Um barato e uma barata

Nada odeio com mais intensidade do que a famigerada barata. Não é que hoje de madrugado, ao entrar no meu banheiro, um barato e uma barata fodiam desavergonhadamente!...

Peguei uma vassoura, daquelas de bruna, joguei a língua para fora, cravei os caninos e iniciei a série de vassouradas, cego de nojo e raiva! ‘Toma, desgracentos! Pensam que meu banheiro é motel, infelizes! Vão meter no quinto dos infernos, asquerosos!’

Cansado de tanto bater a vassoura contra os dois, interrompi o ataque, desafoguei a língua de entre os dentes, abri os olhos e avaliei a ação exterminadora. Mas quá!...

Uma barata, possivelmente o barato, pelo tamanho, fugia por entre minhas pernas. Não sei como o nojento, todo lambuzado de sêmen, não me subiu pelas pernas. A outra barata, a fêmea certamente, parecia em êxtase: pernas para cima e o corpo em frenesi! Seria um coito ou estaria rindo de mim?...

Pulei para um lado, ágil como um felino; em punho a vassoura, uma saraivada de vassouradas, que percorreu todos os recônditos do recinto. Finalmente, o barato fraquejou, estatelou-se, imobilizou-se.

Voltei-me então para a barata, que ainda de pernas para o ar, gozava ou portava-se como uma rameira. Apliquei-lhe, por precaução, uns bons golpes. Nunca se deve confiar em baratas – elas sempre se fingem de mortas e insinuam que não sabem voar...

Fiz uma mancheia de papel higiênico e abafei o barato; mortei-o bem mortado mesmo, apertei a válvula da descarga e xóóóóóó... Quando a água fazia aquele turbilhão, em forma de funil, joguei o desgraçado no centro do tsunami. Sem chance de reação ou sobrevivência! Colo do capeta direto e reto.

Finda a operação, era a vez da barata. Tive a impressão de que a infeliz, ardilosa, tinha um plano secreto para escapar... Qual seria? Conjecturei mil possibilidades, mas nenhuma se firmou. ‘O mundo feminino é mesmo uma incógnita’, pensei. Pela cara da barata, o plano era sutil como o de Eva, no paraíso. Eu jamais o atingia em astúcia e engenharia.

Mas cumpri meu projeto até o fim: mancheia de papel, mortei-a bem mortada, xóóóóó, sacudi a infame no espiral de água e tive a nítida sensação de que ela se ria, enquanto surfava sobre a onda gigante, que a levava para seu paraíso, o esgoto... E prenhe.