VISÕES DO INFERNO

Os rastros de sangue no chão tingiam de um vermelho vivo o asfalto daquela pequena rua sem saída, ladeada por antigos prédios, na entrada fitas de bloqueio, e dezenas de viaturas policiais margeando as sarjetas.
O silencio absoluto escondia de um lado  as carabinas de repetição e de do outro, entrincheirado em uma pequena viela John Trenski, o mais violento arrombador de bancos, neste momento ele estava com uma pistola na mão e enlaçada em seu braço esquerdo, uma garotinha de pouco mais de 11 anos, refém do bandido.
Estava ferido, com a perna esquerda amortecida pela perda de sangue, e era aguardado no inferno...O caminho estava preparado por centenas de miras telescópicas de atiradores de elite, seria questão de tempo.
A visão de John era difusa, enevoada pela fraqueza.
Por vezes afastou o corpo da menina, e sob o impacto do susto, voltou a agarra - lá de novo.
15 horas, 9 horas depois do começo da perseguição, John, num momento de desatenção pela visível fraqueza, sucumbiu, com 3 tiros na nuca e dois na lateral do crânio.
20 minutos depois o IML retirava o corpo do marginal e o levava para o legista atestar a morte.
Numa imensa sala, impecavelmente branca o corpo foi colocado sobre uma mesa de mármore, e coberta com um lençol.
Dr. Charles e 2 assistentes do sexo masculino trabalhavam no local.
Esta rotina lhes era familiar há mais de 6 anos, mas de uns tempos para cá ja não se sentiam tão a vontade naquele setor, pois os três vinham acreditando piamente que havia principalmente a noite, barulhos estranhos, estalos e na área do congelamento de corpos, gemidos e gritos.
Atestado por um psicólogo o stress como causa das alucinações, descansaram 1 semana e agora estavam de retorno ao trabalho.
A chuva e esparsos relâmpagos, passavam flashes de luz sob o branco lençol do extinto bandido.
Mas o exame teria que começar...
21 horas, a chuva cessara, mas os relâmpagos ainda eram visíveis, através da janela de vidro.
Dr. Charles, aproximou-se da janela, e olhou do seu 3º andar lá embaixo no jardim, as luzes, respirou fundo,
voltou para perto do cadáver e disse aos assistentes.
___Podemos começar...
Era claro nos olhos e nos movimentos que Dr. Charles e os assistentes eram a versão palpável do horror, mas era o seus trabalhos teriam que fazer.
O crânio do bandido, foi esquadrinhado milimetricamente e definido exatamente os pontos atingidos pelos disparos.
O silencio noturno foi quebrado pelo zunido do bisturi elétrico que abriu John, de cima a baixo, tórax e abdômen...O suor abundante dos assistente, mereceu o olhar do Dr. Charles e a exclamação...
___Tenham calma, será rápido.
Vísceras foram retiradas, examinadas recolocadas e após isso, as suturas cirurgicamente feitas pelo doutor, deixava apenas uma pequena abertura, para a drenagem até o enterro.
Nos membros inferiores, a coxa do bandido, estraçalhada por um tiro de fuzil, apresentava uma ferida horripilante,
a qual foi examinada e também suturada pelo médico legista.
Terminada a tarefa, 2 horas de trabalho.
O corpo iria ficar no IML, sob os cuidados dos assistentes até a manhã, depois entregue aos familiares.
Antes de se recolher aos aposentos, o médico embalsamou precariamente o corpo, a base de formol,
e recolheu-se, eram 23:45 min.
Os assistentes de acordo combinados, cada um ficaria 2 horas de plantão, ao lado do alojamento, mas com inteira visão do corpo.
00:45 min da madrugada, entre sonolento e assustado, o assistente mais novo, o primeiro a tirar o plantão,
acordou de pequeno cochilo e traído por sua visão, viu o lençol do bandido, mexer-se, com o coração disparado,
um gelar na espinha e os olhos arregalados, levantou-se.
Andou uns 3 passos para a frente, passou por trás de uma pilastra no meio da sala, e quando retornou a visão para o defunto...
Os relâmpagos iluminaram o ambiente e lhe deram a impressão, que o corpo se movia, colocou as duas mãos no rosto, voltou-se,  instintivamente correu até a cozinha, pegar uma longa faca que tinham para cortar pão.
Na cabeça daquela pobre alma assustada, o bandido estava vivo e iria matá-lo.
De posse da arma foi sentar-se na cadeira, mas já tinha nos olhos, a sentença de servidão que a loucura impõem a perturbados mentais.
Qualquer barulho era motivo de alerta para ele, para assegurar de que estava mesmo protegido, pegou o
bisturi elétrico e o deixou a postos, numa mão a faca noutra o bisturi.
01:10 min da madrugada, o assistente, levantou e olhando para os lados, foi ao banheiro.
Terminada a necessidade, puxou a descarga, mas quando descia o fio que aciona a descarga, percebeu um ranger de portas, e após o barulho do descer da água, apurou a audição para ver se escutava novamente o ranger...
1...2...3 min, Nada, quando ia abrir a porta para sair do banheiro, simultaneamente pelo lado de fora, seu parceiro também abria...
A faca de
35 cm de lâmina, transpassou o corpo do outro assistente, e na cegueira da loucura, ele retalhou o amigo com facadas mortais, a sua mente não era mais sua, os seus movimentos não eram mais seus, a loucura que o levou àquele estado dominava agora o seu corpo, transformando-o em uma maquina de matar, agia por um motivo, a preservação, de si mesmo.
Arrastou aquilo que via agora como inimigo e jogou dentro de um Box, embaixo do chuveiro.
Rapidamente, com a faca e o bisturi em punho, saiu e foi para o salão, sua mente conturbada, imaginava agora que o perigo não estava mais sobre aquela mesa, mas em todos os lugares.
Encostado na pilastra ele tinha atrás de si o quarto do médico e o alojamento dele.
O Dr. Charles, levantou na madrugada e foi ver seus rapazes.
Quando abriu a porta, nada viu, caminhou no salão a procura de alguém e nada, pensou...
___Deve estar no banheiro ou cozinha.
Lentamente, no andar de seus 60 anos, com as mãos cruzadas nas costas, caminhou até a janela, afastou a cortina, de maneira a colocá-la nas costas e ficou observando os relâmpagos no céu.
Minutos depois ouviu um pequeno zunido, e 1 segundo depois, entrar pela sua cervical, na altura do pescoço,
a lâmina gelada e furiosa do bisturi, e ainda vivo sentiu ele descer e partí-lo ao meio, numa chuva de sangue sob a cortina branca.
Apenas um gemido, e o ranger de dentes do assistente, que a loucura dominara.
Passou o assistente várias vezes ao lado do corpo do bandido, mas em nenhuma vez, retirou o lençol para olhar, mas a demência deu a ele a coragem necessária para tal...
O ato foi definido, mas as conseqüências do ato foram um desastre.
O limite da coragem estava no levantar o lençol, após isso a ilusória coragem, o levou ao cadafalso da morte.
Ao olhar o cadáver, teve a exata impressão que este levantava-se e lhe estendia a mão...
Girou o corpo paro o lado da janela, correu e como uma flecha, voou sobre a janela de vidro, perfurando-a
e com um longo grito foi espatifar-se lá embaixo no jardim...

Malgaxe

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 05/07/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1683903
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