TRANSFORMAÇÃO

A noite está fria. Recordo o dia do incidente. Caminhava eu pela única estrada que dava ao sítio em que morava. A lua brilhava alta e eu me perguntava se já havia vivido de tudo. Mal sabia eu que ainda tinha muito para ver e viver.

Naquele dia me sentira cansado e quando a noite baixou seu manto de estrelas, olhei o céu com um encantamento diferente. A lua me fascinou como nunca antes havia feito. Segui pela única estrada pois estava cansado e necessitava de repouso. Já estava há 3 kilometros de casa quando ouvi uivos. “ isso é impossível” pensei eu afinal, não havia lobos na região. Segui a estrada, queria chegar logo em casa. Quando abri a porteira, um arrepio estranho tomou conta de meu ser. “bobagem” pensei “o que de estranho pode ter ou estar acontecendo?” coloquei a chave na porta e sem que eu desse o primeiro giro, ela se abriu. Não acreditei no que via. Sala revirada e a porta de meu quarto com estranhos arranhões. Respirei fundo provavelmente eu havia esquecido de trancar a porta e o vento poderia tê-la aberta , um animal entrado depois saído e o próprio vento teria fechado a porta. Isso era uma explicação lógica “acreditei” eu.

Embora minha convicção , quanto a lógica , não fosse efetivamente convincente para minha própria pessoa, resolvi não ficar pensando muito assim, não daria asas a minha imaginação. Organizei a bagunça toda, verifiquei as travas das janelas e porta e sentei-me em minha poltrona predileta com o livro de contos de Edgar Allan Poe em mãos. Adormeci.

O relógio badalou 23 vezes e, sobressaltado, levantei. Podia ouvir lobos uivarem no alpendre. “Isso não deve estar acontecendo. Devo estar dormindo ainda achando que estou acordado” foi o que pensei naquele momento mas, por via das dúvidas, apanhei o rifle e abri a porta.

Havia uma matilha fora de casa. Dei dois passos e não consegui puxar o gatilho. Olhei para o céu e lá estava ela. Aquela magnífica Lua Cheia me chamando.Um vento gélido bateu a porta atrás de mim e sai daquela espécie de transe. Pavor foi o que senti. . .

Lembro-me de ter acordado, já de madrugada, com aqueles lobos lambendo meu rosto. Fiquei paralisado mas , estranhamente, não senti medo. Olhei meus braços e vi pêlos, minhas mãos transformadas... Eu era um deles. Soltei um uivo com toda força de meus pulmões.

Isso aconteceu há 15 anos atrás. Não sei explicar como, sei apenas que, por alguma razão, sou um amaldiçoado e, sempre que a Lua Cheia enfeita o céu com sua majestosa luz prateada, me transformo em lobo não respondendo pelos meus atos.

Da matilha, sou o líder. Da Lua, o escravo.

Denize Nelli
Enviado por Denize Nelli em 17/09/2009
Reeditado em 01/04/2013
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