Lago de corpos (Triturei, e dai?)

O que terá acontecido, não recordo, talvez tenha perdido a memória, quem sabe até, sofrido um trauma que desnorteou meus pensamentos. Lembro foi de ter acordado, olhado meu corpo, e reparar a imensa quantidade de uma substância vermelha, de cor sedutora, inodora, e ao saboreá-la, sentir minha pele tremer, gemer. Fui tomado de uma sensação alucinógena, coisa que nenhuma droga seria capaz de me fazer experimentar.

Deparei-me num lugar que nada parecia uma casa de filmes de terror, era simples, um ambiente que me fazia lembrar a campo, incrivelmente acho que vivi em uma fazenda quando criança; as coisas surgem vagas, escuras, sem sentido. Os móveis parecem toscos, mas, muito bem conservados, há fotos, e nela pessoas que parecem estar alegres. Onde poderia estar? Comecei então, a vasculhar melhor os cômodos a minha frente, passei por uma pequena sala, bem iluminada até chegar a um corredor. Não queria incomodar os moradores, sei lá quem podiam ser, mas, a curiosidade me levou ao segundo andar, do que parecia uma monótona e calma residência de interior.

E foi ai, nesse estúpido lugar, que vi, não pela primeira vez, pedaços do que pareciam carne triturada por cachorros famintos, e numa visão ampla do pequeno quarto de muitas bonecas, observei que na parede não jazia apenas tinta, várias formas ultra-dimensionais se formavam; deduzi que ai se tinha cometido uma chacina. Antes o sedutor liquido vermelho, agora apenas sangue, ao se misturar a bem feitos cortes.

Mesmo a horripilante visão dos corpos embrulhados minimamente em sacos de lixo trouxe-me alguma repulsa, observei contente o belo trabalho feito, a pessoa que o fez, devia ser especialmente condecorada.

Mas, acho que eu não devia estar ai, obviamente alguém já deve ter comunicado as autoridades, porém, isso não me preocupa, até chegarem terei partido, só não sei para onde. Talvez, posso ir a uma igreja, impressionantemente vislumbrei uma celebração, isto me causou tranqüilidade.

Desci as escadas lentamente, pensando que tipo de orgia fora cometida, necessariamente noite passada, os corpos não estavam em estágio avançado de decomposição. O que melhor pude observar foi um tronco, sem cabeça e demais membros, este, estava retalhado como se fosse milimetricamente esculpido. Ao passar pela porta, alta e estreita, algo abruptamente deteve minha atenção.

Um belo lago, antes com peixes e flores, perfeitamente cenas de alguém romântico, mal amado e com problemas de personalidade, formavam um emaranhado das coisas mais maravilhosas do que já vi. Cabeças jaziam amarradas em uma pequena embarcação, dentro dela o que pareciam tripas desciam por entre as proas. Montanhas de órgãos, de cores intensas, formavam um círculo e dentro deste, eis o que me fez lembrar de tudo...ai está, minha mulher, rodeada pelos restos dos filhos que tanto amava...e aqui estou eu prestes a ser condenado, eternamente, a gozar do momento mais feliz da minha idiota existência. Limpo em sangue a minha consciência!

ThOuGhTfUl
Enviado por ThOuGhTfUl em 20/07/2006
Reeditado em 23/07/2006
Código do texto: T197764