LUIZA, ... A ESCOLHIDA.

Naquela manhã, Luiza chegara cedo para o trabalho, abriu a porta como de costume, entrou e foi para o quarto,
arrumou-se e quando voltou, foi direto à cozinha...
Um grito estridente e a perplexidade de Luiza, quase a levaram ao chão...
Alí diante de seus olhos, mergulhado numa poça de sangue o velho de quem cuidava e para quem fazia os trabalhos domésticos.
Ele era um ancião de 73 anos, sozinho, e agora...Alí no chão com 2 perfurações de faca no pescoço e o crânio amassado.
Luiza teve ímpetos de sair correndo, mas, na mão do ancião tinha algo...
Meu Deus...disse Luiza...será que vejo o que é?
Lentamente baixou-se, introduziu o dedo indicador no meio da mão fechada da vítima, com custo abriu-a...
Patuás...Mas...mas...balbuciou Luiza....Patuás?
O que faz com estes patuás na mão, ele não era uma pessoa que acreditasse em sorte, por isso Luiza achou estranho.
Nada naquela casa denunciava qualquer envolvimento daquele ancião com magia negra, nem ao menos com terreiros de Candomblé ou Umbanda...?
O que seria aquilo?
Já recomposta, foi ao telefone e chamou a polícia.
Uma hora após o IML recolhia o corpo do homem, o patuá e fazia buscas ao redor da casa, nada, somente marcas de uma bota nos fundos..
Ora, as marcas de uma bota na terra é um indício muito superficial para ser considerado.
A tarde. Luiza voltou até a casa, para a limpeza, depois que liberaram o local.
Ela dava a ultima passada de pano, no banheiro, quando um arrepio lhe gelou a espinha, sentiu perfeitamente um leve vento gelado passar-lhe no pescoço...
Levantou olhou para trás, nenhuma janela aberta, terminou o trabalho no banheiro.
Na cozinha, respingos de sangue na pia da cozinha, lhe deixou em dúvida sobre a limpeza...
Luiza ja ouvira falar de espiritos que ficavam onde moravam por muito tempo, e lhe passou pelos
pensamentos o perfil do ancião a lhe sugestionar ao desespero, mas acalmou-se.
Luiza, imaginou:
___Nunca eu vi nada que indicasse nele, algo mal, a meu ver era um homem bom, concluiu.
Todas as partes da casa Luiza limpava, todas sem excessão, e ela sabia não haver mais nenhuma parte naquela casa.
Terminado o serviço, Luiza ja trocava de roupa em um quartinho quando ouviu perfeitamente lhe chamarem...
No exato instante em que puxou a descarga do banheiro, entre o barulho, ouviu...Luiiiiza...Luiiiiza.
Não ficou perturbada, era normal que tivesse tais impressões, afinal alí tinha morrido um homem, há poucas horas, fechou a casa e foi embora.
Durante as próximas noites Luiza teve pesadelos, insônias, acordava no meio da madrugada e não podia mais dormir.
Numa dessas noites, resolveu ir para a frente da casa pra ver se via algo.
Sentada em um banco, numa praçinha em fente a casa, olhava-a de frente...Como a pedir uma resposta.
O óbvio ela sabia, mataram o ancião, mas porque? Perguntou-se diversas vezes sem resposta.
Pensou também do porque de ter a impressão de que o velho ancião a chamava...
Pensou e decidiu, iria mandar rezar uma missa, talvez o espirito dele precisasse disso.
Já eram 2 horas da madrugada, o céu estava claro, a lua cheia nas suas costas clareava em cheio a casa.
Luiza estava de cabeça baixa, colocou-as entre as mãos, esfregou-as contra o rosto, levantou a ainda entre elas e deslizou-as para trás com o olho fechado...
Quando abriu os olhos, na janela que era do velho ancião as luzes estavam acesas...
Um arrepio desesperador a pôs de pé, mesmo vacilante, teria que ir ver o que era, aproximou-se da casa...
Chegou a dois passos, para ver se ouvia vozes...Nada, apenas a luz...
Iria entrar, decidiu. Mas e a chave? Deixara em casa, andando de costas, foi se distanciando da casa, ja no meio da rua correu.
Chegou em casa, pegou a chave e como teria que dobrar uma esquina, perdeu de vista a casa do falecido ancião.
Quando novamente tinha a casa em sua vista, a luz...Estava apagada!
Diminuiu o passo, sentou novamente no banco em que estava, e olhou e pensou: Vou entrar...
Vagarosamente caminhou para a casa, e quando abriu o portão, uma viatura policial estacionou atrás dela.
Bom dia dona Luiza, cumprimentou o policial.
Era uma mulher contra a qual nada recaía, insuspeita, os policiais apenas perguntaram...
É bom olhar sempre a casa não é dona Luiza?...
Sim, sempre é bom...Respondeu ela.
Mas Luiza viu ali naqueles policias a segurança que precisava, pediu para eles a acompanharem, para dentro da casa, aceitaram e entraram...
Nada de anormal, em nenhum cômodo da casa, tudo estava perfeito.
Luiza agradeceu os policiais e voltou à sua casa.
Ao entrar no portão, um flash de luz cruzou seu caminho, ficou paralizada, e como o fenômeno não se repetisse,
entrou na casa.
Durante muitas noites, ela observou a casa, nunca mais viu nada.
8 meses depois, enquanto Luiza iria procurar atendimento médico numa madrugada, a duas quadra viu aquilo...
Aparentemente, atraves da neblina ela vira o ancião...
Aproximou-se...aproximou-se, e a 1 quadra o ancião entrou na casa...e segundos depois a luz do quarto acendeu...
Luiza pensou: Fiz tantas coisas pelo espirito dele...Com certeza lhe falta algo, concluiu.
Como tinha a chave da casa, porque começaria trabalhar logo cedo, muniu-se de coragem e entrou na casa.
Colocou a chave na porta, girou, olhou mais uma vez para os lados, na esperança de ver alguém para ajudá-la, mas ninguém...
Entrou...Olhou a sala, a cozinha, o banheiro e somente a luz do quarto do ancião estava acesa...
Luiza encostou o ouvido na porta, e quando entrou...
Por uma parte dobrada do grande tapete do quarto do ancião, viu Luiza uma delgada rachadura...
Acompanhou-a, em V, ela terminava no tapete, e ao erguer, observou Luiza, que era na verdade
a tampa fixada no chão.
Com esforço, abriu-a, no subsolo daquela casa Luiza jamais tinha visto tantas peças de ouro, correntes, moedas espanholas antigas, e numa pequena mesa, com uma cadeira ladeando-a, fotos e papéis com timbres de cartórios...
Luiza pegou a cadeira e sentou-se, leu cada um dos papéis, olhou cada foto..
Na manhã, acompanhada de um juiz, de um policial, Luiza, olhava com eles os papéis...
Enquanto a justiça atraves de seus servidores juntavam e catalogavam cada papel ou objeto, o juiz olhou Luiza e lhe disse:
Este papel fica comigo, e esta foto também.
Jamais o homem que estava naquela foto estivera naquela casa, era apenas um conhecido que tirara fotos com o ancião no Natal do seu bairro, e mostrava ele sentado com a sola de sua bota para a câmera...E no pescoço um patuá...
O juiz encostou a mão no ombro de Luiza e lhe perguntou:
___Quando pretende tomar posse de seu tesouro, Luiza?
___Eis o testamento que o ancião te deixou...



Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 18/05/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1601158
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