Casamento infernal

Ele sempre detestou o namorado da filha.

Gordo, vagabundo, mentiroso, inutil....era ótima pessoa, o único defeito era ainda estar respirando.

A filha era linda, inteligente (bem, se fosse tão inteligente não namoraria aquele inútil), mas enfim, foi o desgosto na sua vida.

Parecia uma doença, um feitiço, por mais que se falasse com a tal filha, parecia que mais se "apaixonava", parecia fazer de propósito.

Os dias foram se passando.

O sentimento de ódio crescendo.

Discussões. Bate boca. O tempo passando.

O pai tentou sua última cartada.

Ameaçou a filha: se você se casar com ele, nesse dia esqueça que tem pai, pois eu esquecerei que tive uma filha.

A resposta veio rápida e cortante com faca:

- Faça isso e você sofrerá muito mais.

Aquelas palavras doeram. E alimentaram o ódio do pai pelo vagabundo que desgraçou sua vida e roubou sua filha.

Ele prometeu a si mesmo, aos anjos e demônios de plantão que aquele casamento não aconteceria.

Pai e filha não se falaram mais desde então.

O tempo cruel cumpria seu destino.

O casamento foi marcado.

Ele nunca mais falou sobre o assunto com ninguém.

Fechou-se como se fosse um casulo.

Falava muito pouco, com quase ninguém. Pouco saia de casa, só para trabalho.

Foi se definhando aos poucos.

Talvez o amor que sentia pela filha nunca foi compreendido.

Chegou o dia. O maldito dia do casamento.

Havia uma semana que ele não voltava para casa, mas havia deixado avisado que faria isso.

Para onde foi? Ninguém ficou sabendo.

No dia do casamento ele voltou. Estava estranho apesar de aparentar felicidade.

Seus olhos estavam vidrados, as pupilas dilatadas e o olhar vago.

Sua expressão era de dor, de decepção e morte.

Seus olhos não escondiam que passara dias chorando.

No casamento civil muitas pessoas aguardavam a chegada da noiva e do noivo.

Ele cumprimentou a todos muito cordialmente.

De repente, a filha chega, ele se aproxima, a abraça e pede perdão aos prantos.

Perdão pelo que ele fez e pelo que faria.

Ela o perdoa meio sem saber exatamente sobre o que ele está fazendo.

Ele se afasta. O noivo chega e se aproxima da noiva.

Ela fala sobre o pai.

Ele vem se aproximando devagar e para em frente ao noivo com um sorriso sútil, um aperto de mão. O noivo sem ação. Um abraço.

E no abraço um gemido abafado.

- Eu fui ao inferno e voltei para te buscar. Você desgraçou minha vida, roubou minha filha e tirou minha sanidade. Agora venha. Vamos para onde é nosso lugar, infeliz.

O tecido preto do terno agora estava marcado por um fio de sangue.

A faca certeira entrara e fora até o coração.

Desespero, gritos e pânico.

A promessa fora cumprida.

O casamento não aconteceu.

Ao lado do noivo morto apenas uma faca ensanguentada e as roupas que o pai estava usando.

Realmente ele havia ido ao inferno e voltou cobrar o preço pelo qual vendera sua alma.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 31/05/2010
Código do texto: T2292120
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