Hecatônquiros I - A violação do meu ocio. (Veritas Emanara)

“Nas sombras se esconde um mal pernicioso que ocupa a mente daqueles que se amedrontam com os farfalhar das folhas em noites de tempestades, o medo primitivo, o terror instintivo o temor de caminhar no escuro da noite. Mas eu o desafio, eu caminho nas sombras a procura de algo que possa me completar e me perco nos labirintos do destino, ouso a quebrar as regras do véu, eu enxergo o invisível e ele também pode me ver. Caminho lado a lado e sem saber o que esperar vejo aparições, moveis se movendo por um querer inviável, aparelhos ligando e desligando, e mesmo assim continuo, portas que se fecham e nunca mais se abrem, ouço gritos, choro, discussões, poderiam me chamar de esquizofrênico, profeta, iluminado. Não sou e nem quero ser; luto com forças contrarias da minha vontade e quando penso em descansar a cabeça, em meus sonhos ela aparece. “

Seria mais uma noite de sonhos qualquer, cercada de rotina e frustração se não fosse por ela, uma visão, uma violação das leis do meu ócio, ele me fez segui-la, entre uma trilha de mata densa, em volta de ruínas de uma arquitetura familiar, pra mim parecia romana, ela parou em frente de uma casebre, velho, úmido e coberto de folhas e cogumelos alaranjados que exala o odor peculiar, bruscamente virou-se para mim com os olhos cerrados, e com o seu cabelo da cor do fogo balançando aos ventos olhou nos meus olhos e deu um sorriso e adentrou as portas.

Aos poucos fui me aproximando, mas algo me dizia para voltar, mas a minha curiosidade era forte demais, em minha mente alguma lembrança de conhecê-la de algun lugar existia. Temerosamente e relutante adentrei o casebre, por dentro ele era totalmente contrario da sua aparência externa, Construida internamente por mármore branco e ao fundo uma enorme lareira também do mesmo material so que escuro com ornamentos dourados e acesa com um fogo tão vivo que ate parecia real.

Ela estava de costas olhando dentro de uma espécie de caixa de mármore que se alongava por toda a extensão do recinto levemente virou a cabeça e de rabo de olho constatou a minha presença, como e se ja não soube-se e disse.

- eu sabia que você viria, a sua curiosidade maior que seu receio. Por anos busquei o meu maior desejo. E você realizou para mim agora deve lhe apresentar.

- devagar e delicadamente ela retirava algo de dentro da caixa de mármore envolvido em seus braços por uma manta escura.

- eis aqui o meu maior tesouro, teu filho!

- com espanto uma alegria súbita tomava conta de meu rosto, fazendo um sorriso sereno, ao me aproximar dela e da criança minha expressão ia mudando, tentava entender o que estava vendo , aparentemente deveria ser uma criança humana,com trejeitos de um bebe, mas ao dar foco à criatura em seus braços era nitidamente uma cabra de três chifres, seus olhos vermelhos eram como o vermelho vivo das chamas, seus pelo mais escuro que a noite mais densa, um arrepio tomou conta do meu corpo.

- este e teu filho meu querido, teu filho, - dizia com uma voz assombrosa que ecoava pelo recinto

- agora vá. – dizia colocando a criança, ou o que seja no berço de mármore

- não olhe para trás, não posso segura-los por muito tempo.

- segui em direção da porta, sem olhar para traz, sentia que mil pessoas olhavam para a minha nuca e que se eu vira-se algo ruim aconteceria.

Apertando os passos passei pela porta e no instante que atravessei assim acordei.