A Ultima Estação

Lila corria pelos corredores vazios do metrô o som metálico das portas automáticas abafava o ruído de seus saltos batendo contra o piso da estação, como se não bastasse os saltos, sua roupa - um conjunto de Blazer e saia - a impediam de correr mais rápido, quando ela finalmente chega a entrada da estação esta estava fechando, devido a programação automática, ela ainda tenta ajoelhar-se mas o portão de metal encontra o chão. Lila teria de passar a noite sozinha no metrô.

Sem ter muito o que fazer Lila caminha pela parte da estação que estava desobstruída, procura um banco mais ou menos confortável para deitar-se. Enquanto Lila cobria-se com seu blazer, havia mais uma pessoa naquela estação, porém do ouro lado do portão, dentro do túnel, em uma abertura de mais ou menos um metro de diâmetro, que levava a uma galeria abandonada um homem de face deformada veste seu sobre-tudo preto sendo "observado" por restos de corpos, o homem prende tiras de couro a seu sobre-tudo cujas pontas ostentavam ganchos, ele cantarolava "Starman" uma antiga música de David Bowe, pois esta noite era noite de caçar.

Lila estava quase dormindo quando escuta alguém cantando "Starman" e levanta-se curiosa, ela cobre os ombros com o blazer e segue a canção que vinha de dentro da estação, o homem deformado - que chamaremos de caçador, bate com sua bota no chão de onde saem duas rodas de ferro, com as quais esquia sobre os trilhos do metro cantando, Lila ouve o ruído metálico junto a música e imagina ser um funcionário do metrô.

- Ei tem alguém ai? Por favor.

O caçador para de cantar e de patinar para ouvir os gritos de Lila, ele sorri falando baixinho:

- Estou indo minha querida, esta noite pertence a nós.

Ele volta a patinar sobre os trilhos em alta velocidade, seus ganchos resvalam nos trilhos. Lila bate na grade com uma das mãos.

- Por favor! Você é um funcionário do metrô?

Neste momento alguém repousa sua mão sobre o ombro de Lila, que grita assustada, era um policial que fazia sua ronda.

- Por que tanto barulho?

- Era o senhor que estava cantando?

- Respeite esta uniforme. O que você está fazendo aqui?

- Me desculpe policial, é que eu perdi a hora, e não tem nenhum taxi por perto.

Os dois ouvem "Starman" vindo de dentro do metrô.

- Mas que merda? - O policial usa uma chave mestra para entrar na cabine de comando seguido por Lila, o policial a empurra.

- Fique aqui.

O policial entra na estação vazia cauteloso, Lila o observa de longe, decidia ela o segue até a plataforma. O policial aproxima-se dos trilhos, percebendo que o cantor estava perto dele, juntamente a música ele ouvia um ruído metálico, o policial ascende uma lanterna dentro do túnel de onde o caçador salta emergindo da escuridão sobre o policial, envolvendo-o com seus ganchos que penetram na pele do policial, este é arrastando pelos trilhos. Lila grita em desespero, ela tenta fazer o caminho de volta correndo, mas seu salto quebra. É o tempo do caçador Patinar para fora dos trilhos indo ao seu lado rasgando as pernas de Lila com os ganchos. Sem saber o que fazer ela corre para dentro da estação procurando algum lugar para se esconder.

- A caça começou - diz o caçador sorrindo.

Lila corria desequilibrada, pois usava apenas um sapato, ela entra no banheiro onde esconde-se no ultimo reservado. controlando seu choro ele ouve o som dos ganchos do caçador arranharem o chão da estação vazia, ainda assustada, mas conseguindo pensar Lila vê uma pequena janela a cima dela, após retirar seu único sapato Lila sobe no vaso sanitário tentando alcançar a janela, esta era muito pequena para Lila passar, desequilibrada ela bate o pé o botão que aciona a descarga. O som da água escoando pode ser ouvido por toda estação, ela sai de dentro do reservatório ao mesmo tempo em que o caçador invade o banheiro sorrindo.

- Por favor... eu tenho dinheiro. Não vou contar nada sobre o policial.

- Você sabe rezar?

- O que?

- Comece, quem sabe ELE a ouve.

- Por favor...

- Não me peça nada. Peça a Deus, se ELE intervir eu deixo você ir.

Com um movimento rápido de braços o caçador arremessa dois ganchos em Lila, prendendo em s ombros, o assassino patina para trás arrastando Lila, ao sair do banheiro ele a joga contra uma parede.

Lila não sabia quanto tempo ficou desmaiada, ela é acordada pela canção "Starman" sendo tocada em algum aparelho de K-7 antigo, seus olhos logo acostumam-se com a luz de velas, a garota percebe que estava amarrada a uma cama velha e mofada dentro de um tipo de caverna, a música vinha de longe, ela ouve o som de passos e finge estar desacordada.

O caçador entra em seu "quarto" local onde Lila estava amarrada, ele a observa por um momento, suas pernas machucadas pelos ganchos, saia suja, camisa rasgada com o botão do colarinho aberto. Sorrindo o assassino aproxima um gancho do rosto de Lila que tenta não estremesser. Ele sorri pois sua presa está acordada.

O assassino sai de seu quarto, Lila tenta soltar-se movendo todo seu corpo quando ouve novamente o início de "Starman", ela puxa suas mãos e consegue soltar-se. Desorientada ela foge por um corredor onde vê uma luz inconstante. Lila segue até a luz entrando em túnel iluminado por velas dispostas em ambos os lados a cada cinco metros. Lila segue pelo túnel percebendo que a música estava cada vez mais alta ela pega um pedaço de madeira que estava caído no chão - o assassino pensava que ela estava dormindo, o elemento surpresa poderia ser determinante. A música fica mais alta, juntamente a uma luz, desta vez uma luz elétrica. Ela estava perto da saída, sem pensar Lila corre pelos trilhos até chegar a uma antiga estação abandonada. Na sua frente, ainda nos trilhos, havia um vagão antigo - provavelmente do século XIX de onde vinha a música.

Dentro do vagão o caçador estava ajoelhado a frente da foto desbotada e rasgada de uma mulher, envolta por duas velas forjando um altar, Lila aproxima-se lentamente por trás atingindo-o na cabeça. consumida pela ira ela atinge o assassino diversas vezes, quando consegue acalmar-se Lila percebe que estava batendo no policial. O caçador entra no vagão pelo mesmo lugar pelo qual Lila entrou. Ela olha para trás deparando-se com seu perseguidor.

- Agora você é uma assassina.

- Maldito! O que você quer? O que você quer?

- Minha mãe era o que vocês chamam de prostituta, de tanto transar ela acabou engravidando de um de seus clientes. Se ela quis engravidar por que estava apaixonada ou se foi apenas por causa de uma camisinha furada eu nunca vou saber. O fato é que ela decidiu me criar. Minha mãe era católica, uma prostituta católica e sabia que o aborto era assassinato. Ela ainda conseguiu trabalhar por uns meses mas conforme sua barriga crescia os homens se afastavam, no fim ela foi expulsa do prostíbulo em que vivia - o caçador ergue o braço direito examinando o gancho sujo de sangue preso a sua roupa - mesmo uma mulher grávida consegue prostituir-se se cobrar pouco e não importar-se em transar em becos cheirando a mijo com bêbados e drogados, mas a sorte voltou a lhe sorrir, aos sete meses de gravides sua barriga era grande de mais até para vagabundos sentirem tesão, foi quando ela descobriu que fetichistas e pervertidos pagam muito bem para transarem com grávidas. Foram apenas três meses mas ela conseguiu guardar um bom dinheiro. Quando eu nasci ela resolveu mudar de vida, ser uma mulher "de família", lógico que não permitiram, um dia quando eu tinha poucos meses de vida três homens a atacaram, roubaram todo seu dinheiro e me estupraram diante de seus olhos. Eles estupraram um bebê para provar que não havia escapatória - seu olhar era vazio, como se este fato não o atormenta-se mais o que era uma mentira - Depois disto minha mãe veio para o subterrâneo, ela afastou-se dos homens, viveu de seu lixo, sob seus pés silenciosa, assistida por Deus até meus quatro anos quando ela morreu.

- Eu sinto muito por você, mas eu não tenho culpa pelo que aconteceu a sua mãe.

- Você é idiota? É lógico que eu sei que você não tem culpa.

- Então? O que você quer comigo?

- Ver Deus.

- O que?

- Eu quero ver o Deus para quem minha mãe rezava todos os dias, eu quero sentir o que ela sentia. Minha mãe dizia que Deus era misericordioso, eu resolvi por a prova. Se Deus salva-se uma de minhas vítimas eu poderia ser como minha mãe e viver em comunhão com Ele. Nada me faltaria.

O caçador olha dentro dos olhos de Lila.

- Corra.

Lila não espera que ele fale duas vezes e foge pelo vagão, o caçador bate com seu pé no chão, das laterais de suas botas saem rodas de patins, Lila consegue sair de dentro do vagão enquanto o assassino volta a fita para ouvir novamente "Starman". Lila corria pela estação vazia procurando pela entrada, o assassino percorria o mesmo caminho sobre patins, seus ganchos arranhavam as paredes. Lila reconhece uma placa de saída, suas forças são renovadas, uma descarga de adrenalina percorre seu corpo e ela consegue correr mais rápido. Superando a dor e o cansaço Lila chega a saída - bloqueada por uma parede de cimento.

O Caçador patinava cantando "Starman" juntamente ao K-7, Desesperada Lila percebe uma pequena abertura no teto, ela sobe em um banco apodrecido para alcançar o buraco, este era um respiradouro que dava em uma rua movimentada, ela grita, o banco quebra-se e ela fica pendurada no respiradouro gritando por ajuda, um vendedor de cachorros-quente pensa ter ouvido seus gritos e concentra-se, a pesar do som da chuva, Lila grita de novo quando os ganchos do caçador prendem em suas costas derrubando-a, o assassino começa a retalhar sua vítima, seus gritos ecoam pelo respiradouro mas perdem-se no som da cidade. O vendedor de cachorros-quente atende outro cliente e logo se esquece dos gritos de Lila.

FIM