SERINGAL

Eu sou um homem criado na cidade grande e nunca tive contato com fazendas, plantações, terras e esses tipos de coisas.

Meu amigo, Gilberto, no qual eu faço muitos negócios, uma vez, na Avenida Paulista, me disse:

- Caro Amadeu, eu tenho um negócio que vai alavancar nosso dinheiro!

- É! Qual é? – Perguntei curioso.

- Vamos investir no ramo de borracha!

Após explicar como íamos investir, no dia seguinte, pegamos um pequeno avião e pousamos em Votuporanga no interior de SP.

Alugamos um carro e partimos para a Fazenda das Missões, onde estávamos interessados em comprá-la, chegamos no inicio da noite, já estava escurecendo.

O antigo casarão estava a muito abandonado e o seringal praticamente invadia o quintal.

Jantamos, conversamos e à hora avançou e resolvemos dormir, fui ao quarto, deitei e estava dormindo calmamente, quando próximo da meia-noite, ouvi um barulho de moto-serra bem ao longe e pensei:

-Ah deve ser de alguma fazenda vizinha, esses campos abertos faz com que o som ecoe mais longe!

Porém o som ia ficando cada vez mais alto, até que dado momento parecia estar vindo da frente da casa, próximo à janela.

Chamei por Gilberto, mas ele não acordou, não sei por que, ele estava com um sono profundo, então me aproximei da janela e olhando por entre as cortinas, meus joelhos tremeram:

Um par de olhos escarlates e uma silhueta vazada de quase dois metros de altura, na forma de um ser bestial, tipo um lobisomem, com uma moto-serra na mão, abrindo caminho pelo seringal.

Enquanto eu olhava horrorizado, esse ser bestial, percebeu que estava sendo observado e veio em minha direção.

Meu coração parece ter se prendido na garganta, corri para o quarto de Gilberto e gritei por ele, mas quando olhei para a cama, estava vazia!

Então me voltei para o corredor e num momento súbito, a minha frente estava o Gilberto, perguntei se estava bem, porém ele começou a murmurar algumas coisas que eu não compreendia, peguei-o pelos ombros e o sacudi, ele me olhou fixamente para os meus olhos e disse:

-Conjuro a Belzebu! Essa noite você terá um sacrifício!

Minhas pernas tremeram e soquei-o e corri para os fundos da casa que dava para um outro terreiro, tudo estava escuro demais, eu tropeça nos galhos, mas consegui chegar ao carro, porém havia esquecido as chaves, estava com muito medo e confuso e corri, sem direção, pelo seringal.

Mas não corri muito, uma moto-serra cortou minha cabeça que rolou um pequeno barranco, ainda deu tempo de ver o ser bestial extirpar todo o meu corpo que sangrava sem parar e comia minhas tripas e víscera com ferocidade e volúpia.

Minha cabeça, quando observava a tudo, foi rodeada por vários demônios, fechei os olhos para encontrar algum alento, então veio à escuridão e o esquecimento.

***

Seis horas da manhã o galo canta, uma dor de cabeça abissal, olhei pela janela lá estavam às seringueiras intactas, levantei e comecei a andar pelos corredores, meu amigo Gilberto já estava acordado e me convidou para tomar café.

Fiquei desconfiado, mas logo pensei:

-Nossa que sonho estranho!

Andei pelo terreiro da frente e não vi nenhuma seringueira cortada, tudo parecia estar em ordem e comecei a rir sozinho, voltei para a cozinha e disse a Gilberto que iria tomar um banho e depois iríamos para cidade resolver nossas coisas.

Entrei no banheiro, tirei a camisa e ao olhar no espelho, ele se parte e solto um berro medonho, havia uma cicatriz enorme em volta de todo o meu pescoço.

Dessa vez eu corri como um louco desvairado, Gilberto pergunta o que está havendo, mas não pode me deter, peguei a chave do carro e fui embora e nunca mais voltei a ir a uma fazenda e nem mesmo o meu amigo.