Charrete do Capeta

Bartolomeu era um velho corcunda que morava num sítio isolado da cidade, morava apenas com sua neta Cristina, de dezessete anos, há anos que ele tenta capturar o demônio da charrete que assombra as estradas nas noites de lua cheia, é uma história do povo antigo que quem cruzasse a estrada em noite de lua cheia, surgia uma charrete diabólica guiada por um cavalo preto de chifres enormes e roubava a alma da pessoa escolhida, porém nitidamente não se conseguia ver quem sentava na charrete, somente ouvia tremendas risadas satânicas. O sobrinho do senhor foi passar as férias no sítio do seu tio, aspirar ar fresco, só não imaginava do perigo que estava se metendo. Assim que viu Cristina, gostou dela e ela retribuiu com um sorriso. Percebendo o interesse do rapaz, o velho Bartolomeu, disse:
- Venha, vamos pescar!
- Á noite, tio?!
- Sim, é a melhor hora, onde o momento é tranquilo e sem não tem barulho!
Arrumaram as varas com as iscas e foram a pé pescar na lagoa escura. O velho não perdeu tempo e começou a contar as histórias da maldição da charrete do capeta, entediando Marcos que finge acreditar nos causos. Acabou cochilando e quando acordou estava sozinho na margem, onde a minhoca já tinha sido devorada pelo peixe, ao olhar para o lado, avistou há alguns metros, uma pessoa olhando para as águas, quando tentou se aproximar da estranha figura, descobre que se tratava de um esqueleto, com os ossos sangrando na face. Imediatamente, ele sai correndo pra casa e ouve tremendas gargalhadas ás suas costas, chegou no casebre, branco feito cera, com o coração disparado e as pernas trêmulas, a moça pergunta o que houve, mas sua voz não saía, até aparecer seu tio com uma xícara de café na mão, dizendo:
- Agora você acredita, né?! amanhã é lua cheia, vou atrás daquela coisa e capturá-la!
- O senhor ficou maluco?!
- Estou atrás disso há mais de vinte anos, ele me assombra há tempos, não vou deixar ele pegar minha alma, já perdi muitos compadres assim!
- Entendo, mas essa guerra não é minha tio, vou embora amanhã mesmo, quer vir comigo Cristina?
- Não, eu não posso deixar o meu avô sozinho.
- Lamento...
Na madrugada, quando todos dormiam tranquilamente, ouvem um barulho de charrete na estrada em alta velocidade, passando sobre as pedras, o velho pegou sua espingarda e ficou esperando o maldito. De repente, um vendaval invade a casa, misturado com risos arrepiantes, fazendo o homem fechar os olhos e atirar pra todos os lados, mas nada acertava. O barulho termina, mas Marcos consegue ver de longe a charrete guiado pelo cavalo preto de chifres, assustado, foi avisar Cristina, mas não a encontra, o Diabo havia pegado sua alma. Bartolomeu quebrava as coisas da casa, xingando todo mundo, que deveria ter levado ele em vez de sua neta Cris.
- Agora essa guerra é minha também tio!
- Você vai me ajudar?
- Claro, e não vou sair daqui antes de recuperar Cristina!
- Obrigado meu sobrinho!
No dia seguinte, se aprontaram rapidamente e foram atrás da menina desaparecida, caminhavam muito, até ao escurecer, já era próximo á meia noite e o velho aponta a arma para o garoto e disse:
- Desculpe Marcos, mas você tem que ir embora!
- Por que?!
- Essa luta é minha, deixe que eu resolvo, vá antes que eu te mate...
- Não!
Marcos avista a charrete atrás do seu tio vindo em alta velocidade, com o esqueleto que viu na lagoa, guiando o cavalo diabólico, o rapaz tenta avisar, mas era tarde demais, o monstro agarra o velho com uma foice imensa nas costasm matando na hora. O seu tio cai na estrada ensanguentada, derrubando a arma, o jovem pega a arma e olha nos olhos do demônio e atira, mas nada acontece, e quase é atropelado pelo cavalo e ouvia risos ao redor. Então, ele abre os braços na frente da criatura e disse:
- Troca a minha alma com a alma da Cristina, me leva no lugar dela!
Cristina acorda na estrada á noite, meio desorientada, sem saber realmente o que aconteceu, não sabia onde estava os outros, andando sozinha naquela estrada de terra, olhando pros lados, morrendo de medo, acaba se deparando com a charrete do capeta, o esqueleto tinha a imagem de Marcos e disse á jovem:
- Vamos dar uma volta gatinha?!
A menina grita e sai correndo apavorada, mas a charrete a captura e é levada por toda eternidade, ouvindo somente os ecos risadas satânicas...
Alexandre S Nascimento
Enviado por Alexandre S Nascimento em 05/10/2010
Reeditado em 25/09/2016
Código do texto: T2539053
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