A CASA DA RUA 10

O sol começava a se despedir do céu naquela tarde de verão e calor escaldante,num espetáculo de rara beleza,dando contorno às montanhas um tom avermelhado,o que prenunciava a chegada de uma noite de céu limpo,estrelado e coroada pela presença marcante e brilhante de uma lua cheia.

Ninguém podia deixar de apreciar aquele momento especial.Aquele momento em que a natureza mostrava toda a sua beleza que se tornava ainda mais mágico por causa da dama da noite que começava a exalar seu perfume forte e embriagante.

Mas, apesar dessa beleza e magia toda,devido a chegada da primeira noite de lua cheia, a apreensão tomava conta daquela casa na rua 10.

Toda época de lua cheia era a mesma coisa.Dona Madalena cobria os espelhos,passava o dia todo fazendo orações ,num ritual frenético e alucinante,como que previsse alguma coisa de sobre natural pudesse acontecer.

Mas o que acontecia naquela casa afinal? Que mistério cercava a residência de dona Madalena que a deixava tão temerosa?

Mistérios...muitos mistérios...

Dona Madalena,era uma senhora de cinqüenta e poucos anos ,viúva a pouco tempo,morava com Abigail,sua única filha.

Quando seu marido se aposentou,com o dinheiro que recebera da indenização recebida referente aos seus trinta e cinco anos de serviços prestados na mesma empresa,comprou aquela casa.

O dia da compra da nova moradia foi o dia mais feliz na vida de dona Madalena,pois esse era um sonho de muitos que tornara enfim realidade.

Seu Antonio,então marido de dona Madalena,um sujeito forte,saudável,sempre bem disposto e que embora recém aposentado,pretendia montar em negócio próprio e continuar trabalhando,pretendia também reformar a casa,construir uma piscina,enfim,sonhava ir mais além.

Mas,nem tudo foram flores.Após a mudança para a nova casa,coisas estranhas começaram a acontecer.

Barulhos eram ouvidos na casa durante a madrugada,copos caiam e quebravam sem que ninguém os tocassem,lâmpadas piscavam e queimavam constantemente.

Sem motivo nenhum aparente e justificável,seu Antonio, começou a mudar o comportamento e atitudes,chegando até a assustar dona Madalena.Seu marido começou a beber e fumar,coisa que nunca fizera antes,passou a não cuidar de sua aparência,num completo desleixo

O casal que vivia em plena felicidade,agora,viviam em constantes brigas e agressões.Nem Abigail,sua filha,escapava de sua ira.

Três meses após a mudança para o novo endereço e a imprevisível alteração de comportamento,seu Antonio cai subitamente enfermo.

Levado à diversos médicos e especialistas,ninguém conseguia diagnosticar o mal que o pobre homem tinha.Que doença seria aquela que o consumia, pois em um mês da doença aparecer ele,seu Antonio,perdera 10 quilos e já não conseguia mais levantar da cama nem se alimentar sozinho. Misteriosamente e sem qualquer diagnóstico plausível,seu Antonio morre dois meses depois,completamente desfigurado pela perda assustadora de peso,era somente pele e osso. Tão horrível ficou a aparência daquele homem que os médicos sugeriram enterrá-lo horas depois,após breve velório e com seu caixão fechado.

Dona Madalena,não se conformava com a perda do marido daquela maneira tão drástica e misteriosa.

Mas, apesar da dor que sentia pela ausência e saudade ,tinha que levantar a cabeça e continuar a luta,pois enfim, ávida continua.

Mas a casa continuava a assustá-la ,pois as coisas estranhas continuavam a acontecer, e essas manifestações sobrenaturais tornavam mais evidentes,principalmente na época de lua cheia. Por isso nessa época,dona Madalena,tentava e cercar de certos cuidados,como as orações em voz alta,acender velas, e outros rituais diversos.

Certa noite,ela foi acordada subitamente devido ao som de vozes estranhas vindo da sala de visitas.Dona Madalena levantou-se no escuro e pé ante pé dirigiu-se ate ao local onde vinham as vozes e para sua surpresa viu que em volta da mesa de jantar haviam pessoas reunidas.Ela não poderia estar sonhando ou tendo uma alucinação pois a imagem era nítida,principalmente pela claridade da lua cheia que invadia todo o ambiente,tornando o local ainda mais assustador.

Ela,porém,aproximando-se mais daquelas pessoas que não conhecia,tentava escutar em vão o que conversavam.Eles todavia,não deram a mínima atenção a ela.Era como se eles não a vissem.

Numa arrojo de coragem,dona Madalena,balbucia algumas palavras aos reunidos perguntando-lhes o que eles estavam fazendo em sua casa e um senhor que estava na cabeceira da mesa fita-a como que censurando-a ,volta-se aos demais,dão-se as mãos e desaparecem envolto a uma névoa esbranquiçada que os envolvem.

Dona Madalena,gélida e já sem cor,tragada pelo medo,desmaia e só é acordada pela manhã,misteriosamente em sua cama.

Teria sido ela vítima de um horrível pesadelo? Mas e aquela sensação estranha que estava sentindo? O olhar daquele senhor não lhe saia da mente.Era como se ele quisesse dizer alguma coisa.Mas o quê? Que mistério tinha aquele lugar? E seu marido?Fora ele vítima daquela maldita casa?Quantas perguntas. E respostas? Nenhuma.

A mulher coitada já não dormia mais,passava as noites em claro ouvindo aquelas vozes,os ruídos,as batidas,estava totalmente desorientada e a mercê da casa. Um dia porém,resolveu procurar o padre da cidade e contar-lhe tudo o que estava acontecendo,o que foi ouvido atentamente pelo sacerdote e que se prontificou em ir até sua residência no dia seguinte pela manhã.

No dia seguinte logo cedo,após outra noite sem dormir devido aquelas reuniões que se tornara constante,levantou-se se preparou para receber o padre.

Já passavam das dez horas quando finalmente o religioso chega a casa de dona Madalena.Ele entra,trazendo em suas mãos uma bíblia e um terço e sem nada dizer começa a fazer suas orações.Enquanto rezava,barulhos e gritos podiam ser ouvidos por todo o interior da casa.O padre após acabar as orações e muito assustado com as manifestações que presenciara,despediu-se de dona Madalena ,garantindo que voltaria no dia seguinte para continuar seu trabalho.

Foi o último dia em que viram o padre com vida.Ao sair da casa de dona Madalena,no caminho até a igreja,foi assaltado por dois indivíduos e sem esboçar qualquer reação foi brutalmente assassinado.

Dona Madalena ficou chocada com a notícia da morte do sacerdote e por não poder contar mais com ele para benzer a casa procurou continuar seu trabalho fazendo orações ,mas pouco adiantava,as manifestações continuavam cada vez mais freqüentes e mais fortes.Dentro da casa,apesar do intenso calor da rua,era fria,sem vida,as janelas não eram mais aberta para a a entrada do sol,o cheiro de umidade começava a impregnar o interior da residência,causando um certo mal estar.

Abigail,sua filha,que antes era muito ativa,trabalhadora,gostava muito de estudar,de ler,ajudar nos afazeres de casa,como que tragada pela carga negativa emanada pela casa passou a ficar sem ânimo,apática,já não saia de seu quarto,passava o dia quase todo dormindo.

Por não se alimentar direito e pela vida sedentária que estava vivendo,Abigail cai doente,para desespero de sua mãe.

Apavorada com a situação e temendo pela vida de sua filha,foi procurar uma benzedeira que morava nas vizinhanças.

A benzedeira, conhecida pelo nome de Mãe Zinhá,após ser colocada a par dos acontecimentos não perdeu tempo,juntou seu velho e usado rosário de contas,pegou algumas ervas,velas e partiu para a casa juntamente com dona Madalena.

Assim que chegou a porta da casa ,Mãe Zinhá, que também era vidente, após ser acometida de forte arrepio,percebeu logo o que estava acontecendo.

Preparou ali mesmo na sacada da porta,seus apetrechos,acendeu um defumador,pegou um copo de água,o rosário e entoando uma oração desconhecida por dona Madalena,foi entrando a passos lentos no interior da casa.

Quanto mais alto era orava,mais forte eram os barulhos e batidas vinda das paredes,as cadeiras pulavam como tivessem vida,os copos caiam e quebravam,as lâmpadas estouravam e Abigail como se estivesse sentindo dores gritava.

Assim que a benzedeira acabou seu ritual,disse a dona Madalena que o trabalho a ser feito naquele lugar era muito grande pois as forças que estavam ali eram muito poderosas e não estavam afim de se renderem com uma simples oração.Portanto,teria que voltar por vários dias seguidos até que a presença estranha daqueles seres tiver acabado.

A benzedeira despede-se e sai.Na manhã seguinte, a notícia,Mãe Zinhá foi vítima fatal de um ataque cardíaco durante a noite e falecera enquanto dormia.

A partir dali as coincidências deixaram de existir pois as duas pessoas que foram tentar harmonizar a casa tiveram morte em situações estranhas,causando ainda mais desespero em dona Madalena.

Abigail,sua filha,cada vez mais apática e doente,definhava a olhos vistos, deixando-a mais preocupada ainda..

A cidade inteira já sabendo o que acontecia naquela casa evitavam passar pela porta,ou até mesmo se aproximar de dona Madalena com medo de que alguma coisa de mal pudessem atingi-las.

Um outro benzedor,muito conhecido e respeitado na cidade,sabendo do caso por intermédio dos moradores,resolveu ajudar e procurou dona Madalena em sua casa.

Assim que o médium entrou na sala de visitas foi imediatamente impedido pelas forças ali presentes a continuar seu trabalho,causando-lhe tanto mal estar e dores que o pobre coitado foi embora antes mesmo de terminar sua tarefa prometendo nunca mais voltar naquele lugar.

Devido à fraqueza,por não se alimentar,pela vontade de viver que Abigail já não tinha mais e tendo suas energias sido totalmente sugadas pela casa,morreu meses depois.

Na hora da morte de Abigail,pode-se ouvir vindo da casa,gritos e urros sobrenaturais e outras manifestações macabras,como que festejassem a partida da jovem.

Após a morte de sua filha,dona Madalena,já completamente desnorteada e a mercê daquela casa maldita ,entrou em profunda depressão tendo a bebida como sua constante companheira.

Dona Madalena,para fugir da obsessão e do assédio daqueles seres,bebia tudo o que podia até cair completamente embriagada.Só assim podia dormir sem sentir aquelas presenças malignas.

Até que um dia, o inevitável acontece.Dona Madalena,em total estado depressivo,começou a beber cedo e após grande dose de bebida,começou a lembrar-se do marido, do quanto ele a amava,dos sonhos que tinham em construir ali seu lar,sua vontade crescer e prosperar,lembrou-se da meiguice de sua filha,de quanto ela gostava de viver,vivia cantando,sempre alegre e tudo acabou assim,de repente.Tudo na vida de dona Madalena virou de pernas pro ar.Havia terminado sua razão de viver.Não tinha mais porque estar ali vivendo.Só pensava em estar junto do marido,da filha.Queria tê-los de volta.

Mas para que isso acontecesse teria que ir ao encontro deles.Então num afã de coragem e desespero,foi até a garagem,pegou uma corda,amarrou-a bem na porta,subiu numa cadeira e pulou.Pulou para o eterno encontro de seus entes queridos.

Algumas semanas depois,um corretor chega à casa trazendo consigo uma nova família interessada em comprar a residência.

Ao entrarem na casa,felizes e ansiosos para fecharem logo o negócio,pois a casa era boa e o preço atraente,não se deram conta do espelho ainda coberto,das marcas da tragédia abatida sobre a família de dona Madalena e que na sala de visitas,mais precisamente em volta da mesa de jantar estavam reunidos novamente como um comitê de recepção a espera de mais vítimas,afinal eles precisavam disso,ali era a moradia deles e ninguém poderia tirá-los de lá.

Numa certa manhã, o sol dando o ar de sua presença mostrando que seria mais um dia de intenso calor,chega finalmente a mudança na casa maldita e sem mais demora começam enfim a descarregar o caminhão e ajeitar as coisas no lugar.

O trabalho foi árduo e durou o dia inteiro e lá pelas seis da tarde aproximadamente começaram a sentir aquele perfume inebriante da dama da noite e o sol começava a se despedir do céu, o que prenunciava a chegada de uma noite de céu limpo , estrelado e coroada pela presença marcante e brilhante da lua cheia.

E eles ali,sem se dar conta de nada,sem ao menos perceber que em volta da mesa de jantar da sala de visitas,três novos lugares estavam ocupados naquela macabra reunião,o sr.Antonio,dona Madalena e a jovem Abigail.

Naquela mesma noite,os novos moradores começaram a perceber e sentir o poder.O poder da casa da Rua 10...

Carlos Alberto Omena
Enviado por Carlos Alberto Omena em 05/04/2010
Código do texto: T2178647
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.