O Canto da Sereia

"O amor é o mais egoista de todos os sentimentos e consequentimente; quando contrariado é o menos generoso" (Benjamim Constant).

Durante uma tempestade, no ano de 1964, o barco pesqueiro Sueco Lírium lutava contra uma tempestade. A tripulação tentava descer as velas antes que estas se rasguem. O jovem capitão Gunnar gritava as instruções para seus homens, a cada onda gigante o navio ameaçava tombar, Gunnar move o timão em manobras desesperadas, quando seu imediato aproxima-se.

- Perdemos a segunda vela senhor.

- E quanto ao resto da frota?

- Nenhum sinal deles. Os outros capitães, mais experientes, evitaram a tempestade.

Gunnar ignora a provocação enquanto uma nova onda gigante invade a proa do navio levando consigo parte da tripulação.

- Preparem-se para virar a estibordo.

O capitão gritava contra o som da tempestade, esta quase tomba o barco, a tripulação segura-se para não cair no mar, o vento a vela solta-se prensando alguns homens, uma nova onda derruba Gunnar na proa deixando o Lirium sem comando momentâneamente, de imediato Gunnar volta á sua posição amarrando-se ao timão.

O capitão consegue levar o barco para o olho da tempestade, dando a impressão de calmaria, é o momento para os sobreviventes repararem a embarcação quando todos ouvem uma canção bela e irresistível. Os marujos aproximam-se da proa saltando no mar, o canto invade a mente e o coração de Gunnar que tenta soltar suas amarras, ao olhar para o lado ele vê seu imediato saltar para a morte, com exceção de Gunnar todos os marinheiros estavam nadando rumo a origem da canção e afogando-se. A canção torna-se cada vez mais alta como se a cantora se aproxima-se do Lirium, Gunnar grita de desespero tentando soltar-se, repentinamente a música encerra, Gunnar debruça-se sobre o timão estasiado, ele ouve alguém sair da água, pensando que era um de seus homens ele esforça-se para olhar, estranhando ver uma linda mulher emergindo do oceano, nua da cintura para cima, os fios ruivos de cabelo mal cobriam seu s fartos seios, rígidos, redondos, intencionalmente a mostra para seduzir os homens, a garota sorria, ela era linda, a mais linda de todas, graciosa, meiga com algo de selvagem, Gunnar apaixona-se a primeira vista.

O Canto da Sereia

Austrália, 2010 os barcos de pesca voltavam do mar, os surfistas voltavam para praia, enquanto Khaty de 18 anos e sua irmã mais velha Amy de 20 anos tomavam banho de sol, Amy olha para o lado apertando os olhos por causa do sol.

- Adivinhe quem está te olhando maninha.

- Jason? Nós só demos um beijo, nada de mais.

- Parece que ele gostou.

- Lógico que ele gostou. Só que nós dois não temos nada a ver, ele é metido, arrogante...

- E que olhos lindos, e que peitoral - Amy fazia cara de apaixonada/debochada - que músculos, ele deve nadar, imagine ele abraçando você, nossa.

Observando que as duas garotas conversavam rindo, Jason decide levantar-se da areia e ir até as duas irmãs, Amy sorri para Khaty que vivenciou um misto de ansiedade com desconforto assim que Jason chega.

- Oi Khaty, posso falar com você?

- Eu vou dar um mergulho - diz Amy deixando sua irmã e Jason a sós.

- Agora estamos a sós, desembucha.

- Você é direta.

- Anda logo garoto.

- Quando vamos sair de novo?

- Acho que não é uma boa ideia, nós somos muito diferentes.

- Nem tanto, nós dois somos chatos, metidos e ninguém nos suporta, somos perfeitos um para o outro.

Khaty acha que a cantada de Jason é tão ruim, mas tão ruim que ela acaba rindo.

Ao mesmo tempo Amy aproxima-se de um dos barcos que estava ancorando, deste barco descem Michael, o imediato e Robert capitão do barco pesqueiro e pai de Amy.

- Que surpresa querida, veio me recepcionar?

- Mais ou menos.

Ela olha para a praia onde Khaty e Jason conversavam.

- Se pelo menos ela fosse mais honesta com seus sentimentos. E você pai? Como foi a pescaria?

- Fraca, a quantidade de peixes está diminuindo.

- É o clima - gritava Michael - o aquecimento global, a temperatura do planeta tem aumentado, isto está interferindo com os peixes.

- Bom, não com os peixes dele - Robert aponta Gunnar que atraca seu barco na costa - como ele consegue tantos peixes? ainda mais sozinho.

- Você não vai ficar um velho asqueroso como aquele, ou vai pai?

- Amy, não fale assim das pessoas que você não conhece, além disto eu vou ser um velho maneiro, vou sair por ai de camisas havainas e chapéu de palha fazendo mágicas com um baralho.

Robert volta ao barco para ajudar a descarregar o equipamento e levar os peixes para o mercado, Gunnar abaixa sua rede no píer revelando os peixes para carregadores freelancers. Todos impressionados com a quantidade de peixes que ele pesca, embora menor do que os três barcos de Robert a proporção era muito maior, principalmente para um velho solitário.

Naquela noite Amy e Khaty sentavam-se a mesa do jantar enquanto Robert ia atender a porta da frente recebendo Russel, o chefe de polícia da cidade, sua esposa Anna e seu filho San, amigo de infância de Amy, os três sentam-se a mesa para o jantar.

Ao mesmo tempo, na praia Michael saia de um bar com uma garota, os dois estavam bêbados, ele cambaleia caindo, a garota começa a rir.

- Você é muito engraçado. primeiro me fala que os peixes estão fugindo.

- Não estão fugindo, mas indo para outro lugar.

- Por que você não vai até o oceano e grita "aqui peixinho" - ela retira sua blusa - você pode me usar como isca.

- Os peixes eu não sei, mas minha minhoca mordeu a isca.

A garota cambaleia na areia, Michael pula sobre ela mordendo seus seios, os dois rolam pela areia até aproximarem-se do mar, o casal beijavam-se quando os dois ouvem uma bela e irresistível música, Michael para de beija-la, ficando de pé e olhando para o oceano.

- Não sabia que você era tímido.

Michael caminha em direção ao mar, a mulher ajeita o biquini cobrindo seu seio enquanto Michael continuava a entrar na água, ele estava com água até a cintura.

- O que é isto seu puto?

Michael continua a entrar na água, esta cobria seu pescoço, preocupada a mulher levanta-se, vendo ao longe a silhueta de uma mulher sobre uma pequena ilha ressaltada ela lua cheia, Michael é totalmente coberto pela água preocupando a garota que chama por ele, agora assustada, após algum tempo a garota grita em desespero, ela volta a olhar para a pequena ilha, esta estava vazia.

O delegado Russel tinha terminado o jantar, Khaty começa a tirar a mesa, Amy a ajuda indo até a cozinha.

- O que você está fazendo?

- Resolvi te ouvir, vou encontrar o Jason hoje a noite.

- Tem camisinha.

- Sua idiota, nós só vamos sair.

As duas irmãs riem quando San junta-se a elas na cozinha.

- Camisinha? Parece interessante.

- Isto é conversa de garota, vai embora.

- Qual é! Nos nos conhecemos desde pequenos Amy, não temos segredos entre nós.

- Até parece.

Eles escutam alguém bate a porta de sua casa, era um policial procurando por Russel.

Minutos depois Russel estava na praia com Robert e o restante de suas famílias, os policiais cercavam a garota constatando que ela estava bêbada, Russel toma a frente.

- Muito bem, o que aconteceu.

- Eu já falei, ele entrou na água.

- Ele simplesmente entrou na água?

- Sim, depois de ouvir uma música.

- Que música?

- Parecia que uma mulher estava cantando. Ela estava naquela ilha.

Russel tenta ver um pequeno monte de terra de alguns metros quadrados, bem longe da costa.

- Tinha uma mulher ali, e ela estava cantando? Muito bem quanto você bebeu.

- Eu não estou bêbada.

- O resultado do bafômetro mostra outra coisa.

Ao mesmo tempo Amy abraça seu pai consolando-o pela morte de seu amigo, Khaty também o abraçava, olhando para Jason que entende a situação. Russel aproxima-se de seu amigo e suas filhas, entregando uma carteira molhada para Robert, este a abre reconhecendo a identidade de Michael.

- Então é verdade?

- Acharam esta carteira no mar Robert, mas não há indícios do corpo - o detetive fica pensativo, tentando encontrar a melhor maneira de questionar seu amigo - você sabe se Michael estava triste ou depressivo? Ele tomava algum tipo de remédio?

- Ele não se suicidou, e aquela garota?

- Bêbada, ela contou uma história maluca, de qualquer forma não tenho provas para prende-la, ainda não.

No dia seguinte Khaty e Jason saiam do cinema rindo, ele mostra alguma coisa para ela, ao virar seu rosto para olhar Khaty é surpreendida por um beijo de Jason, que corre dela, Khaty o segura, beijando-o em "resposta ao desaforo".

- Você é linda.

- Pare com isto.

- Mas é verdade, você é linda, eu amo você.

- Me ama após um encontro?

- Eu já a amava antes, eu via você todos os dias, você ia para o colégio, sentava na sua carteira, penteava os cabelos, depois lia uma revista até as aulas começarem.

- Quanto tempo faz isto?

- Dois anos, eu era meio bobo naquela época, por isto não dizia nada.

- De fato, você era meio bobo.

- O que? - rindo com a brincadeira Jason segura os braços de Khaty abrindo-os e beijando a garota indefesa.

Ao mesmo tempo, perto do pier Roger estava a bordo de seu barco, arrumando o equipamento de pesca, dois casais de garotos preparavam-se para andar de barco, dentre eles San e Amy, sendo observados por Gunnar que guardava o seu equipamento de pesca.

- Cuidado com o mar garotos - diz o velho marinheiro - ele está com desejo de sangue.

- Os garotos olham-se confusos e riem do marinheiro, zarpado em seguida. Gunnar os ignora terminando de guardar sua rede e trancar a cabine do capitão, Roger estranha esta atitude e aproxima-se do velho marinheiro tentando falar com ele.

- Não vai pescar hoje Gunnar?

- Eu já disse, hoje o mar está perigoso. Principalmente se você for homem.

O sueco desce do barco decidido a voltar para sua casa sem mais questionamentos.

A bordo do barco de passeio San termina de içar as velas e desligar o motor, sentando-se ao lado de Amy, na sua frente Jhoshy e Estela beijavam-se ardorosamente, San sorri para Amy, sugerindo que façam o mesmo, ela olha para a água.

- Por que aquele homem disse aquilo? O mar com gosto de sangue.

- Ele é louco, o cara mora sozinho em uma casa caindo aos pedaços á anos, a solidão mexe com a cabeça das pessoas.

- "A solidão mexe com a cabeça das pessoas?" não tinha nada mais simplório para falar?

- Qual é Amy, o homem veio da Suécia nos anos 60 e desde então vive sozinho, pesca sozinho e não conversa com ninguém, se não fosse o registro do barco o meu pai nem saberia o nome dele, meu pai é o chefe de polícia, ele tem que saber pelo menos o nome de todo mundo.

- Se ele não faz mal a ninguém qual o problema?

- O problema é que ele pesca montanhas de peixes - Jhoshy para de chupar a língua de Estela para entrar na conversa - o cara deve ter muito dinheiro guardado.

- Ele deve ter um segredo, não é possível alguém sozinho pescar tantos peixes, ele consegue mais peixes por ano do que um barco tripulado.

- San, se o homem não faz mal a ninguém qual o problema?

- O problema, Amy, é que ele está velho e em breve vai ter que passar este segredo para alguém.

- Você vai entrar na casa dele - Jhoshy finalmente entendera o plano de seu amigo - muito bom cara, quando?

- Hoje a noite.

- Você não pode - agora Amy ficou irritada com seu amigo de infância.

- Por que não?

- por que você é o filho do chefe de polícia, só por isto.

- Por isto mesmo, sendo filho do meu pai eu sei como os bandidos arrombam casas sem chamar a atenção, você está comigo Jhoshy?

- Eu tô, e você gata?

- Tendo sexo eu estou dentro.

- E você Amy?

- Hoje a noite é aniversário da minha irmã, sem chance e mesmo se não fosse seu aniversário eu não iria.

- Chata.

- Agradeça por eu não contar para o seu pai.

Começava a anoitecer quando Jason chega a casa de Robert com seu presente para Khaty, esta sorri ao ver o novo e recém promovido namorado entrar, alguns ex-colegas de classe estavam comemorando, Khaty senta-se a mesa segurando a mão de Jason a frente de Amy.

- Cadê o San?

- Ele disse que viria depois, não entendi por que.

- É chato ficar longe do namorado, né?

- Eu não tenho nada com ele, já disse para você.

Khaty olha séria para Jason - eles brigaram - e sorri junto com Jason, ambos ficam rindo de Amy, rende-se as brincadeiras de sua irmã e ri junto. Um grupo de amigos aproxima-se da mesa.

- Então Khaty o que você vai fazer ano que vem?

- Acho que vou fazer artes Cénicas.

- Nada disso - gritava Robert com um sorriso no rosto - você vai estudar alguma coisa mais séria.

- Meu pai não aceita, mas ele vai concordar.

As luzes se apagam e Robert entra com um bolo, todos cantam parabéns e Khaty assopra as velas.

Ao mesmo tempo San estava na encosta para a enseada, perto da casa de Gunnar, ele olha para o relógio em seu pulso pensando consigo mesmo "onde está o Jhoshy?"

Jhoshy estava em seu barco transando com Estela - esta estava de quatro segurando com toda sua força a encosta do barco gritando "mais forte caralho", Jhoshy estava por trás dela puxando seus cabelos com força, Estela grita de prazer com a dor.

San olha novamente para o relógio decidindo que não iria mais espera-la e aproxima-se da casa de Gunnar por um dos lados, ele não encontra nenhuma janela aberta, ao aproximar-se percebe que todas as janelas estavam lacradas por dentro.

- Definitivamente o velho está escondendo alguma coisa.

Ele recua um pouco olhando para casa tentando uma perspectiva, então percebe que havia um respiradouro, já que todas as janelas estavam lacradas o ar precisava entrar por algum lugar, San sobe em uma árvore morta e em seguida pendura-se em um parapeito subindo no telhado da casa, por onde desce pelo respiradouro.

No barco Jhoshy deita cansado enquanto Estela o olha de maneira displicente.

- Já acabou?

- Como assim se já acabei? Estou morto.

- Eu esperava mais.

Irritado Jhoshy pula sobre Estela chupando seus seios, ele a vira repentinamente, encoxando-a e apalpando seus seios.

- Vê se vira homem e acaba comigo.

Eles começam a transar novamente, Jhoshy empurra o dorso de Estela para fora do braco enquanto transa violentamente, ela não percebe algo vindo a superfície da água quando Jhoshy para ouvindo um canto vindo de longe.

- O que foi? ficou mole? - Estela estava tão furiosa que não percebia o canto, Jhoshy levanta-se e anda na direção da proa, Estela olhava intrigada quando Jhoshy salta no mar.

Ao mesmo tempo San consegue sair de dentro da tubulação percebendo-se em uma sala escura, empoeirada e repleta de troféus de pesca como peixes espadas ou cabeças de grades peixes, San aproxima-se de uma foto antiga onde Gunnar estava perto do barco pesqueiro Lílium. San ouve passos e esconde-se em um dos inúmeros cantos escuros da casa de Gunnar. Escondido San pode ver o velho sueco caminhar pela sala com sua capa de chuva amarela e galochas e o mais estranho e segurava um balde de metal, levemente enferrujado, Gunnar para perto de seus troféus, colocando o balde de ferro no chão, San consegue espiar dentro do balde encontrando peixes vivos nadando em círculos, Gunnar pega novamente o balde e continua caminhando para uma pesada porta de aço, a qual o pescador abre com dificuldade. San escuta os sons dos passos do velho pescador sumirem a distância, percebendo que este descia uma escada, San levanta-se e aproxima-se da porta de aço, recolnhecendo que ela levava a um porão.

San desce as escadas degrau a degrau, cuidadosamente para não fazer nenhum ruído, ele ouve o som de água, não era o som do oceano, mas sim de água represada, como se esta estivesse saindo de um recepiente cheio quando algo é jogado nele, Gunnar falava em sueco, sua voz era carinhosa, quase apaixonada, diferente do homem misterioso e arredio que todos conheciam, San estava a beira do ultimo degrau quando o piso do porão coberto por água que continuava a escorrer, Gunnar pega o ultimo peixe e joga em algum lugar que San não consegue ver, ele apenas ouve o som do peixe caíndo na água e a voz carinhosa de Gunnar, San tenta aproximar-se quando é surpreendido pelo pescador, San assusta-se caindo para trás e subindo os degraus de costas, ele consegue ver de relance um aquário de proporções gigantescas, Gunnar aponta uma espingarda calibre 12 para o garoto.

- O que você quer?

- Desculpe senhor, eu não... não...

- Não o que?

- Não queria atrapalha-lo, aquela é a sua isca?

- Suba.

O marinheiro encosta a boca da espingarda com força no rosto de San forçando-o a subir as escada, de volta a sala Gunnar encosta a porta de aço e acende uma vela podendo olhar para o garoto.

- Você é um dos garotos do barco. Onde estão os outros.

- Eu não sei.

- Onde estão? - o pescador engatilha a espingarda olhando nos olhos de San, sua frieza era de quem já viveu muito para conhecer a morte, tendo-a como amiga íntima, uma morte a mais ou a menos não faria diferença e San percebe isto.

- Eu não sei, eu juro que não sei - os olhos de San ficam repletos de lágrimas, ele começa a soluçar - eu combinei com Jhoshy e Estela, mas eles não vieram, a Amy está com a família dela, eu... eu entrei sozinho pelo respiradouro, eu queria aprender seu segredo... seu segredo, o segredo da pescaria, o segredo.

- Que segredo? Gunnar volta a ameaçar o garoto, agora o marinheiro estava realmente furioso prestes a mata-lo.

- Da pesca, como você pesca - San desaba a chorar tomado pelo desespero de quem está prestes a morrer, suas palavras saem desencontradas - você pesca, pesca mais que todos na ilha, você pesca muitos peixes, podia ser rico com a pesca, eu queria aprender seu segredo.

- A pesca não deixa ninguém rico, ao contrário o mar leva tudo o que temos, mesmo assim não conseguimos dizer não a ele. Eu pesco muitos peixes por que sou velho, eu perdi muitos amigos no mar e aprendi a falar sua língua.

- Língua? - San começava a acalmar-se, embora Gunnar mantivesse sua espingarda apontada para o meio de seus olhos.

- O mar nos diz quando está bravo, quando está escasso ou quando está generoso, basta saber ouvir, mas como eu disse ele cobra um preço.

- Qual?

Gunnar fica irritado com a pergunta, sentando-se a mesa, ainda com a espingarda apontada o pescador alcança o telefone chamando o chefe de polícia, San imagina uma maneira de fugir, mas todas as portas estavam trancadas e as janelas lacradas. O pescador coloca o telefone no gancho e volta a olhar para San.

- Olhe para mim garoto - ele aproxima a vela de seu rosto iluminando-o por completo..

- Este é o preço que o mar cobra.

A bordo do barco Estela estava de pé andando em círculos gritando por Jhoshy, ela ouve algo emergir do outro lado e aproxima-se do beiral colocando parte do seu corpo para fora, Estela ouve um pedido de socorro muito ténue, ela inclina-se sobre a água a ponto de seu cabelo romper a superfície do mar, ela olha atentamente tentando reconhecer aquele pedido de ajuda que transforma-se em um canto, intrigada Estela tenta imaginar o que faria este barulho, quando uma mulher nua emerge do mar mordendo seu pescoço, tragando-a para o oceano, Estela é arrastada por de baixo das águas lutando para emergir, mas a força "daquilo" que a arrastava era desumana, finalmente para, Estela estava livre, ela sobe a superfície, emergindo em meio a um círculo vermelho, forjado por seu próprio sangue, o barco estava ancorado há 700 metros de distância, quando Estela sente algo batendo em suas pernas, ela grita quando recebe outro golpe, ele sente uma mordida em suas pernas ao mesmo tempo um par de braços a puxa para o fundo do oceano.

Russel estava furioso com seu filho quando o fora buscar na casa de Gunnar, o velho pescador não quis ouvir as desculpas do policial/pai, limitando-se a lhe devolver o filho e bater a porta na cara destes, no caminho de volta para casa o silêncio é quebrado pelo som do rádio da polícia, mesmo descontente Russel acaba por atende-lo.

- Russel falando.

- A guarda costeira encontrou um barco ancorado a seis quilómetros da praia, sem tripulantes.

- Em nome de quem está registrado o barco.

- Em seu nome.

Russel olha furioso para seu filho que tenta esconder-se no banco de passageiros.

- Acho que o Jhoshy estava nele com a Estela.

- Você empresta o meu barco para seus amigos treparem?

- Na verdade ele é meu barco, e se Jhoshy estava a bordo ele o invadiu.

- Ótimo. Temos outro crime esta noite.

Russel muda sua rota para a praia a fim de encontrar-se com alguém da guarda costeira.

No dia seguinte a praia estava tomada por pescadores furiosos, Robert não entendia direito o que estava acontecendo e aproxima-se da multidão onde vê Russel a frente de seus homens colocando um cartaz de "navegação proibida", furioso Robert aproxima-se de seu amigo e chefe de polícia, este prevê que terá um longo dia pela frente.

- Posso falar com você Russel?

- Leia as placas, hoje ninguém sai de barco.

- Por favor, pela nossa amizade.

Russel obriga-se a atender o pedido de seu amigo, ordenando que seus homens continuem com o monitoramento da costa. O dois afastam-se da confusão.

- O que é isto tudo Russel?

- Três pessoas sumiram nos últimos dois dias.

- Aquilo é o mar, as pessoas se afogam nele desde as grandes navegações.

- Não estou falando de turistas, mas de um pescador experiente e dois garotos que nasceram pilotando barcos.

- Você disse que Michael tinha sido assassinado.

- Eu disse que talvez, mas não encontrei nenhuma prova.

- Quem são os dois garotos?

- Jhoshy e Estela.

- Ele era um bêbado e a garota uma puta. Eles estavam bebendo?

- É possível.

- É possível!? Você sabe o que acontece quando se mistura bebida e nadar a noite. Russel estamos falando do nosso sustento, para você um dia não faz diferença, mas para nós um dia é a diferença entre passar fome e ter uma farta ceia de natal.

- Desculpe Robert, mas você mesmo disse que a pesca estava diferente nestes dias, que alguma coisa estava acontecendo no mar.

- Quando os garotos morreram?

- Ontem a noite.

- Michael também morreu a noite, se for algum evento do oceano ele ocorre a noite, por que você não libera a navegação durante o dia.

- Eu não sei Robert.

- Mas eu sei, você vai prejudicar muitas pessoas. Inclusive a minha família por nada, por um palpite errado.

A conversa dos dois é interrompida por um dos policias avisando que havia uma embarcação desconhecida em águas interditadas, Russel apressa-se, retornando o olhar para seu amigo.

- Vou liberar a costa até seis horas, nem um minuto a mais.

- É o suficiente.

Enquanto os pescadores entravam em seus barcos, algumas pessoas preparavam-se para divertir-se na água, entre eles Khaty e Jason a bordo do barco deste, Russel estava a bordo da lancha da polícia aproximando-se do navio não identificado denominado "Calíope", Russel sobe a bordo, onde é recepcionado por dois cientistas e pela chefe da expedição Dee-Anne.

- Posso ajuda-lo policial.

- Russel por favor doutora...?

- Dee-Anne, por favor.

- Dee-Anne, parece com o nome da minha esposa, Anna, apenas Anna.

- Então Russel? O que foi que eu fiz?

- Para começar a doutora...

- Dee-Anne.

- Dee-Anne, você entrou em área de navegação proibida.

- proibida?

- Bom, não mais até as seis horas a área está livre, e além do mais, não temos registro do seu barco.

- Me desculpe, eu não percebi que havia mudado de cidade, vou lhe fornecer todos os dados, por favor venha comigo.

Ao mesmo tempo Amy estava na praia "espionando" sua irmã e Jason a bordo do bote motorizado do garoto, ia na direção oposta dos barcos de pesca. Amy sorri pois assim sua irmã poderia namorar longe dos olhos de seu pai.

A bordo do bote motorisado Jason diminui a velocidade para beijas Khaty.

Então, isto não vai mais rápido?

- Pensei que as garotas preferissem lento e romântico.

- Eu não sou uma garota normal - Khaty sorri pela brincadeira e beija novamente Jason, este acelera o bote quase derrubando sua namorada na água.

A bordo do Calíope Dee-Anne entrega os documentos do barco para Russel, que os olha superficialmente, Dee-Anne recosta-se sobre uma bancada levando um copo com água aos lábios, mas não a bebe, preferindo olhar para Russel de maneira sedutora, o delegado percebe que estava sob a mira dos olhos azuis da doutora e sorri, não imaginando que fosse chamar a atenção de alguém tão bonita.

- Então Russel, por que a costa estava enterditada.

- Tivemos três desaparecimentos misteriosos nos ultimos dois dias.

- Misteriosos.

- Pessoas que normalmente não sumiriam, não desta forma.

- Entendi - ela circula o chefe de polícia sensualmente, parando ao seu lado e olhando nos olhos com seu rosto próximo ao dele - estou fazendo algumas pesquisas sobre migrações marítimas e rotas de peixes, no entanto tenho muito equipamente, como câmeras subaquáticas e sonares, se achar alguma pista eu o aviso.

- O que exatamente você pretende achar Dee-Anne?

- Estão ocorrendo fenómenos estranhos nesta área, animais marinhos das regiões árticas foram encontrados mortos em praias tropicais, se estes desaparecimentos estiverem relacionados ao oceano eu descubro isto para você.

- Bom, preciso voltar a delegacia, mas se precisar de alguma coisa pode me chamar.

- Com certeza eu vou chama-lo.

- Mais uma coisa, o que significa Calíope?

- Era uma ninfa da mitologia grega, ela casou-se com o rio Aqueló e deu origem a três sereias.

Russel ainda estava meio "abobalhado" quando deixa o barco de Dee-Anne que observava a lancha sumir a distância quando um dos cientistas aproxima-se da doutora.

- É seguro aproximar-se assim dele?

- Ele pode ser útil, sumiram três pessoas em dois dias. Felizmente eles ainda não relacionaram a biodiversidade marinha.

- E o que vai acontecer quando ele os relacionar?

- O bom chefe de polícia vai me chamar.

Ao mesmo tempo Jason acelerava seu bote, aumentando a adrenalina de Khaty, os dois começam a ouvir um canto, Khaty não importa-se, mas Jason estava fora de si, ele direciona seu bote na direção de algumas pedras, khaty para de rir.

- Tudo bem, não tem mais graça.

Jason acelera ao máximo indo de encontro as rochas, Khaty chacoalha seu namorado sem obter nenhuma resposta, o bote choca-se contra os rochedos para o desespero de Amy, que percebe o ocorrido com seu binóculos, e sem pensar duas vezes sobe em sua embarcação rumando até o local do naufrágio.

Khaty recobra sua consciência sobre uma das rochas, percebendo que quebrara uma perna, ao olhar para o osso ensanguentado rompendo a pele ela tem certeza de que quebrou a perna, Khaty procura por Jason com os olhos descobrindo que este estava no mar nadando para longe dela, subitamente uma linda mulher de cabelos negros, rosto angelical e enormes seios ostensivos emerge das águas de braços abertos cantando, Jason nada até ela, recebendo seu abraço, o garoto beija os seios nus da sereia, esta em um misto de prazer e crueldade volta ao oceano afogando Jason, ambos entram em êxtase provocado pela morte.

Khaty estica seu braço na direção de Jason, que afogava-se em meio ao prazer, chorando e chamando pelo namorado. Uma segunda sereia, desta vez loira, emerge ao lado de Khaty segurando seu braço e puxando-a para o mar, sua força era colossal superior a qualquer humano vivo, Khaty estava presa as rochas, a sereia puxa mais forte arrancando o braço de Khaty, esta grita de dor, a sereia refugia-se no oceano quando Amy aproxima-se de sua irmã, apavorada com a cena dantesca Amy ignora Jason, aproximando-se das pedras ela sente um solavanco em seu bote, um segundo golpe mais forte atira Amy ao mar, ela tenta flutuar mas é puxada para o fundo, uma mancha de sangue forma-se em volta de onde ela estava.

Khaty começava a entrar em choque quando a morte de sua irmã a faz gritar de desespero, a sereia loira emerge com a boca e os seios sujos com o sangue de Amy, ela aproxima-se lentamente de Khaty, escalando os rochedos, caindo em cima de Khaty, a sereia revela sua calda azul roxeada, elegante, cintilante, a cima de tudo bela, a sereia morde o rosto de Khaty devorando-o.

Naquela tarde Robert estava no necrotério da cidade chorando desconsoladamente, o corpo de Khaty havia sido encontrado preso as rochas desmembrada e sem rosto, Amy estava desaparecida, mas sua embarcação estava tombada, Jason também havia sumido, mas os restos de seu bote foram encontrados. Fora Russel quem encontrara o corpo das garota que viu nascer.

Robert ergue sua cabeça ao perceber uma sombra sobre ele, era Gunnar. O sueco permanece em silêncio olhando para Russel, este tenta conter suas lágrimas, nenhum dos dois homens diz uma única palavra, Gunnar retira-se, Russel abaixa sua cabeça quando Russel aproxima-se de seu velho amigo.

- Estou cuidando dos preparativos pessoalmente.

- A culpa é minha? - ele olha para o delegado que não surpreende-se pela pergunta - se eu não o tivesse forçado a abrir a costa isto não teria acontecido.

- Sim, a culpa é sua. - Russel estava triste, ele havia visto Amy e Khaty nascerem, ele era o padrinho de baptizado de uma delas e por isto sempre sentiu-se parte da família e protetor, mas agora ele não sentia apenas tristeza ou raiva, mas sim um incontrolável prazer sádico e desejo de ferir seu amigo - não está feliz por não ter perdido um dia de trabalho?

Os dois são interrompidos por um policial que avisa ter encontrado mais dois corpos na praia.

Dee-Anne estava mergulhando com sua equipe colocando câmeras subaquáticas e colhendo amostras quando ela sobe a superfície um dos cientistas a avisa que a lancha da polícia aproximava-se do Calíope, Dee-Anne sobe ao barco pouco depois de Russel.

- Me desculpe, se eu estiver atrapalhando posso voltar depois.

- Não, já terminei, agora vem a parte chata, mas meus assistentes podem fazê-la.

- Você havia dito algo sobre vida marinha.

- Sim, alguns animais estão migrando e isto pode provocar acidentes.

- Mais três pessoas morreram hoje e...

- Você quer saber se eu sei de alguma coisa.

- Os corpos estão devorados, talvez você poça nos dar alguma pista, eu sei que não é uma coisa agradável então se não quiser tudo bem.

- Adoraria ajuda-lo.

Dee-Anne abre o zíper de sua roupa de mergulho exibindo seu busto coberto pelo biquine, ela retira sua roupa de mergulho até a cintura. Ela sorri de maneira maliciosa, olhando-o com o canto de seus olhos.

- Você se importa?

Russel vira-se de costas enquanto Dee-Anne termina de retirar sua roupa de mergulho exibindo um biquini que ela cobre rapidamente com uma roupa de passeio para ir até a cidade.

Minutos depois Russel leva Dee-Anne ao necrotério, onde juntamente ao legista a Dra. observa o corpo de Khaty, ela pede uma luva de látex para examinar os corpos, ela aproxima-se das marcas de mordida examinando-as, o legista lhe entrega um compasso onde ela mede o raio da mordida.

- As mordidas sugerem ser de um predador marinho, os dentes são serrilhados como um tubarão ou uma lampréia.

- Mas não foi um tubarão ou uma lampreia que a atacou.

O legista revela os corpos de Jhoshy e Estela, ambos semi devorados com as mesmas marcas.

- Não, definitivamente não foi um tubarão. O raio da mordida não pertence a nenhuma criatura marítima, mas não dá para ter certeza, preciso pesquisar.

Khaty estava presa nas rochas esticando seu braço, pedindo por ajuda, Robert aproximava-se a bordo de seu barco, ao lado de Amy. O pescador gritava para Khaty acalmar-se pois ele estava chegando, após uma segunda olhava Robert percebe que o rochedo estava vazio. O pescador acorda atordoado pelo sonho, ele não conseguiu salvar suas filhas.

Naquela tarde os corpos de Khaty e Amy foram enterrados Robert estava a frente dos dois caixões que eram depositados em seus túmulos, Russel estava um pouco atrás com San, os amigos das garotas e pescadores amigos de Robert compunham o rito fúnebre, um pouco distante estava Gunnar assistindo a cerimonia a distância com semblante triste, mais que o normal para alguém que não conhecia as garotas. San percebe o velho sueco, mas permanece em silêncio observando-o.

Após o enterro Robert afasta-se sem receber os cumprimentos, ele percebe Gunnar afastando-se quando ouve San conversando com seu pai.

- Ele estava aqui.

- Já disse para esquecer este assunto.

- Ele sabe de alguma coisa.

Robert aproxima-se.

- Quem?

- Gunnar - San adianta-se a seu pai - ele sabe alguma coisa.

- ignore-o Robert, ele não sabe o que fala.

- E você sabe?

Neste momento Dee-Anne aproxima-se dos três impedindo a discussão que estava para começar.

- Posso falar com você Russel?

- San, vá para casa e Robert, sinto muito pela sua perda.

- Claro que sente Russel - Robert afasta-se - claro que sente.

Russel e Dee-Anne caminham em silêncio até afastar-se dos demais.

- E então Dee-Anne?

- Sei que este não é o melhor momento, mas você está me devendo um favor e eu quero que venha comigo.

- Onde?

- Meu barco, eu dei folga para meus ajudantes.

Naquela noite Robert sonha que estava andando por uma cidade fantasma onde encontra duas garotas abandonadas em baixo de uma construção de madeira, semelhante a uma casinha de cachorro branca, toda a cidade era branca com detalhes em cinza. Robert abaixa-se a frente das garotas.

- O que foi garotas? Onde estão os pais de vocês?

Robert percebe que estava escorrendo água pelo teto da casinha, assim como de sua porta, a água torna-se rubra e viscosa como o sangue.

Robert acorda, mas permanece imóvel e em silêncio, permanecendo com seus olhos fixos no nada como se estivesse digerindo lentamente os últimos acontecimentos.

Ao mesmo tempo Russel saia pela porta da frente de sua casa ignorando sua mulher, ele sobe a bordo de sua viatura, mas não liga as sirenes. Dee-Anne estava a bordo do Caliope olhando o mar sereno, sabendo que por baixo de sua superfície calma havia muito mais do que podia-se notar.

No dia seguinte a praia continuava interditada, Gunnar equipava seu barco de pesca com um lança arpão, de tamanho e peso desproporcional,alguns pescadores percebiam, mas não ousavam aproximar-se, foi San quem tomou coragem e caminhou até o barco de Gunnar.

- Vá embora garoto.

- O que tem lá no mar?

- Como eu vou saber?

- Você sabe, é por isto que está preparando este arpão.

- Não tenho que falar com você.

- Mas pode falar comigo - Robert interrompe a conversa dos dois encarando Gunnar com severidade, esta retribui um olhar com pena e culpa - minhas filhas morreram, você me deve esta resposta.

Gunnar interrompe seus preparativos, fazendo um sinal para que os dois o sigam. Ele os leva até sua casa, entram pela pesada porta com seis trancas, em seguida passa pelo salão de troféus empoeirados abrindo uma pesada porta de aço.

- Eu sei que perdeu sua família, mas não desconte sua raiva matando a minha família.

Sem mais delongas Gunnar abre completamente a pesada porta de aço descendo as escadas a frente de seus dois convidados, estes sentem uma humidade no ar e um forte cheiro de água salgada, aliada ao som de algo nadando.

Ao terminarem de descer as escadas Robert e San vêem uma sereia viva nadando em um tanque de água de quase quatro metros de altura com nove de comprimento. A sereia era a mulher mais linda que os dois homens já tinham visto, ruiva, olhos verdes, nua em sua parte humana ostentando grandes seios bancos, sua pele era lisa e macia, face avermelhada, lábios carnudos e uma longa cauda azulada quase roxa a sereia nada para sobre a água olhando os dois estranhos assustada ela nada de costas como se fugisse deles.

- Tudo bem querida, eles não vieram machuca-la.

- Que brincadeira é esta?

- Sei que não é fácil de acreditar, mas uma sereia matou suas filhas.

- Seu velho filha da puta.

Robert começa a estrangular Gunnar jogando-o contra a parede, Gunnar tenta soltar-se, mas não tem forças para impedir Robert que teve sua força ampliada pela dor e ódio que sentia, San ainda perplexo tenta afasta-lo, mas é o canto da sereia que impede Robert, este fica enfeitiçado pela bela voz da sereia seguindo-a até o tanque de água a frente de San, Robert empurra o garoto subindo em uma escada até ficar frente a frente com a sereia, que em um movimento rápido segura a blusa de Robert puxando-o para o tanque de água, San é liberto do transe quando a sereia volta a entrar na água tentando afogar Robert. Gunnar corre até o tanque batendo em sua lateral para que a sereia solte Robert, ela obedece, Robert sobe a superfície tentando recuperar o ar, a sereia o segue assustando-o. Ela afasta-se para que Robert acalme-se.

- Não foi ela quem matou suas filhas.

Tanto Robert quanto San passam a prestar atenção no velho pescador que abre um antigo livro sobre uma mesa de metal enferrujada mostrando o mapa do mar nórdicos, mostrando uma área correspondente as águas internacionais próximas de sua terra natal.

- Tudo começou em 1964, o pior momento da minha vida, o momento da minha ruína, minha obsessão, meu amor, minha vida. Foi quando eu a encontrei - Gunnar olha para a sereia flutuando por sobre as águas com seus braços apoiados no beiral do aquário - eu era jovem e acabara de ser agraciado com a capitânia do Lirium, o quinto barco de uma frota de cinco barcos pesqueiros, eu deveria seguir os demais barcos para o mar e retornar a terra.

Gunnar ainda ouvia os gritos de seus marinheiros lutando bravamente contra a tormenta.

- Porém o mar não concordava com nosso plano, fomos atingidos por uma tempestade, nunca havíamos visto uma fúria tão poderosa os capitães mais experientes previram os sinais e voltaram a tempo, eu em minha arrogância aprendi a mais terrível das lições que um pescador pode conhecer: o mar é imprevisível, não existem relatos de tempestades até que elas aconteçam.

Gunnar faz uma pausa em sua narrativa, o assobio do vento provoca calafrios em Robert e San, do lado de fora uma nuvem cinza cobre o oceano, ondas começa a se formar, o vento balança violentamente as palmeiras, as pessoas na praia correm procurando abrigo.

- Perdemos muitos homens naquela tempestade, mas eu consegui levar o barco para o olho do furacão visando realizar reparos de emergência, por causa da tempestade eu havia me amarrado ao timão para evitar ser arrastado ao mar por uma onda, esta foi a minha salvação e a minha desgraça. Foi quando eu ouvi, aquele canto, o mais belo, som que já tinha ouvido, eu perdi completamente a razão, passei a agir por puro desejo e me entregar a este canto, mas não pude, estava amarrado - Gunnar parecia triste ou frustrado por não ter atendido ao primeiro canto da sereia - foi quando eu a vi, linda sobre as águas gélidas do mar sueco.

- Por que ela está aqui? - questionava Robert -ela matou seus homens.

- Ela não o fez por mau, é o seu instinto uma mistura de crueldade humana com instinto de sobrevivência animal. As sereias são carnívoras, ela seduzem os homens para sobreviverem, você sentiu os efeitos de seu canto agora mesmo Robert.

- Mais um motivo para mata-la.

- Não aproxime-se dela.

- Parece que você a ama - San entra na conversa, sem estar envolvido diretamente na discussão ele poderia pensar mais claramente - é verdade não é?

- Lógico que eu a amo. Quem não amaria esta criatura, por isto nós fugimos.

- Como assim fugiram? - Robert percebe que de fato Gunnar poderia ter algo a ver com a morte de suas filhas - vocês fugiram da Suécia, por que?

- Não fugimos da Suécia, mas sim das regiões gélidas. As sereias são animais de águas frias, eu sabia que quanto mais longe destas águas mais seguro eu estaria.

- Por que vocês fugiram - San não entendia por que submeter a sereia a um ambiente inapropriado - alguém descobriu sobre ela.

- Quando uma sereia não retorna ao seu refúgio as demais partem a sua procura, elas podem sentir a presença de suas iguais na água, eu tive que fugir com ela, caso contrário seria atraído para o mar e devorado por suas semelhantes.

- Entendi, com a mudança no clima e o aquecimento do oceano as sereias migraram para águas mais quentes e sentiram a presença da sua sereia no mar.

- Como sua sereia foi parar no mar.

- Ela atrai os peixes para minha rede. E agora ela será a chave para matarmos as duas sereias que vieram a sua procura, caso queira vingar sua filha venha comigo.

Ao mesmo tempo Russel olha para o céu vendo as nuvens, ele estava a bordo do Caliope, Dee-Ane o abraça pelas costas sussurrando em seu ouvido.

- É perigoso voltar agora.

- Preciso patrulhar a costa.

- Quem sairia em um tempo destes?

Começavam a cair as primeiras gotas de chuva, Gunnar leva Robert e San ao seu barco onde ele estava equipando dois arpões.

- Eu estava me preparando para caça-las quando vocês interromperam. Se quiser vingar suas filhas venha comigo.

- Se você vai pescar qual a sua isca?

- A minha sereia irá atrair as criaturas que mataram sua família.

- Eu também vou - San dá um passo a frente, sendo barrado por Robert.

- Eu não vou ficar de babá.

- Eu não vou me machucar.

- Não estou preocupado com você, apenas não quero ser atrapalhado por um novato intrometido.

- Eu amava Amy, eu amava a sua filha e se tiver a oportunidade de matar aquilo que a tirou de mim, eu irei faze-lo, com ou sem o seu consentimento.

- O garoto pode vir - Gunnar termina de prender o segundo lança-arpão - você sabe que em três será mais fácil.

- Por que não vamos no meu barco, ele é maior?

- Por que este está impregnado com o odor e com o gosto da minha sereia.

Assim o pequeno barco de pesca de Gunnar avança com a sereia ruiva nadando ao seu lado, indo rumo ao mar aberto, rumo a tempestade.

A bordo do Caliope Russel senta Dee-Anne sobre um pequeno armário em seu camarote beijando a boca da doutora, suas mãos percorrem os cabelos, ombros, cintura e sobem para seus seios, pressionando-os de baixo para cima. Dee-Anne retira sua blusa revelando os seios, os quais Russel apalpa antes de atira-la a cama e retirar com voracidade sua calça.

Uma vez na cama Dee-Anne estava recostada sobre uma almofada enquanto Russel lambia seu clítoris e massageava seus seios.

Minutos depois é a vez de Russel deitar-se sobre a cama, Dee-Anne senta-se sobre ele, ela sente o pênis de Russel penetrar sua vagina, a doutora move-se para frente e para trás vagarosamente, Russel segura sua cintura estimulando um movimento mais rápido, gradativamente o sexo torna-se mais rápido e selvagem com Dee-Anne cavalgando, seus seios saltavam com a força utilizada, em fim do dois gozam juntos.

Gunnar e os demais avançam em meio as ondas que ameaçam virar o pequeno barco, o velho sueco estica sua mão oferecendo um par de protetores de orelha para ambos.

- Isto não irá impedir que vocês ouçam o canto delas, mas tornará o efeito mais ameno, o ideal é amarrar-se ao barco, Robert vá ao primeiro lança-arpão, San vá para o segundo, eu seguirei minha sereia.

Uma onda gigante atravessa o barco pesqueiro, quando os dois homens ouvem um canto a distância, San é o primeiro a ser afetado tentando levantar-se, mas estava amarrado ao barco, a sereia loira cantava quando é surpreendida pela sereia ruiva, esta ataca sua igual levando-a para o fundo do mar

- Não, volte para a superfície - Gunnar parecia descontrolado - San prepare o arpão.

A sereia morena aproxima-se da luta puxando a sereia ruiva, que tenta desvencilhar-se antes que a loira lhe ataque, as três criaturas movem suas caldas, a ruiva sobe a superfície, San e Robert preparam seus arpões e disparam assim que as outras duas aparecem, San erra seu tiro, enquanto Robert atinge a cauda da sereia loira, esta submerge, seguida pela sereia morena, Robert tenta prender a corda do arpão ao barco, mas a sereia é muito veloz, ele tenta uma, duas e três vezes, a corda estava acabando, a sereia ia fugindo.

- Rápido com isto Robert - Gunnar estava furioso com a dificuldade do pescador - não ouse deixar escapar aquela que atacou minha sereia.

A corda estava acabando quando Robert a prende ao barco, logo os três sentem o solavanco, o barco era arrastado pela serei que tentava ir para o fundo do mar, Gunnar move-se até onde sua corda o permite prendendo uma bóia a corda do arpão.

- San, pilote.

O garoto move-se até o timão onde luta contra a força da sereia para manter o barco em linha reta. Gunnar prende uma segunda bóia a corda e uma terceira, impedindo que o barco afunde.

- Muito bem garoto, vamos cansa-la.

o barco é levado para a direita, San move o timão na mesma direção a velocidade começa a diminuir, era visível o sangue da criatura por sobre as águas.

Sob as águas a sereia morena tenta romper a corda do arpão mas sem sucesso, conforme a sereia loira ia enfraquecendo ela começa a subir a superfície, a sereia morena começa a cantar, Gunnar mira seu arpão na mancha vermelha e negra que surgia na água e dispara outro arpão o qual atravessa o peito da sereia loira, a morena desaparece no mar.

Os dois pescadores recolhem os arpões exibindo a sereia morta, seu sangue respingava sobre o mar enquanto os três homens comemoram sua vitória parcial.

Ao mesmo tempo o Calíope afasta-se da tempestade eminente, Dee-Ane entrega um pendrive a Russel dizendo que voltaria logo, enquanto a doutora examina a gravação da "pesca" da sereia loira filmado por suas câmeras espalhadas pelo oceano, Russel assistia a um vídeo de uma sereia em cativeiro, Dee-Anne coloca-se ao lado desta sereia.

- Esta sereia foi encontrada em águas internacionais próximo a uma ilha atolada na praia, como um mamífero que perdeu sua orientação.

A sereia estava dentro de um recipiente com pouca água, tentando enxaguar seu corpo.

- Diferente dos demais mamíferos ela não depende da água para respirar, porém ela é essencial para a manutenção da vida.

Ocorre um corte nas filmagens, agora a sereia estava em um recipiente seco, colocada de costas para a câmera os técnicos laboratoriais afastam seus cabelos revelando feridas em suas costas, assim como nos braços e parte do rosto, Dee-Anne coloca-se a frente da câmera novamente.

- Após 24 horas longe da água salgada o corpo da espécime apresenta sinais de necrose, a composição celular da sereia exige que ela esteja imersa em água salgada, podendo permanecer longe desta em pequenos períodos de até três horas.

Ocorre um novo corte, as costas da sereia estavam tomadas pela necrose, assim como seu braço esquerdo e face esquerda, o lado direito de seu corpo estava ligeiramente mais preservado, Dee-Anne entra em cena novamente.

- A espécime está quase uma semana afastada de qualquer tipo de contato com a água salgada, ela não apresenta fome e nem sede, iremos retirar uma amostra de pele do lado mais necrosado para análise.

Atrás de Dee-Anne os técnicos desinfetavam o braço esquerdo da sereia preparando para colher uma amostra de pele, ao penetra-la com o bisturi o braço da sereia desprende-se, revelando a podridão do interior de seu corpo. A sereia gritava agoniada, ocorre um novo corte.

A sereia estava presa a uma mesa cirúrgica, enfermeiros e médicos a circulavam, Dee-Anne vestia roupa cirúrgica e fala diretamente com a câmera.

- Ainda estamos no mesmo dia da ultima filmagem, vamos realizar uma vivissecção na espécime para observar sua anatomia e o funcionamento do mesmo. Para tanto é necessário que o espécime esteja vivo.

Dee-Anne aproxima-se da sereia onde penetra seu peito com um bisturi, a criatura se contorce sobre a mesa cirúrgica, Dee-Anne descrevia anatomicamente os órgãos da criatura, lamentando que estes também estivessem apodrecendo.

Russel não conseguia acreditar no que acabara de ver, ele permanecia perplexo perante as imagens da sereia sendo dissecada viva, seu silêncio é quebrado por Dee-Anne.

- Então? O que achou?

Russel volta-se assustado para aquela linda mulher, ele nunca a imaginara tão cruel.

- Antes que você pergunte as imagens são reais e aqueles garotos do necrotério foram atacados por uma sereia.

Aos poucos Russel ia recuperando-se do choque, ele levanta-se irritado indo até Dee-Anne segurando-a pelo pescoço.

- Você me usou?

Dee-Anne não consegui respirar, ela bate levemente no braço do policial que a solta, a doutora dá dois passos para trás apoiando-se na parede para recuperar o fôlego.

- Nossa, as filhas do seu amigo morrem e você está preocupado se foi usado? - ela sorri maliciosamente para o policial, que mais uma vez estava sem reação - vejo que escolhi bem.

- Escolheu o que?

- Alguém que conhece estas águas, alguém para me dar um álibi e a cima de tudo, alguém que me ajude a pescar esta sereia.

-Você tem ideia do que Robert vai fazer quando ele descobrir o que aconteceu com suas filhas?

- Ele já sabe.

Dee-Anne entrega uma fotografia impressa de Robert e Gunnar recolhendo o cadáver da sereia loira, a foto omitia a presença de San no barco de pesca.

- Então Russel? Agora que você se divertiu que tal trabalhar um pouco para o bem da ciência.

- Ou seria para o seu bem?

- Ou para o seu bem, descobertas trazem fama e fortuna.

Enquanto Dee-Anne convencia Russel a ajuda-la Gunnar navegava seu barco por entre ondas gigantes, o cadáver da sereia loira estava pendurado, seu sangue pingava no oceano, Robert e San estavam amarrados ao lança-arpão esperando por algum sinal da sereia.

- Robert! - San tentava chamar seu companheiro de caça, mas o som da tempestade estava muito alto - Robert.

- O que foi?

- Não é perigoso? Este sangue todo, ele não pode atrair tubarões ou algo do tipo.

- Não se preocupem - Gunnar sorria, pois havia previsto esta pergunta - Eu não sei explicar por que, mas nenhum animal marinho aproxima-se de uma sereia com instinto predatório, eles tem o mais profundo respeito por estas belas criaturas.

- Ou o mais profundo terror.

- Pode ser Robert, pode ser.

A bordo do Caliope o navegador do barco-laboratório reconhece o sinal de uma sereia nadando rumo a uma pequena embarcação, ele chama por Dee-Anne, que observa o radar acompanhada de Russel.

- Acho que vamos encontrar com seu amigo.

O Caliope corta uma onda gigante, sua tripulação coloca filtros de ouvido que permitem a passagem do som da voz humana e nenhum outro som, além de óculos infravermelhos, o barco segue o sinal da sereia enquanto Gunnar vê a sua sereia ruiva na superfície, ele grita para seus companheiros que a sereia está perto quando o Calíope desponta no horizonte vindo em sua direção, Gunnar move o timão bruscamente evitando uma colisão, os dois barcos ficam lado a lado, Robert reconhece Russel, este reconhece San.

- Você sabia que San estaria aqui sua puta.

- Então você sabia Russel? Sabia da sereia. Você as viu crescer e não fez nada.

- Foi você quem me pressionou para abrir a costa Robert, foi você e só você o principal responsável pela morte de Khaty e Amy.

- Não fale os nomes dela, não quero ouvir o nome das minhas filhas saírem da sua boca, você está sujo, eu não quero que você as suje.

- Eu as amava como se fossem minhas filhas, mas foi você quem as matou.

- Cale a boca.

- A morte das suas filhas foi culpa sua.

- Assim como a morte de seu filho.

Robert vira o lança arpão para dentro de seu barco mirando em San, este joga-se na água tentando evitar ser morto, mas ainda assim é ferido, tomado pelo reflexo Russel saca sua arma atirando em Robert pelas costas descarregando sua arma. Robert morre amarrado ao lança-arpão enquanto Russel salta no mar lutando conta a correnteza.

San tentava voltar ao barco quando ouve o canto da sereia, ele nada na direção oposta ignorando os gritos de seu pai, Russel tenta nadar contra a força das águas. a sereia ruiva abre seus braços recebendo San em seu peito nu, os dois beijam-se apaixonadamente, enquanto adentram nas profundezas do mar, Russel grita por seu filho mergulhando atrás dele. Nenhum dos dois voltaria a subir a superfície.

O Caliope recolhe suas redes, com a sereia morena presa a eles, olhando para o oceano confusa, a sereia ruiva emerge com sua boca suja de sangue, ela olha para a sereia morena com superioridade, já a sereia morena expressava o mais profundo desapontamento. A sereia morena é recolhida nos porões do Caliope enquanto Gunnar retira seus protetores de ouvido, ele caminha até o cadáver da sereia loira deixando-o cair no mar, logo o cadáver é recolhido pelo Caliope. Gunnar caminha até a proa do navio, Dee-Anne faz o mesmo os dois olham-se em silêncio por alguns segundos, é a doutora quem quebra o silêncio.

- Segundo os instrumentos de medição a tempestade deve parar em duas horas...

- Não, vai parar em quarenta minutos, confie em mim, eu conheço o mar.

Em exatos quarenta e dois minutos a tempestade para, os dois barcos navegam juntos até Gunnar fazer um sinal para o capitão do Caliope e aproximar-se da proa, ele entrega um mapa para Dee-Anne, que observa uma marca próximo a algumas ilhas.

- Foi aqui que você encontrou aquela sereia?

- Sim, ela estava procurando por sua colega ruiva. Então estamos acertados?

Dee-Anne faz que sim com a cabeça, um dos assistentes joga uma sacola de dinheiro para Gunnar, que não se dá ao trabalho de conferir.

- Só isto basta?

- Eu estou velho, tudo o que preciso é de um lugar para recomeçar e dinheiro para construir um novo tanque para ela.

Os dois barcos separam-se, Gunnar ia ao timão cantarolando a doce e mortal canção das sereias.

Anne estava em sua casa observando fotografias de seu marido e San, esperando que eles voltem para casa. Em uma das fotos Russel e Robert faziam um churrasco, os dois amigos brindavam com seus filhos a frente, San e Amy ainda crianças correndo por um campo verde, as duas irmãs abraçadas com San, em uma época em que todos eram felizes.

FIM