Socorro, ela é sanguinária!

Miguel já não estava mais se contendo de ansiedade, contava cada segundo daquele dia que daria fim à implacável solidão. Mas o telefone permanecia ali, completamente em silêncio. Enquanto aguardava, decidiu se servir de uma dose cavalar de uísque. Em seguida, apanhou o jornal que estava em cima da mesinha de centro e folheou algumas páginas sem se prender a nenhuma matéria. Foi quando em fim o telefone tocou. Do outro lado da linha estava Adilson, seu melhor amigo.

- Desculpe a demora Miguel, acabei me enrolando todo.

- Cara, estou aqui quase enfartando, que demora hein!

- É o seguinte, elas estarão te aguardando no ponto de ônibus aí perto. Vá ao encontro delas e em seguida leve-as àquele boteco que nunca fecha.

- Eita! É Hoje!

- Pois Miguelzão! Vai tirar a teia de aranha!

- Estou indo pra lá então

- Beleza, até daqui a pouco.

- Até mais Adilson.

Com as pernas bambas, Miguel se dirigiu até o ponto que ficava a uma quadra de sua casa.

Chegando lá, encontrou as duas garotas que já estavam a sua espera. Uma delas era a Cíntia, que ele já conhecia, pois era a mais nova namorada de Adilson, a outra era Valéria que o Adilson não se cansava de elogiar para o amigo.

Realmente, Valéria era um escândalo e Miguel não se lembrava de ter visto um rosto tão marcante e lindo.

- Olá, desculpe se fiz vocês esperarem.

- Imagina, chegamos nesse exato momento – disse Cíntia

- Miguel, essa é a Valéria, minha melhor amiga.

- Muito prazer Valéria.

- Oi, prazer – disse Valéria com uma voz de indiferença

Miguel era só sorriso. Aquele medo inicial já estava passando e ele começou a se sentir mais a vontade.

Já Valéria não conseguia disfarçar a decepção, pois Miguel não tinha nada a ver com que ela havia imaginado, ele foi muito aquém de suas expectativas

- Olha, essa hora o único bar que tem aberto é o copo sujo, que fica logo ali no próximo quarteirão. Mas podem ficar despreocupadas, é só o nome que é estranho, o lugar até que é legal.

Uma olhou para a outra e concordaram em conhecer o bar.

Logo na entrada, elas perceberam que Miguel era um cliente vip, pois o garçom que os recebeu foi muito efusivo. Após já estarem devidamente instalados, Miguel pediu ao garçom que lhe trouxesse uma caipirinha de pinga e ambas aderiram ao seu pedido.

Miguel logo viu que aquela noite prometia, afinal de contas, até ele ficava doidão na primeira caipirinha, imagina elas. Sua esperança era que sob efeito da bebida, Valéria começasse a ser mais amistosa, pois ele havia notado sua indiferença.

Papo vai, papo vem, e nada do Adilson aparecer. Cíntia já demonstrava descontentamento e Miguel totalmente deslumbrado com Valéria, já nem lembrava do amigo.

- Tem um orelhão aqui perto, acho que vou ligar para o Adilson – disse Miguel.

- Ok, aguardaremos aqui. – disse Cíntia

Miguel saiu andando por aquelas ruas desertas, com o vento frio a lhe cortar o rosto, mas isso não lhe provocava incômodo, devido o álcool ingerido já fazer companhia ao seu sangue.

Na metade do caminho, um pavor inexplicável passou a dominar Miguel. Ele achou aquela sensação meio infundada e resolveu não dar muita importância, afinal, já estava a dez metros de seu destino.

Ao se aproximar do orelhão, resolveu andar bem na beirada da calçada para ver se ainda conseguia se equilibrar e não cair para o lado da rua. O orelhão estava praticamente em linha reta em relação a seus passos. Ao se aproximar, ele já estava praticamente desequilibrado, foi quando segurou o poste que sustentava o orelhão e rodopiou 180 graus, adentrando ao seu interior.

- Ahhhhhhhhhh – foi o grito que Miguel imaginou ter dado, pois o susto foi tão imenso que sua voz não saiu.

Em cima do aparelho telefônico, havia uma cabeça de um homem, que tinha acabado de ser decapitada e estava com uma expressão de dor que jamais saiu das retinas de Miguel.

No susto, Miguel ao se afastar bruscamente, tropeçou no corpo pertencente àquela cabeça. Ao lado do corpo havia uma poça de sangue e foi justamente onde ele caiu.

Depois de várias patinadas, conseguiu se levantar daquele quadro de horror que ele estava inserido. Saiu correndo e ao chegar ao bar, não teve uma pessoa se que não se espantou com seu estado, pois sua roupa havia ficado encharcada de sangue.

Aliás, apenas uma entre tantas outras que estavam no recinto não se espantou. Era justamente Valéria, que ao avistá-lo, foi se aproximando com um sorriso de satisfação e tentando abraçá-lo, mas foi logo impedida por Cíntia.

- Você está louca? – perguntou Cíntia

- Não, imagina, só acho que já perdemos tempo demais e o que mais quero é ficar ao lado do Miguel.

- Mas você o detestou logo o que o viu

- Mas agora é diferente.

Sérgio A Silva
Enviado por Sérgio A Silva em 21/10/2010
Reeditado em 17/11/2010
Código do texto: T2570289