Insano

Não suporto, meu coração está se dilacerando, minha boca arde, espuma, minhas mãos tremem, meu pelos se arrepiam, e eu, louco, espero a hora de acabar com toda essa agonia, me atirar num abismo, e que ao final dele, encontre estacas que perfurem toda essa carcaça inútil, que meu sangue escorra, até finalmente, após me debater histericamente, sentir o prazer de finalmente estar morto. Pronto, tudo acabou!

Estúpido. O absurdo é que no calor, no anseio de tal desejo, você descobre que não passa de um covarde asqueroso, dentre tantos outros; a sua consciência o agarra de tal forma que incinera, assa em brasa suas vontades, não importa o quanto você possa se debater, espernear, lá está ela esperando com suas algemas, vendando sua realidade.

Você não existe, apenas vive sobre sombras, digere falsidade, caga mentiras. Pessoas passam, amedrontam, dominam, você ri, elas querem sua alma, você chora, elas te beijam, você vomita. Doce é o sabor de vê-las espedaçarem-se ao vento, pernas, braços, intestinos, há um balé formando-se, você uiva, sua garganta arde, seu sono vai ser tranqüilo. Sonhe com os anjos.

- Covarde, fraco, covarde – estão cantando a você, e daí? Vou decepá-los, cortar suas cabeças, vê-los mijar. Vou fechar os ouvidos, não é comigo, sou normal. Está decidido, nada mais a fazer, a sensação de liberdade enche-me até sufocar, não respiro, estou tendo um ataque epilético, vou morrer: VOCÊ ESTÁ MORTO!

Espere, esperem, não vou fazer isso. Frouxo! A merda está ao meu lado, estou comendo merda, nossa que horror, não diga isso, podem denunciar-me por comê-la. Deito, durmo, e depois acordo, sinto que estão me monitorando. E ai, mais um dia ao sentar-se, você novamente vê que na TV as sombras continuam as mesmas. VOU ME MATAR! COVARDE! VOU ME MATAR! DURMA! VOU ME MATAR! AMANHÃ O DIA SERÁ LINDO! VOU ME MATAR! TENTE? DESISTO!