A Semente

FINAL

Já era noite naquela casa, onde vivia uma família feliz, em um dos quartos havia uma garotinha com cachos dourados e olhos azuis de cinco para seis anos que acorda acorda confusa no meio da noite, ela usa uma lanterna para iluminar seu quarto, num misto de curiosidade e medo a garotinha levanta-se da cama, sai de seu quarto e desce as escadas, sempre amparada pela sua lanterna. assustada ela entra na sala de estar onde uma estranha planta de quase dois metros projeta sua sombra ficando ainda maior, a garotinha está com medo. Mas também é curiosa, ela aproxima-se da planta. Esta dobra seu caule aproximando seu botão do rosto da garotinha. A planta afasta-se rapidamente abrindo suas pétalas, um cipó saí de dentro do botão aberto daquela estranha planta, envolvendo a garotinha sugando-a para dentro de suas pétalas onde a devora.

INÍCIO

Eduard estava na fila do caixa em uma loja de conveniência ao lado de seu amigo Marco, quando finalmente é atendido Eduard recebe o troco, ele olha com desdém para uma caixa de doações onde deposita todo o troco. Eduard sai ao lado de seu amigo que estava intrigado.

- Por que você fez isto?

- Fiz o que?

- Colocou o troco naquele cofre se você não queria?

- Simples, alguém tem que sustentar estas pessoas.

- Impressionante, eles já podem colocar seus filhos na faculdade.

- Sem sarcasmo.

- Você pode ser responsável por formar o médico que curou o câncer.

- Acontece, meu amigo, que só você se importa. O governo, eu, aquela mulher do caixa e até você. O que queremos é nos livrar da responsabilidade.

- Eu concordo que as ações sociais do governo visam mais o assistencialismo do que a ajuda propriamente dita. E quando o auxílio é constante a pessoa perde a vontade de conquistar por sim mesmo e passa a depender do governo.

- Virou sociólogo?

- Agora é você quem está sendo sarcástico. é você. O que eu quero dizer é que você não precisa ser igual a todos os outros.

- Vamos almoçar ou não?

Alguns minutos depois os dois amigos estavam em um restaurante como qualquer outro no mundo, em uma esquina que poderia pertencer a qualquer metrópoles do mundo. Eduard almoçada distraído como sempre, sem perceber uma pequena semente dentro do bolso de seu paletó. Já Marco parecia concentrado em alguma coisa que só ele sabia o que era. Em fim marco resolve falar:

- Sabe, nós vivemos na era da indiferença.

- O que? De que merda você está falando?

- Da nossa conversa, lá na loja de conveniência.

- Ainda pensando nisto?

- Pense comigo - nos dias de hoje as pessoas querem saber delas mesmas...

- Quer dizer que somos egoístas?

- Sim, quer dizer não. Não sei, é uma caracteristica contemporânea. Escute: Pensamos muito em nós mesmos, eu me incluo nesta, e você sabe que nosso mundo é desigual.

- Onde você quer chegar?

- Existe uma tendência a nos sentirmos culpados por temos muito e outras pessoas terem tão pouco. O que é um absurdo ter uma situação estável e ajudar sua família não é motivo para nos sentirmos constrangidos. Então o que você faz? Coloca seu troco em uma caixa de moedas para amenizar a culpa.

- Bobagem.

- É a máquina do assistencialismo.

- Não, é uma bobagem.

Eduard levanta-se irritado e vai embora achando que seu amigo está louco. Mas o que ele não percebe é que a semente em seu bolso começa a germinar.

MEIO

A Semente cresce em meio a desabrigados que catam lixo para sobreviver, as mães carregam seus filhos nas costas enquanto reviram sacos pretos.

Na África crianças choram em meio a seca e animais mortos, agora a semente é uma pequena muda.

Um carro estaciona ao lado de um casal gay, de dentro deste saem quatro pessoas mascaradas que começam a espancar o casal.

Eduard ainda estava caminhando sem perceber que seu bolso possuía uma muda, onde o caule começava a despontar em um pequeno botão, ele havia voltado para a loja de conveniência onde tudo começou, ao olhar para dentro repara que a mulher do caixa era estrangeira dele, logo Eduard começa a reclamar consigo mesmo.

- Tinha que ser, esta gente vem aqui estragar a minha cidade.

Ele segue andando quando um morador de rua aproxima-se, mas logo Eduard o afasta.

- Vê se arruma um emprego.

Eduard vai embora deixando o morador desamparado, mas este logo é consolado por um político que sorri amavelmente para o morador de rua.

- O mundo o maltrata. Lhe vira as costas, o ignora, o ofende o maltrata. Venha comigo. Eu posso ajuda-lo.

O morador de rua segue com o político, este mostra mais desabrigados chafurdando na lama em busca de comida, o político empurra o desabrigado para juntos dos demais onde uma coleira envolve seu pescoço. O político estava de braços abertos sobre um palanque - na forma de uma estrela vermelha.

- Tudo o que vocês quiserem, mas sem exagero desde que eu tenha a sua lealdade.

Atrás do político a planta estava crescendo.

No Iraque um homem chora com uma criança morta em seus braços.

Nos EUA um professor negro é preso ao tentar abrir sua porta que estava emperrada.

Na Irlanda Crianças católicas são agredidas por adultos ao tentarem ir para a escola.

Na Espanha ocorre um novo atentado terrorista.

Na China um monge medida em praça pública carregando uma placa "Tibete Livre" e é espancado pela polícia.

No Brasil uma menina tem sua pele queimada por uma colega de classe que tinha inveja de sua beleza.

Cada uma destas imagens é uma pétala da planta, esta agora não cabia mais no bolso de Eduard, ela estava em sua casa, mas o homem não consegue vê-la, não consegue sentir seu perfume, não consegue tatear sua folha. Ao chegar em casa Eduard ignora a planta mas ela está lá. A filha de Eduard também, garotinha com cachos dourados e olhos azuis de cinco para seis anos corre para os braços do pai abraçando-o.

A noite Eduard coloca sua filha para dormir, ele está tranquilo com a planta em sua sala de estar, mas sua filha não. Ela não sabe o por que, mas sente que alguma coisa está errada.

FIM