O OLHAR DOS MORTOS

O som vindo daquele pedaço do inferno era confuso, aqueles becos cheiravam a morte, lá embaixo a cidade e mais ao longe o mar claro, devido a iluminação pública que avançava sobre ele.
Em um terreno baldio bem no alto da favela o festim da morte tinha oferecido o espetáculo daquela noite.
Ao lado um do outro, 6 marginais, observavam o crepitar das últimas chamas daqueles pneus, dentro deles havia gritado de dor o jovem Damião, uma simples vítima das drogas. As cinzas brancas daquela criatura, misturadas a cinza preta dos pneus iria desaparecer quando a chuva que se avizinhava descesse sobre a terra.
No rosto de cada um dos 6 homens a morte tomava contornos de brincadeira, por isso antes de saírem do local, descarregaram suas armas para comemorar a morte do inimigo.
Minutos antes, esse inimigo tinha sido capturado nas imediações da favela, amarrado e levado ao
alto para o que chamavam de sacrifício...
Dos 6 homens 1 deles estava condenado a morte, pois contaminara-se com o virus da AIDS e não demoraria para morrer.
2 meses se passaram desde o assassinato, num quarto, sozinho e agonizante aquela vítima da AIDS tinha alucinações, não raro via a fogueira onde ajudou a queimar o inimigo vivo, descer sobre seu leito, e a figura do falecido a chamá-lo...
___Cassio...Cassio...Voce ouviu minha voz naquele dia...Venha, está na sua hora...
Os gritos roucos do moribundo, não eram dignos de crédito pois, pensavam, está delirando pra morrer...
Mas era a morte que lhe veio buscar...
No momento da morte, os outros 5 amigos seus estavam a seu lado, mas não podia falar a eles
sobre a tortura que os esperava.
Na saída da favela, havia um túnel, onde numa manhã, sentados, Julio e Marcos, 2 dos 6 assassinos, observavam a entrada dos seus domínios, e sem mais nem menos de uma distancia de 50 metros, viram descer uma enorme pedra em direção a eles.
Por um triz não foram atingidos...Mas a pedra acertou em cheio um barraco de um amigo deles,
apressaram-se para ir ajudar...La dentro do barraco alguém os chamava insistente..
Juuulio...Marcoosss, socorro...
Romperam 2 ou 3 tábuas da entrada da casa e entraram, tudo era muito frágil dentro daquela casa, tudo ruiria com certeza, retiraram uma camada de terra, mais um guarda roupa, quando ouviram os primeiros estalos, e quando por fim conseguiram chegar ao amigo, quando suas faces olharam o amigo, ficaram brancos e com os olhos esbugalhados...
___Você??? Mas você...Meu Deus...
Logo depois 8 toneladas de escombros, terra e pedras sepultaram os dois marginais.
1 semana depois o sol já brilhava e a beira mar, 2 homens  que ajudaram cometer o horrendo crime, passeavam de moto na praia, nada lhes parecia diferente ali que tantas vezes tinham visto, a não ser aquelas máquinas ao lado da avenida fazendo reparos.
2 horas da tarde, a praia estava lotada, os 2 amigos sentados um banco próximo, observavam
os banhistas, seus carros e principalmente o que levavam na mão...
O brilho daquele mercedes chamou a atenção, quando foi estacionada a 10 passos deles...De longe olharam e analisaram...
___1 só, vai ser mole, vamos dar uma geral no carro.
Mas recuaram, aquele homem, estava vestido, com certeza não ficaria na praia...
E deu-se exatamente isso, 1 minutos depois o dono do carro voltou...
Aproximaram-se...
Quando o motorista olhou para o lado, o longo cano da arma do bandido, o fez tirar os braços do
volante e abrir a porta.
___Aí chefe, dirija com cuidado para sua casa, camarada.
O outro comparsa, entrou do lado do caroneiro e aquele que apontava a arma entrou no banco traseiro.
Pelo retrovisor interno, o bandido não acreditou no que via...Sim era ele...
Quase sem reação, após verem a sua vítima sem os óculos, apenas balbuciaram...
___O que voce quer? Diga pelo amor de Deus, diga...
As portas travadas aumentaram o desespero dos bandidos...
___Vim buscá-los como prometi...
Acelerou violentamente o mercedes e a 200 metros dali a lâmina de uma das carregadeiras que estava a 1 metro do chão, funcionou como uma faca na água, dividiu em 2 o mercedes na horizontal, dividindo ao meio cada bandido.
12 litros de sangue jorraram das ferragens num espetáculo tenebroso para um público de pelo menos 1000 pessoas.
Para a bandidagem, que estão em guerra constante, os homens mortos pelo seu lado pouco significam, são baixas que rapidamente se repõem, numa roda de vida e morte intermitente, e aquelas 5 mortes nada significavam, e até porque foram ao ver de todos fatalidades sem retrocesso.
Naquela noite, Naldo que era chefe de um bando, soube no seu barraco que havia perdido 7 homens, 2 além dos 5 que o ajudaram a matar aquele inimigo no alto do morro.
Abriu a janela do barraco, olhou a imensidão da cidade, o morro acima de onde estava,  levantou...
Caminhou uns 4 passos, pegou seu fuzil, e disse:
___Vou dar umas voltas por aí...
Quando deu por si estava perigosamente nos limites de seu território...Quando fez um gesto para voltar, o tiro seco de uma espingarda de cartucho, estraçalhou um pequeno arbusto ao seu lado...
Engatilhou a arma, e escondeu-se atrás de um muro, e ja visualizava sombras na esquina, teve ímpetos de sair na rua e metralhar os inimigos, mas esperou...
Quando os inimigos estavam a 10 metros dele, deu um passo fora da proteção do muro, levou a arma em direção aos homens que o perseguiam, puxou o gatilho...
Uma...duas...tres vezes...
8 bocas de fogo do inimigo lhe estraçalharam o corpo...
Quando a bruma que começou a cobrir sua visão na hora da morte, apareceu, diante dele saindo de longas labaredas, o homem que ele havia matado no alto do morro, lhe disse:
___Pronto, chegou a sua hora...E derramou sobre ele um punhado de projéteis...

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 20/05/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1604836
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