O escritor

Eram três horas da madrugada quando ele saiu de seu escritório que ficava no quinto andar de um antigo prédio na rua central da cidade.

Estava extremamente exausto. O livro precisava ser finalizado e os editores o estavam cobrando.

Os dois primeiros livros estavam vendendo muito bem, mas ele estava tendo dificuladade em terminhar o terceiro.

Contos de terror. Sua mente parecia estar vazias e as idéias não estavam vindo.

Mas com esforço havia terminado.

Iria para casa, dormiria algumas horas e amanhã, mandaria para a conferência final.

A rua estava deserta, apenas poucas almas circulavam meio que sem destino certo.

As ruas eram estreitas e mal iluminadas.

Cada sombra aparentava ser um vulto prestes a agarra-lo.

Se assustava. Mas seu cansaço era grande para que ele se preocupasse com isso.

Aproximadamente quarenta minutos ainda faltavam para que chegasse até sua casa.

Passou em frente á uma velha taberna ainda cheia de pessoas, na sua maioria, alcólatras, prostitutas, pessoas sem morada fixa que ali ficavam afogando as mágoas.

E por vezes ele parava ali para trocar algumas ideias com outros escritores, mas nessa noite passou sem fazer a parada.

Entrou em uma avenida qye dava direto em sua casa.

A noite que agora ficara mais escura ainda, pois a lua se escondera por trás de uma nuvem.

Ele sentiu um certo calafrio.

Sente que algo o observa, um vulto, talvez um mendigo.

Ele sente ser acompanhado pela estranha presença.

O vulto então toma forma, uma sombra com formato humano, que se aproxima dele.

Ele sente medo e apressa os passos. O vulto o segue. Segura seus ombros fazendo-o parar.

O medo o paralisa. O vulto agora está bem em sua frente.

Com uma voz grossa e rouca lhe pergunta:

-Quem te de autorização para escrever tanta coisa sobre mim ???

Quem? Responda verme.

Apavorado o escritor questiona, com a voz sufocada pelo medo:

- Quem é você? O que é você?

O vulto agarrou-o pelo pescoço, sufocando-o ainda mais.

-Sou o demônio de quem você tem falado em seus contos. Não te autorizei a fazer isso, nunca.

Você nem me conhece, não sabe nada sobre mim, não tem noção de minha maldade.

O que você escreve é uma ínfima parte do que tenho feito no mundo.

Após essas paalvras, ergueu-o do chão e o arremessou contra a parede de um beco sem saída. A dor e o pavor invadiram seu ser.

O vulto agora tomava a forma de um dragão com cara de cachorro, com uma boca enorme e dentes afiados, e grandes olhos vermelhos.

A piorar ainda mais a cena, essa criatura fala, com voz descomunal.

-Você não tem direito e nem autoridade de escrever sobre mim. Mas vou te mostrar todo meu poder de causar dor e sofrimento aos seres humanos.

O escritor tremia, caido no chão quando se abriu uma imagem diante de seus olhos, e como num filme ele começou a ver todo o poder da maldade da criatura.

Ela via cenas desde o começo da terra.Ele tentava fechar os olhos, mas não conseguia.

Tentava gritar mas a voz não saia. Estava imóvel.

Ficou ali vendo todas aquelas cenas de maldade, medo, destruição, pavor e a criatura sempre aparecia nas cenas, mas sempre invisível para a maioria.

Ao final das cenas, a horrenda criatura pediu ao escritor os originais do novo livro, destruindo-o.

E voltando a ser apenas um vulto, uma sombra negra, um vapor de escruridão e depois sumiu nas vielas escuras.

O escritor foi encontrado na manhã seguinte perambulando pelas ruas, com os olhos esbugalhados como se olhasse algo aterrador. Seu comportamento era insano, ora chorava, ora ria, corria de um lado para o outro dizendo coisas sem sentido algum.

Foi levado para um manicômio onde permaneceu o resto de seus dias.

Quando morreu alguns anos depois, sem nunca ter tido um diálogo coerente com mais nenhuma pessoa, encontraram junto a seus pertences, um velho caderno de anotações e a narração em suas próprias palavras da realidade de seu último dia de sanidade e do porque nunca ter entregue aos editores o original de seu último livro.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 13/11/2010
Reeditado em 16/11/2010
Código do texto: T2613157
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