A grande colheita - Extinção

As criaturas na noite reuniram-se em um conselho para uma última e desesperada decisão. Vários clãs estavam a confabular sobre o destino dos homens, culminando em discussões calorosas e violentas.

Um homem alto de pele dourada, possuía a voz exaltada e seus olhos repletos de fúria. Era Efestus, o príncipe do clã conhecido como Línguas de Prata. Era um espécime vigoroso, dotado de inteligência e perspicácia, sua oratória poderia conduzir quem quisesse a ruína ou a vitória. Neste momento ele liderava um diálogo inflamado;

- Estas criaturas pútridas, não há duvida de que devemos votar pela extinção! – cerrou os punhos e socou a mesa.

Murmúrios de indignação manifestaram-se timidamente. Alguns partidários demonstravam estar de acordo com a nova proposta. Outros repúdio e frustração. Nesta época o mundo caminhava para a autodestruição, os chamados filhos de adão consumiam mais do que a terra era capaz de suprir. Guerras eclodiam em vários lugares, conflitos gerados pela busca de novos recursos naturais. Os homens exploravam, conquistavam e tomavam tudo o que podiam.

- Pondere, Efestus... São tão imperfeitos quanto nós, exterminá-los seria imprudente.

Disse uma mulher belíssima que surgiu das sombras, possuía curvas voluptuosas, seus longos cabelos negros ondulados caíam em mechas brilhantes em seu colo. Seus olhos eram de um verde enigmático como pedras semipreciosas, contrastando com sua pele alva. Sua voz era macia e terna, por um momento sua sublime presença desviou os olhares do conselho. Era Margot, a única vampira que presenciara o fim de Caim. Efestus se exaltou ainda mais, sabendo que suas intenções seriam confrontadas pela vampira.

- Alimento mais nada! Eles destroem tudo o que tocam. Possuem um tempo de vida tão limitado e desperdiçam como se nada significasse. Já minha cara nós imortais, temos a eternidade para aproveitar, evoluir e conquistar. Meu voto é este e ponto, esta raça infame deve ser destruída para a preservação da terra.

Margot fitou Efestos com desprezo no olhar e julgou que com sua oratória inflamada, seria capaz de subjulgar o conselho dos anciões a seu favor. Efestus esboçava um sorriso tímido no canto dos lábios prevendo que sua vontade seria feita.

- Convenhamos senhores, não é uma decisão muito sábia, pois culminaria em nossa própria destruição...

- Podemos ter outros meios de coexistir, sangue sintético talvez – interveio subitamente Efestus interrompendo o discurso iniciado por Margot.

Neste momento o conselho se exaltou, alguns parecendo aprovar a medida, outros visivelmente furiosos levantaram-se e discutiram uns com os outros. Um homem louro de olhos azuis cinzentos elevou a voz e com sua postura autoritária o conselho se calou.

- Não podemos nos alimentar de sangue falso, por milhares de anos nos alimentamos da seiva humana. É nosso rito sagrado, nossa dádiva, nossa maldição. Não será agora que irei mudar a lei de sangue, pois é a nossa natureza.

Eles se entreolharam duvidando dos argumentos, com olhos vítreos sem expressão, não demonstrando qualquer emoção, apenas o vazio que a imortalidade causara. Horas se passaram até que a derradeira decisão fora tomada. Os votos a favor sufocaram os desfavoráveis, pois a maioria estava apoiava a extinção da raça humana, desde que para cada clã fosse preservado um rebanho.

Aos cientistas vampiricos mais habilidosos, conhecedores das artes obscuras, foi ordenado que produzissem um vírus letal, com alto poder de contaminação e mortalidade. E foi permitido a todos os vampiros de todos os clãs que se alimentassem livremente. A lei do sangue e da preservação fora extinta, permitindo que todos cometessem assassinatos desenfreados.

Margot sentiu um aperto no peito morto, como se uma mão cadavérica lhe envolve-se o coração. Finalmente Efestus conseguiu o que desejara executar o seu plano nefasto, a vingança suprema contra os filhos de adão. Ela sabia que aquela chama de ódio e rancor em seus olhos não se abrandaria tão facilmente, algo mais estava por vir, algo mais perigoso e intenso. No seu intimo Margot procurou respostas para acalentar os seus demônios, alguma forma de reverter à extinção.

Efestus a fitou com prazer, satisfeito com a decisão do conselho de anciões. Aproximou-se lentamente e sussurrou ao seu ouvido;

- Eu lhe avisei que esta paixão desenfreada pelos humanos lhe custaria caro.

E assim começou a grande colheita.

Jonathan subitamente acordou, secou o suor que escorria do rosto, atordoado ainda com o estranho sonho. Sabia que sua conexão mental ainda estava ativa, a marca de Margot ainda estava viva. Uma pequena cicatriz em seu pescoço e a lembrança do sangue viscoso e negro que ela o fizera beber naquela noite. Ele ainda era um mortal, mas estava ligado a ela para sempre. Aquele não era um simples sonho, mas sim uma memória de Margot. Um aviso talvez, de que o mundo estava prestes a mudar.

Este é apenas o começo...

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Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 10/09/2010
Reeditado em 31/03/2011
Código do texto: T2490722
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