ÊXTASE

Às vezes penso que não é preciso muita coisa para ser feliz. Em outros momentos penso o oposto. Tudo depende do que me passa pela cabeça. Hoje, por exemplo, tudo está muito confuso. Ainda há pouco, vindo de uma exposição de cadáveres na sala de anatomia, cogitei em saborear um x-tudo, mas desisti da idéia. Algo está embrulhando o meu estômago, e não sei o que é. Vou até a farmácia da faculdade para ver o que posso fazer para acabar com esse mal-estar. Primeiro passarei pela biblioteca para saber o que significa aquela palavra que o professor falou... qual era mesmo? É...? Isso... isquemia. São 16h e está na hora de correr para o refeitório e surrupiar um suquinho gelado. Fundo de máquina... mas tudo bem, não vou morrer por isso. Pensando melhor, não vou não. Não estou nada bem. Esse revertério estomacal não está me agradando. Esse cheiro nauseante, vindo de não sei onde, impregnou-me o nariz. Olho para o pulso e as horas parece que voaram. Já são 18h. Incrível! Este relógio custou-me dez reais, mas é dos bons. Cuido muito bem dele e não o deixo molhar de jeito nenhum. O tempo voou mesmo. A noite se aproxima e não vejo ninguém mais por aqui. Deveria ter ido à farmácia. Nem biblioteca, nem x-tudo e nem suquinho. O embrulho do estômago piorou. Estou sentindo uma dorzinha que, como que do nada, vai aumentando. Não vejo ninguém e a calçada está gelada. Socorro, penso gritar. Mas de nada vai adiantar. Recosto-me à parede e cruzo os braços sobre o peito. Com os joelhos comprimo o estômago amenizando, assim, a dor. Vem uma luz a ofuscar-me os olhos... Que felicidade!

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