um espelho dentro do banheiro do restaurante, ela penteava seu cabelo enquanto admirava sua beleza, a luz da lua ilumina o ambiente através de uma pequena janela e Alice tem a impressão de ver uma ruga, algo escorre por sua testa, enquanto que outros postos de seu rosto começam a escorrer, seu rosto estava derretendo, ela grita de pavor. Jhon e Joana saem da cozinha de forma apressada e encontram Adam sentado em uma cadeira de costas para eles, Jhon o chama mas não ouve respostas, enquanto que os gritos de Alice ecoam pelo restaurante, Joana vai ao auxílio de sua irmã Jhon se aproxima de Adam, ao ficar bem próximo de seu colega Jhon percebe que ele estava morto, seus olhos haviam sido arrancados, das cavidades escorriam lágrimas de sangue.Dentro do banheiro Joana abraçava sua irmã que estava jogada no chão chorando e gritando cobrindo seu rosto.

Alice: Meu rosto! Meu rosto!

Joana: Seu rosto está normal, veja.Ela tenta levar Alice a frente do espelho, mas essa grita de maneira desesperada e se debate até conseguir se livrar de sua irmã, Alice corre para fora do banheiro mas é segura por Jhon, a garota cai no chão chorando com as mãos sobre o rosto.Joana surge no salão do restaurante ainda abalada, ela repara que havia uma toalha branca com uma grande mancha vermelha sobre o corpo de Adam. Nesse momento o nevoeiro penetra no restaurante e vagarosamente os envolve.

Jhon(gritando): Joana!J

oana(gritando): Onde está você?J

hon(gritando): Joana!

O policial tenta caminha em meio a bruma tentando seguir o som da voz de Joana ao mesmo tempo que segurava a mão de Alice, ele caminha lentamente arrastando Alice que chorava dizendo "meu rosto". Jhon caminha mais um pouco e percebe-se do lado de fora do restaurante.

Jhon(gritando): Joana!

Quando não ouve respostas ele corre para dentro do restaurante que estava vazio, ao virar-se ele vê Joana sozinha do lado de fora, Jhon vai até ela, os dois se abraçam.

As horas passam e eles continuam sentados no chão, um de costas para o outro com suas cabeças encostadas e de mãos dadas para que soubessem que estava tudo bem com eles.

Joana: Por que?

Jhon: "O sonho da razão produz monstros".

* Nome de um quadro do pintor espanhol Francisco de Goya.

FIM