Amaldiçoada...

Suava, sentia as mão trêmulas pois ouvia passos pela casa. Estava sozinha. O som parecia vindo de todos os lados, e de sobressalto ficou atônita ao sentir uma presença atrás de si. Fechou os olhos, mesmo sabendo que não poderia rezar, já que não tinha mais permissão para pedir coisa alguma aos céus: era amaldiçoada pelo sangue que corria em suas veias.

Foi lançada à distancia, bateu fortemente na parede, não podia ver ninguém no quarto, mas sentia várias presença. Ouviu murmúrios, risadas, escarnecedoras e parecia estar sendo envolvida por um denso liquido. Não se lembraria de feitiço que a livrasse, há tempos seu guardião negro a abandonara por sua covardia. Sua pele não tinha sido submetida ao banho de sangue, seu poder ainda permanecia adormecido em seus antepassados mortos. Era uma mortal marcada pelo agouro de maldições e preces feitas antes sequer de nascer.

As mãos ardiam em chama, o fogo da inquisição ardia em si, seus ouvidos suportavam um silvo fino de alguma caçada ancestral, e seu coração disparado permanecia com o risco de ser arrancado pela força sobrenatural que a envolvia.

Quando pensava que seria partida ao meio por forças vindas de lados opostos foi erguida do chão com leveza. Ao abrir os olhos se viu carregada por um anjo negro que a protegia. Seus olhos foram abertos e pôde ver os seres que tentavam destruí-la: eram espíritos imundos, com vestes despedaçadas. Nada de justiceiros de tempos remotos, nada de seres de luz, as trevas queriam sua morte, o mal era sempre muitíssimo irônico! Quando foi levada para fora viu que as asas do anjo se tornaram prateadas pela luz do luar, e notou seus olhos azuis e cabelos muitíssimo brancos:

-Ninguém é condenado antes de nascer pequena...

Se sentiu acolhida e protegida, a voz era como a de um trovão. A lua cheia que ficava no meio do céu ardia como sol, a enchia de uma luz mística que dissipava a escuridão que antes a envolvia por dentro e por fora.

Surpreendeu-se ao ser possuída, de repente, por algo muito além de si. Seu corpo pulsava de uma força mortal, seus olhos viam, mas seu corpo não obedecia. Travou então uma luta corpo a corpo com o anjo, e viu os olhos bondosos daquele ser queimarem por sede de justiça. De algum modo sabia que não era a pequena que o atacava. Mas a força que emanava dela era tamanha que temia que a destruísse em meio àquele combate. A espada que ele trazia na bainha, cortou várias vezes a superfície da pele delicada da pequena, e o colar que trazia no pescoço reluzia algo que parecia enfraquecer a maldade que dela emanava. A espada atravessou seu peito, e desfalecida caiu, uma gargalhada profana vinda de todos os lados ecoou e ela voltou a ser quem era.

-Sophie você não morrerá...-retirou o colar de seu pescoço e colocou nela.

Ficou inconsciente, e foi acordada no dia seguinte pelo som de pássaros em sua janela. O corpo ainda dolorido, mas o peito totalmente sarado e no pescoço, pendendo, um colar, cujo material do qual era feito não poderia ser terreno. Guardou sob suas vestes e caminhou até seu destino. Diante de si um espelho, viu seu rosto pálido, suas formas e sua alma ali, no mundo que o espelho escondia, sabia, cabia finalmente sua escolha: o bem ou o mal. Mudou de dimensão com um passo e era, enfim, o momento da decisão.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 12/10/2010
Reeditado em 26/10/2010
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