Alucinações

Ele sempre os via. De enormes olhos a olharem para ele.

Com a boca nojenta e babando. Com a pele áspera e fétida.

Sempre estavam por perto a observarem seus movimentos.

Ninguém nunca acreditava nele, desde o tempo de infância, quando alguns dos monstros se sentavam a seu lado na escola.

Às vezes roubavam-lhe o lanche, batiam nele.

Ele sempre teve medo. Muito medo.

O acompanhavam quando se tornou adolescente,

Apareciam bem menos é verdade, mas ainda o vigiavam.

Ele já não comentava com mais ninguém para não ser ridicularizado.

Por um tempo sumiram, deixaram de aparecer. Um mês, dois meses.

Nada. Nenhum deles apareceu.

Até que numa tarde voltando para casa, sentiu que estava sendo observado.

Eles voltaram, só podia ser.

Estavam lá, nas ruas, nas lojas, nos bares, em todo lugar.

Correu, sem saber para onde ir. Para casa? Sim.

Mas não o observavam mais, passavam por ele como se nem existisse.

Entrou correndo em casa. Apavorado. Pálido e tremendo.

Olhou na sala e viu um deles assitindo TV. E lá estavam eles na TV,

Correu para cozinha, sua mãe de costas na pia prepara o jantar.

Ele a chama, ela se vira.

O desespero toma conta dele e um grito de pavor toma conta da casa.

Uma criatura de grandes olhos tomou o lugar de sua mãe.

Ele sobe as escadas correndo e cruza com mais duas criaturas menores, seus irmãos, sim só podia ser.

Ele entra em seu quarto apavorado, tem medo de tocar seu rosto e de se olhar no espelho. Tem medo de ser uma criatura de olhos enormes e pele áspera.

Ele respira fundo, toma coragem e leva as mãos ao rosto de leve. Normal.

Alivio. Ainda com medo se olha no espelho.

Aparentemente normal. A não ser pela impressão de que seu rosto está meio torto, meio que caindo.

Ele tenta não acreditar no que vê, mas sim, seu rosto está fora do lugar.

Ele sabe o que significa, mas não quer crer.

Grita e chora desesperadamente.

Ele também é uma criatura de olhos enormes também.

Só tem de tomar coragem e tirar a máscara humana que cobre seu rosto.

Ele leva as mãos ao rosto e tenta puxar, de repente, uma escuridão, a sensação de estar caindo dentro do nada.

Ouve vozes, gritos, dor, medo, em queda livre........

Parece não ter fim. Caindo e caindo.

Acorda com sua mãe o chamando desesperada com seus gritos.

Respira aliviado. Sua mãe sai do quarto.

Ele se levanta e se prepara para escola.

Sai para a rua e vê no outro lado da rua uma criatura de olhos enormes a observa-lo, um caminhão passa em sua frente e a criatura desaparece.

Alucinações? Ele prefere acreditar que sejam e segue para a escola.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 19/01/2010
Reeditado em 19/01/2010
Código do texto: T2039490
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.