O texto
A tarde estava chuvosa,ela não tinha o que fazer e sua alma ansiava botar toda sua tristeza pra fora.Mas como?
Sentando na varanda,ela olhou todo o terreno alagado e sentiu uma enorme vontade de correr na chuva.
Suas mãos tocaram as finas folhas de papel ao seu lado e logo de caneta em punho e ideias a mil ela trabalhava num novo texto.
Então tudo foi transferido para o papel,raiva,tristeza,decepção o choro e os gritos que ela queria tanto expressar.Não percebeu quando a chuva parou e nem quando a noite caiu,seus olhos viam apenas o papel e as letras que ali estavam sendo depositadas.
Amanheceu,o sol secou todo o lamaçal e ela continuou ali.Sem comer,sem dormir,sem levantar os olhos para ver o que se passava ao redor.
Um dia,dois,cinco...Duas semanas passaram,as folhas escritas se acumulavam no chão e ao lado dela,enquanto esta repetia em ritmo alucinado uma unica frase "só mais uma linha,só mais uma linha".
Os amigos vieram,depois os parentes.Advertiram,gritaram,choraram,alguém chegou até a lhe dar um tapa mas a unica reação dela era repetir,"só mais uma linha..."
Os dedos esfolados sangravam,com ferimentos que não fechavam.Em seu rosto ja eram visiveis as mudanças que provocavam a falta de sono e alimento.Os pés e as pernas começaram a enegrecer por falta de uso,ela estava definhando.
A tinta antes negra agora era rubra.O sangue parecia estar presente em tudo,devorando e consumindo as ultimas forças da escritora.
Então chegou o fim.Com os labios roxos,mãos tremulas de unhas podres,olhos vermelhos,inchados e vidrados.Ela estendeu a mão dizendo.
- Terminei...
Uma espuma sanguinolenta saiu do canto de sua boca,então ela desabou no chão em convulsões incontrolaveis.Seu trabalho era vida e ela...Estava morta.