Marcas da Infância

O acampamento.

- Formem uma fila única...
Essa frase não saía de minha cabeça, era um caos para pegar o material para o acampamento, os meninos passavam a mão no traseiro das meninas e a professora fingia que não via, não sabia o motivo.
Meu nome é Max, eu era uma das crianças desaparecidas na amazônia, foi em um domingo á tarde, o velho ônibus escolar nos levou para a floresta acompanhados por dois monitores e a professora Deyse.
Na minha época, as crianças não eram bem comportadas e educadas como vemos nos filmes e novelas, falavam palavrões, tacavam bolinhas de papel e xingavam o monitor, na maioria das vezes, colocavam a culpa em mim por eu ser mais tímido da turma. Chegando no local, tivemos que armar as barracas no meio do mato, mosquitos nos picavam á toda hora, eu ajudava Aline, a garota que eu gostava do colégio, mas ela fingia que eu não existia, como todas as outras. Cada barraca ficavam três alunos, eu dividi a minha com a professora e um menino de cabelos curtos, anoite, quando todos estavam dormindo, ouvi passos do lado de fora e percebi a ausência da professora Deyse, levantei-me para ver aonde estava aquela bruxa, estava em outra barraca transando com o monitor, fiquei indignado, como querem dar educação, se eles se comportam piores que os alunos?
Inesperadamente, avistei a cabeça de um homem olhando para mim atrás das árvores e quando notou, desapareceu, meu coração gelou, será que era um maníaco ou um ladrão?! No dia seguinte, acordei com gritos dos alunos, as crianças chorando, falando que queriam ir embora, e os monitores pedindo calma. Vários alunos haviam desaparecido, inclusive Aline, me meti na confusão e disse que tinha visto alguém atrás das árvores de madrugada, dona Deyse ficou desconfiada, junto com seu amante, achando que eu ia entregá-los, o monitor Jeff me pegou de surpresa e disse:
- Você contou para alguém sobre eu e a dona Deyse?
- Não se preocupe, eu vi mas não vou falar.
- Acho bom mesmo!
- Quando vão começar as buscas?
- Não sei, vamos ver com o outro monitor Rubens, ele ainda não sabe de nada!
- Eu quero ir junto
- Bom saber disso!
Arrumamos nossas coisas e partimos floresta á dentro, atrás de pistas dos alunos, eu me sentia um herói tentando salvar minha amada da selva.

As buscas.

Andávamos há horas, restavam somente eu, os monitores e mais dois alunos, Felipe e Ricardo, que dividiu a barraca comigo. Morrendo de sede, Ricardo pede água e leva uma bofetada de Jeff, que olha pra mim e sorri, eu não estava entendendo nada, só queria achar Aline e dar o fora dali. Dormimos novamente, e á noite senti uma mão feminina e leve passando em meu rosto, ao abrir os olhos, vi uma imagem que nunca mais irei esquecer, era Aline com o rosto machucado e sangrando na cabeça, e disse baixinho:
- Me ajude...me ajude...
Acordei suado, era só um pesadelo terrível que tive, Felipe veio ao meu encontro e disse que Ricardo tinha desaparecido junto com o monitor Rubens, o desespero tomou conta de todos e Jeff estava apavorado. Resolvemos caminhar mais, e no meio do trajeto, avistei uma parede de barro com marcas de mãos pequenas, indicando uma trilha e disse:
- Vamos seguir por aqui pessoal!
Deyse e o monitor se olharam e me perguntaram se eu tinha algum plano, eu disse que sim e Jeff me elogiou:
- Você me enche de orgulho Max
Felipe andava trêmulo, olhando para os lados e eu não parava de ver os sinais das mãos na terra, iniciou uma intensa chuva na floresta e isso me dava mais energia que chegar até o fim dessa história e descobrir o que houve com Aline e as outras crianças. Tivemos que acampar novamente e Deyse entrou na minha barraca e disse o que eu pretendia fazer realmente e eu falei para confiarem em mim, pois sabia o que estava fazendo.

O desfecho.

Naquela noite, eu não consegui pregar os olhos, ouvia risos de crianças na floresta e passos ao redor, pareciam estar todos ali, brincando como sempre, mas não me atrevia a sair, sabia que era ilusão, talvez coisas da minha mente. No dia seguinte continuamos o caminho na mata, percebi que os monitores cochichavam entre si, talvez achassem que eu era louco.
Sentimos um cheiro de carniça muito forte, ao abrirmos umas folhagens secas, se deparamos com um corpo em decomposição, sendo comido por vermes e urubus, pendurado num galho, tinha sido enforcado por uma corda, o cadáver tinha um crachá no bolso, quando eu peguei que vi a foto, me assustei, era o mesmo rosto que tinha visto na primeira noite do acampamento, atrás das árvores, mas ele estava apodrecendo há meses...
- É ele, o mesmo homem que eu vi na noite do acampamento, eu tenho certeza!
- Vamos embora daqui, estou ficando com medo - disse Felipe
- Nada disso, vamos continuar, estamos perto agora!
- Tem razão Jeff - disse a professora Deyse
Chegamos num beco sem saída, aonde tinha acabado os sinais das mãos e vi uma flor sobre a terra, meu instinto me forçou a cavar, quando comecei a retirar o corpo de uma criança, ouvi um disparo, o monitor atirou na cabeça de Felipe, matando na hora e disse:
- Ele sabia demais, por que está retirando o corpo seu idiota?
- Para avisar a família, enterrá-los num lugar digno, pensei que estivessem preocupados com eles!
- E nós pensamos que você estivesse do nosso lado, no dia que nos viu na barraca!
- vocês não estavam transando?!
- Estávamos estuprando a Aline e depois nós a matamos e escondemos o corpo aqui!
- O que?! e os outros?!
- Eram testemunhas e resolvemos matar também, quando nos disse na frente do Felipe, que queria vir aqui, pensei que tivesse um plano.
Tudo se esclareceu na minha mente, primeiro aquele homem misterioso, depois Aline, os espíritos queriam me avisar de algo, e eu não ouvi por ser descrente, a professora me amarrou e rindo, pediu ao amante que me deixassem sozinho na floresta para ser comido por animais e vermes.
Após algumas horas, consegui me desamarrar e peguei uma folha em branco e escrevi essa carta que você lê, coloquei numa garrafa de vidro e deixei o rio levar até o oceano, se você leu esta carta, venha me resgatar por favor, estou perdido na amazônia, talvez esteja vivo, mas provavelmente estou morto, só diga aos meus pais que sempre os amei e que estou bem, por que estou com Aline...
Alexandre S Nascimento
Enviado por Alexandre S Nascimento em 07/03/2010
Reeditado em 25/09/2016
Código do texto: T2124961
Classificação de conteúdo: seguro