Porta para Libertação

Porta para Libertação

Robert Enmyer baixou a arma, sentindo-a quente após tantos tiros. Olhou em volta, para a grande sala cujas paredes estavam cobertas por imagens demoníacas e escritas em uma mistura de hebraico e cuneiforme que o espantou. Nunca vira algo escrito daquela maneira. Viu um dos companheiros andando para a direção do altar, enquanto os outros contavam as baixas. Passou sobre um dos cadáveres que ele mesmo jogara naquele chão agora coberto de sangue. Foram três balas. Cansado, o guerreiro andou até o altar, desviando-se de pelo menos mais três corpos. Do outro lado, três dos colegas acuavam alguns sobreviventes. Robert não deu atenção, mas sua mão apertou a pistola mais firmemente. Deveria ter pelo menos mais três balas.

Aproximou-se de James Cand em frente ao altar. Imagens demoníacas e blasfemas estavam espalhadas, algumas na forma de criaturas obscenas que seguravam grandes pratos. Eram três e uma tinha o recipiente cheio de sangue. Era sangue humano.

- Quantas vítimas, Cand? – perguntou o guerreiro.

James olhou-o cansado, porém animado. Apontou para seis pessoas sentadas chorando no canto, depois do altar. Uma companheira estava se aproximando calmamente para avisar que estavam salvas. A Companhia Luterana da Benção de Christos estava ali. Nenhum dos cultistas os atormentariam mais.

Robert olhou para as vítimas com um sentimento ruim abatendo-se sobre si. Eram duas meninas, dois meninos, um adolescente e dois adultos.

- Salvamos todos? – Robert perguntou. Não havia nem sequer traços de esperança na voz dele.

- Não... – James apontou, levando-o para o outro lado do altar. Havia três corpos cortados. Todos pálidos. Haviam sangrado até a morte. Robert se abaixou para verificá-los. Tocou a pele fria e ficou parado, sem dizer uma palavra. Parecia que nem respirava. Ouviu uma das crianças gritarem e um dos adultos agradecerem pela ajuda.

Allana Vilkins se aproximou deles para o relatório da batalha. James ainda estava de pé, quase como um guarda-costas do amigo. Vilkins esperou autorização, a qual foi dada por aceno de cabeça de Cand.

- Onze cultistas mortos, senhor. Três sobreviventes, provavelmente de baixo escalão. Não devem saber nada.

- Ótimo. Esse foi o terceiro culto de destruímos esse mês. Graças a Deus, estamos progredindo – disse James, animado. Ele nunca se abatia e se estava triste simplesmente orava para recuperar o humor.

- Baixas? – perguntou Robert, levantando-se.

- Perdemos quatro dos nossos, senhor. Truschner, Benczak, Smith e Mueller.

- Uma pena. Bons soldados. Que Deus os tenha – disse Cand, fazendo uma oração respeitosa.

- Limpem tudo e vamos sair daqui – disse Robert.

- E os sobreviventes, senhor? – insistiu Vilkins.

Robert caminhou até eles. Três balas. Não era coincidência. Três balas. Afastou dois dos companheiros e olhou para os cultistas. Agora havia medo nos olhos deles. Com certeza antes sua expressão era de júbilo e sede de sangue. Robert lembrava-se dos nomes que eles gritavam quando chegara. Dekel Basemath, liberte-nos e nos traga a salvação. Eles autoflagelavam enquanto preparavam a cerimônia.

- Que Deus os perdoe. Que o Diabo os receba – disse Robert, para o susto dos companheiros. Três balas, três tiros, três gritos, três crânios furados.

Ninguém questionou nada. Quando tudo estava pronto e limpo, eles saíram. Os membros reservas da Companhia ajudaram no processo e levaram as vítimas para um local seguro onde receberiam apoio psicológico antes de serem devolvidas para a sociedade. Robert entrou no carro com James para voltarem para a base.

- Foi ótimo, Robert. Conseguimos salvar seis pessoas! Seis inocentes salvos dessa barbaridade.

O carro tomava a rodovia e seguia livremente. Robert olhava pela janela.

- O terceiro culto apenas esse mês – disse, sem ânimo.

- Isso não é bom?

- Eles se espalham como praga e ainda não encontramos o sacerdotes ou o mago que está os iniciando, James. Éramos 21 no início do mês, hoje somos 11, contando com os reservas, James. E ainda não encontramos o sacerdote – disse ele, desanimado.

- Todos eram pessoas dispostas a dar a vida em prol da causa, Robert. Eles sabiam do perigo e preferiam morrer lutando pela luz a permitir que esses cultos se espalhassem.

- E quando todos morrerem? Quem mais está disposto a morrer por isso? Matamos catorze deles hoje. Se somarmos todos que eliminamos no estado, sejam mortos ou presos, temos pelo menos 30. Em um mês...

- Robert... sobre as mortes... eu acho que matar não resolve. Não estamos bem para...

- Eu sei – Robert interrompeu. Estavam ultrapassando um caminhão e o caminhoneiro acenou para ele, cumprimentando gentilmente. – Estou cansado, James. Isso não acaba... Crianças são sacrificadas, virgens violentadas e tudo continua. Nada pára.

- É uma provação... mas estamos passando por ela, meu amigo...

- Eles também morrem por essa causa absurda como nós morremos pela nossa... – continuou, sem notar as palavras do amigo. – Nem quando estive no Iraque vi coisas assim durante os atentados. E lá eles nos viam como vemos esses cultistas... E como os cultistas nos vêem...

- Como a espada vingadora de Deus...

- A espada parece estar cada dia menos afiada. Acho que ele deveria afiá-la...

Robert respirou profundamente e retirou o cinto de segurança. James o observou intrigado até ver o amigo levantar o pino.

- Eu estou cansado. Prefiro ir do meu modo a acabar como minha família, morta durante a noite ou como amigos nossos,m loucos em um sanatório.

Então ele abriu a porta e se jogou para fora. James tentou segurá-lo, mas era tarde demais.No carro atrás deles, Vilkins vinha com as vítimas e elas olharam aterrorizadas o corpo de Robert ser atropelado e torcido pelo caminhão. O sangue manchou a estrada e espirrou no carro. Um pedaço de um membro bateu no parabrisa enquanto as pessoas gritavam vendo que o terror ainda não acabara. Não acabava nunca.

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