Brincando de Papai e Mamãe

Havia, em uma cidadezinha muito pequena, um casal recém-formado, Maurício e Júlia, que não conseguia ter um filho. O marido não queria fazer exames, pois achava tudo isso desnecessário. Já a mulher, tentava convencê-lo do contrário, mas nunca conseguiu dissuadi-lo.

Certa vez, uma senhora de idade avançada, acusada por muitos de ser bruxa, resolveu que iria ajudá-los a realizar seu sonho, mas eles teriam que se mostrarem pais que pudessem dar uma excelente educação para o menino que ela daria de presente a eles.

Então, resolveu testá-los. Nessa mesma noite, vestida de mendiga, a senhora bateu à porta. Quando Júlia veio atender e viu que era uma pedinte, correu chamar o marido para despachar o incômodo. Maurício atendeu a senhora, dizendo que lamentavam muito, mas não tinham nada a oferecer.

A bruxa resolveu partir, então, decidida a dar-lhes o filho, porque embora eles não lhe tivessem atendido, haviam sido educados. Mas quando a senhora estava saindo da frente do portão, Júlia, brava que o marido ainda não tivesse resolvido a questão, gritou da porta:

— Vá embora! Não temos nada para gente vagabunda!

E a senhora mudou de opinião no mesmo instante: agora os amaldiçoaria!

Na manhã seguinte, uma cesta com o bebê mais bonito do mundo esperava por eles na frente do mesmo portão em que a bruxa esteve e fora escorraçada. Maurício, quando saía para trabalhar, encontrou a pobre criança. Desesperado para salvar a vida do bebê, ele catou-o e levou-o correndo para dentro.

Os dois, Maurício e Júlia, resolveram ficar com a criança. Júlia passou aquela tarde cuidando da criança, enquanto o pai providenciava a papelada para adotá-la. Às dez horas da noite, Júlia e Maurício colocaram o vistoso menino para dormir.

À meia-noite, o bebê desatou a gritar como um condenado. O grito era tão alto, que com certeza devia ter acordado toda a vizinhança. Desesperados, os pais de primeira viagem correram ao berço da criança. Maurício foi o primeiro a chegar e, quando encontrou o motivo de sua correria, estacou: dentro do berço não existia mais criança alguma. No lugar do bebê, havia uma massa gosmenta roxa, sem forma, que gritava estridentemente.

Quando percebeu a presença do papai postiço, a gosma soltou tentáculos enormes que envolveram todo o corpo dele e, aos poucos, o homem foi murchando, enquanto a mulher corria, desesperada, para a porta da frente. Ao abri-la, deu de cara com a mesma velha da noite anterior.

Assustada demais para continuar por esse caminho, que com certeza a senhora não a deixaria passar, resolveu tentar a janela. Mas, ao voltar-se para trás, a massa disforme já estava em seu encalço e, quando tentou correr na direção da janela, um enorme tentáculo agarrou seu pé direito, fazendo-a cair.

Enquanto a massa terminava de sugar todo o fluído que existisse no corpo de Júlia, a senhora cantarolava, pegando, depois que aquela cumpriu seu papel, sua massinha, que agora triplicara de tamanho, e a comeu lentamente, deixando um bebê, assassinado por ela, que roubara de outro casal mau, no berçinho, para que tudo parecesse um assalto ou qualquer outro crime que acontecia cotidianamente.

Tiaggio
Enviado por Tiaggio em 27/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
Código do texto: T2054256
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