APARTAMENTO MACABRO

Jaime deu check in num hotel no centro de São Paulo, próximo ao hospital onde ele travaria a batalha contra o câncer que estava a lhe roer por dentro. De forma grosseira, pegou a chave da mão da recepcionista e se dirigiu ao elevador. Ao chegar no 15º andar, caminhou até seu quarto e se jogou na cama, totalmente desolado.

Levantou-se subitamente e aproximou-se do parapeito da janela. Ficou alguns instantes observando a vista de São Paulo enquanto tragava o cigarro que fazia parte de uma das restrições de seu médico. Foi até o bar do apartamento e se serviu de uma dose generosa de uísque. De volta ao parapeito, tragou com toda sua força o cigarro, bebeu de uma só vez o uísque e se lançou através da janela.

O misterioso hospede suicida foi encontrado em minutos por um faxineiro que estava varrendo o jardim. O estado do corpo lembrava um patê com osso. Imediatamente, o faxineiro comunicou o ocorrido ao gerente do hotel e esse sabiamente intermediou a remoção do corpo com absoluto sigilo para não marcar negativamente seu hotel e também para atender ao pedido da família.

Jaime era um influente político do estado de Goiás e sua família era bem abastada. Eles não sabiam o motivo pelo qual Jaime tinha vindo a São Paulo. Mas ao consultar sua agenda, logo ficaram estarrecidos ao saberem que ele estava doente e em fase terminal.

O apartamento ficou interditado para perícia por uma semana e logo que foi reaberto um hospede escorregou na banheira e fraturou a bacia. O seguinte, quase foi atingido por uma bala perdida, fruto de uma briga de casal do prédio vizinho. O terceiro teve uma overdose fulminante.

O gerente que era uma pessoa espiritualista desconfiou das coincidências e subiu até o apartamento. Ao adentrá-lo, teve um mal súbito que lhe arrepiou da cabeça aos pés, lembrando um gato acuado por um cão. Desceu rapidamente e ligou para seu benzedor.

Duas horas depois, o benzedor e o gerente do hotel dirigiram-se ao apartamento. Mas o gerente evitando passar mal, optou por esperar do lado de fora. Após vinte minutos de absoluto silêncio, começou a achar estranho. Criou coragem e entrou. De cara, avistou a janela aberta e as cortinas agitando-se violentamente devido ao vento. Respirou fundo e foi até o parapeito. De lá, viu seu benzedor esparramado pelo chão.

Sérgio A Silva
Enviado por Sérgio A Silva em 23/12/2010
Reeditado em 26/02/2012
Código do texto: T2688184