A 150 km do inferno...

A noite estrelada presenciou como em muitas outras, o lento caminhar de Pietro, pelo meio do antigo parque de diversão e parar sob uma árvore, sentar e olhar as estrelas.

Há muitos anos não mais funcionava o parque desde que a tragédia da montanha russa levasse para o além, 13 vidas, estraçalhadas por entre as ferragens a 150 kilometros por hora.
Pietro Romanev era um dos responsáveis pelo funcionamento e manutenção do parque, mas o único ainda vivo e que vez ou outra vinha olhar a sucata do seu antigo trabalho.
A direita de onde estava uma roda gigante, ao fundo dois carrosséis, mais alguns brinquedos e a sua esquerda, a montanha russa.
Ao todo 25 cadeados e fortes correntes condenavam o velho brinquedo a nunca mais funcionar, mesmo porque deteriorado pela oxidação nada mais poderia ser feito para recuperá-lo.
Ficara parado até a justiça resolver seu destino, mas acharam por bem desativar o parque todo.
Apesar de ser absolvido no julgamento, Pietro carregava também a culpa pelo desastre.
O que Pietro não sabia era que os outros donos e funcionários do parque condenados ou não, depois de 15 anos passados estavam todos mortos e morreram em condições misteriosas.
Eram 2 horas da madrugada, apesar de envolto em pensamentos Pietro pode divisar nas proximidades do alambrado que cerca o antigo parque um vulto, apurou a audição e ouviu uma tosse, e na penumbra viu o vulto contornar um dos carrosséis e ir em direção da montanha russa.
Um arrepio lhe percorreu a espinha, acendeu um cigarro, olhou fixamente a base da montanha russa e dirigiu-se para lá.
Quando deu 3 passos um barulho infernal de corrente veio do alto da montanha russa e depois o silencio...
Ao chegar à montanha acendeu o seu isqueiro pra olhar a plataforma ao pé da montanha, onde as pessoas paravam para embarcar.
Como um filme, o dia fatídico retornou em sua memória de maneira clara... Os pedaços humanos foram sendo reunidos pelos bombeiros e amontoados naquela pequena plataforma, um local coberto e de fácil acesso a saída do parque.
A jovenzinha que morreu com os alvos olhos azuis esbugalhados, e o crânio esfacelado...
O senhor que tinha um grande corte de cima abaixo em seu corpo, e que instintivamente antes de morrer pegou a boneca de sua neta e a tinha ainda no que sobrou de seu braço...
E invariavelmente a velocidade da montanha russa, acima do normal, promoveu entre todos, uma carnificina de revoltar o estomago de qualquer um.
O sangue naquela tarde jorrara abundante para o horror de todos.
Ao lado da plataforma as longas cadeiras para o transporte, que Pietro iluminou e mais abaixo no chão,  pingos de sangue.
Por ser uma área coberta o sangue conservara-se durante anos, nos primeiros a pedido da justiça, depois porque não havia mais ninguém para a manutenção.
Um leve som o chamou a atenção como que o deslocar de uma locomotiva, e ao dar um passo à frente, tropeçou e caiu sobre as cadeiras, ele sentiu uma dor forte nas costas e se arrumou na cadeira para esperar passar a dor...
Novamente ouviu o som, e ao tentar mexer-se viu da impossibilidade, e desesperou-se... As cadeiras da montanha russa começaram a movimentar-se para frente.
O barulho de ferro retorcido era infernal, e caíam em seu colo pedaços de correntes, enquanto a velocidade aumentava lentamente...
Gritos de horror encheram a noite vazia... 10... 20... 30... 50... 100... 150 kilometros por hora, Pietro rezava em voz alta, enquanto a cidade ao longe passava como um facho de luz apenas...
Quando a montanha estabilizou em 150 kilometros por hora ele ouviu longas gargalhadas e como afiadas lâminas os velhos ferros enferrujados, retalharam o seu corpo, reduzindo tudo a pequenos fragmentos de carne...
Pela manhã aquele terreno baldio, longe da cidade guardava apenas os velhos pingos de sangue na plataforma coberta, lavados pela chuva da madrugada, pedaços de vestes de alguém que por ali passou algum dia e aguardou sua hora de pagar uma dívida...
 


xxeasxx

 
 
 
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 25/02/2010
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T2107509
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.