Mestre dos Desejos - Bilhete á Eternidade

—Ai que ódio!—pensava enquanto me sentava no banco do calçadão. Eram nada mais que 6:15h da noite e nada de Pablo chegar.Peguei o telefone celular e disquei – três vezes seguida, pois sempre errava, tal era meu nervosismo. – o número dele...—Atende, atende, atende!Droga...Não atendeu...

Resmunguei, um pouco aborrecida pela frustração de não revê-lo. Pablo e eu estudamos juntos no fundamental e desde então, somos amigos. Só que já faz cinco anos que ele viajou, e agora que está de volta, nos desencontramos.

Envolta nos mais variados pensamentos, me virei e observei o luar, em sua plenitude.Magnífico como só ele e aos poucos, dei por mim, rindo da situação...

Quando de repente, senti que estava sendo vigiada, virei-me novamente e, sem ver ninguém me voltei para o luar...Foi quando uma voz chamou-me a atenção:

—está frio hoje, não?—um homem alto, de cabelos cor cinza e olhos castanhos misteriosos.A barba raspada levemente o deixava com um ar muito sensual e provocante...

—Ah, desculpe...—respondi, sentindo-me incomodada com aquele estranho que me abordara.O olhar dele parecia ocultar um segredo ao mesmo tempo, que me convidava para decifrá-lo.—Não entendi porque me perguntou isso, senhor...

—meu nome é Igor...Igor Manov.—enquanto falava, seus olhos penetravam cada vez mais fundo em mim.—quer um cigarro?

—não obrigado...Não fumo...

—Ah, tudo bem...Eu já devia ter parado...—ele acendeu um cigarro e jogou o maço de cigarros que restava fora.O maço por uma estranha coincidência caiu dentro da lata de lixo.—meu medico vive me dizendo pra parar de fumar...Ele jura que isso vai estragar meus pulmões.

—Ah...—falei sem emoção, não sabia o que eu tinha haver com esse assunto...Porque ele estava me dizendo isso?

—você está esperando alguém?

—Ah, não...Ninguém...—menti assustada com o rumo que a conversa estava tomando.Ele podia ser um maníaco disfarçado.Ultimamente, com tantos ataques a jovens nas ruas; Um maníaco que mata suas vítimas e as deixa em quartos de hotéis com apenas um bilhete ao lado do corpo e um beijo...O famoso beijo da morte.Eu devia mesmo estar me preocupando.

—então, o que uma jovem como você faz sozinha numa noite como esta?

—eu...Já estava indo. —Menti outra vez. Aquela conversa estava começando a me deixar assustada! Afinal, quem era ele? O que queria comigo? Porque fazia tantas perguntas? Eu não fazia idéia... O olhar dele havia penetrado em minha mente de tal forma que estava me impedindo de raciocinar direito.

Levantei-me, decidida a ir embora, mas ao passar por ele, fui envolta novamente naquela voz inebriante:

—você esqueceu isso...—e me apontou o celular, estendendo-o a mim...Respirei fundo, pensando se pegava ou não, tinha medo daquele contato, pois no fundo esperava que se tocasse nele algo de muito grave ia acontecer...

Mesmo assim, estendi a mão para pegar o celular da mão dele...

Quando dei por mim, estava num quarto mal iluminado...Apenas duas ou três velas, o que dificultava minha visão mais ainda...Fazia um esforço enorme para enxergar poucos detalhes ao meu redor, mais tudo o que conseguia ver era a porta, e ao lado da cama, uma janela com cortinas leves e esvoaçantes indo à direção de alguém...Alguém que estava caminhando em direção a ela...Alguém que ao perceber que eu havia acordado voltou-se na minha direção...

Minha cabeça doía demais...Por isso cheguei à conclusão de ter sido drogada ou embriagada...Tive mais certeza, pois meus lábios estavam rachados e a garganta seca.Tentei me levantar, mas meus braços e pernas estavam amarrados á cama de forma que não podia me mover direito.Não tinha forças nem ao menos para gritar, e tudo que conseguia era centrar meus olhos doloridos em imagens desfocadas.

Parei de lutar contra aquilo, quando ele se aproximou de mim com uma taça de vinho numa das mãos.

Ao sentir que algo ia acontecer, comecei a me debater na cama, enquanto lágrimas de medo escorriam de meus olhos...Inutilmente, pois ele se sentou em cima de mim e, segurando meu rosto firmemente, forçou-me a beber aquele líquido que eu vim perceber ao por na boca, que não era vinho e sim sangue, cuspi tudo nele, sendo retribuída pela grosseria com um tapa, dado com as costas da mão e bastante força, no lado direito do rosto.Gritei de dor e comecei a chorar, quando me dei conta da dor do corte feito pelo anel dele em meu rosto, que começou a sangrar em abundância, fazendo-o sorrir de um estranho prazer que o corrompia.

Novamente, ele me segurou pela nuca e dessa vez conseguiu me forçar a beber daquela taça.Comecei a tossir, mas já havia bebido.E como se sobre efeito daquela bebida, adormeci...

Mesmo sem enxergar mais nada, ainda podia sentir tudo ao meu redor...E tudo o que conseguia sentir eram sua língua lambendo o sangue que escorria de meu rosto e após isso, seus beijos despindo-me e depois me cobrindo de um Êxtase sem igual. Uma sensação que eu jamais poderia descrever...Aos poucos, ele foi penetrando fundo em mim e quando abri meus olhos, já lúcida perante o êxtase que circulava em minhas veias e reparei que a tonalidade de seus olhos mudara de um castanho cor de mel para pupilas banhadas á sangue...O meu sangue...

Então de repente havia entendido tudo: Aquele homem com quem naquele momento eu compartilhava, entre outras coisas, uma cama, Era um vampiro...E eu era uma presa em sua teia de veneno e prazer...Uma teia da qual eu não iria escapar viva certamente...

Olhei ao redor e percebi que não estava mais presa, e sim, abraçada a ele e ambos sentados naquela cama em chamas e ao mesmo tempo gélida, como as mãos de um vampiro...

Seus beijos me entorpeciam, ao mesmo tempo em que me faziam querer mais...Queria que aquilo durasse mil noites, e porque não, mil anos? Já que para um vampiro a eternidade era um dom tão natural...Porque não desejar para mim também aquela eternidade que ele, com o mesmo prazer que desfrutava de mim naquele instante poderia me dar.E em seu ouvido pedi, entre sussurros e gemidos o dom da “vida” eterna.

—sim...—ele respondia entre sussurros também, tão inebriado e sensível que nem parecia ser o mesmo que me forçara a beber daquele cálice...—bebestes do meu sangue, Cherry...A vida eterna já é tua...Só espera agora pelo “Grand Finale”.

—...Eu quero compartilhar da vida eterna...

—não pense, meu bem...Apenas sinta. A vida Eterna só foi feita para aqueles que sabem esperar...—E entre beijos, me deitou na cama cobrindo-me novamente de beijos, o que me fazia sorrir e gritar, tamanho desejo que ainda corria meu corpo cada vez que ele me tocava...

Já eram quase três da manhã, eles se levantava calmamente e olhou a janela...Dela para mim, que descansara quase adormecendo na cama, entre os lençóis de seda que foram testemunhas de toda aquela urgia que nos dominou...Voltando-se para mim, caminhou até os pés da cama e me chamou docemente:

—Sarah...?

—Hã?—abri os olhos parecendo uma menina que acabava de acordar de um sonho bom. Sentei-me na cama enquanto ele se aproximava e se enroscava entre os lençóis feito uma criança, brincando pela primeira Vez...

De repente ele se levantou e, me puxou em seus braços...Abraçando-me.

—meu amor...Está chegada a hora.

Sorri enquanto ele me envolvia em um beijo suave como uma despedida e caliente como um convite...Um convite para a vida eterna...

E desviando seus lábios dos meus, cravou seus caninos afiados em meu pescoço como se a noite inteira estivesse esperando por isso...E sugando, quase que completamente, meu sangue. Deu-me um ultimo beijo e largou-me ali, naquela cama de um hotel desconhecido, Agonizando até que a morte viesse silenciar minha vida.

Ao lado de meu corpo, um bilhete escrito com meu próprio sangue:

“Um convite á eternidade”.

Doce criança que sacia sua fome

Fazendo dos homens animais

E envenenando-os

Com o delicioso sabor do prazer...

(mestre dos desejos)

Alishah di Jaffet
Enviado por Alishah di Jaffet em 01/04/2006
Código do texto: T132140