O jogo da forca - episódio I

Querido?

Ela chamava enquanto subia as escadas que levavam para o segundo andar de sua casa.

- Querido, o telefone.

Provavelmente ele estaria tomando um banho em sua suíte, com a hidro ligada, e a porta fechada. Ele adorava tomar seu banho sozinho, ficava mais de uma hora deitado naquela banheira, a espuma tomando conta de seu corpo ainda jovem, apesar dos 45 anos.

Ela agora girou a maçaneta da suíte e entrou, a primeira coisa que viu foi a porta do banheiro fechada como ele sempre fazia, depois notou que a cama ainda estava desarrumada, deu três passos a frente em direção ao banheiro e o que viu a assustou, a porta do banheiro era de correr, e estava acorrentada por fora, trancada por um cadeado. Ela não entendeu o que estava acontecendo, mas como entender. Chamou por Max...

- Max? ...e foi a última palavra que ela pronunciou.

Max estava com os olhos fechados, mergulhado na água, quando o grito despertou seus sentidos.

- Daniela?

- Querida, você está aí. Entre para tomar um banho comigo.

Mas ela não podia responder, neste momento uma mão tapava sua boca, enquanto a outra enfiava uma tesoura repetitivamente em suas costas, sangue jorrava, ela se debatia, seus olhos se reviravam, por fim após o décimo golpe frenético ela agonizou e escorregou pelas mãos maquiavélicas que a desfaleceram, caindo sem vida sobre o carpete.

Max colocou seu roupão e agora estava de pé em frente à porta, tentando abri-la, mas não conseguia, ele chamava por Daniela insistentemente, no começo pensou que poderia ser uma brincadeira de sua mulher, mas por fim entrou em pânico, esmurrava a porta, estava realmente preocupado.

Do quarto o assassino olhava para porta, pegou um objeto de seu bolso e o deixou no chão ao lado do corpo de Daniela. Olhou mais uma vez para a porta do banheiro e depois seguiu para o quarto ao lado, o quarto do Bernardo, o filho de quinze anos de Max e Daniela!

- Max já estava ali esmurrando a porta à meia hora, entre gritos e choro, chamava por sua mulher desesperado, seus punhos sangravam, ele empurrava e puxava a porta tentando abri-la, mas nada que fizesse surgia efeito, ele estava preso. Depois de muito insistir ele se ajoelhou no chão e fechou seus olhos, recostando a cabeça na porta, ficou ali entregue a situação por cerca de cinco minutos, tentando colocar os pensamentos em ordem, por fim abriu seus olhos e se levantou. Virou-se para outra parede, era a janela do banheiro, muito pequena. Não dava para sair por ali... foi até o armário do banheiro, e vasculhou tudo, até que encontrou algo que talvez pudesse ajudá-lo.

Pegou sua calça que estava no cesto de roupa suja, e enfiou a mão direita dentro do bolso, encontrou o que queria, jogou todo aquele álcool sobre a porta e rasgou um pedaço de papel higiênico e ateou fogo. A porta de madeira incendiou-se rapidamente, o fogo alastrou-se enquanto Max usava sua calça agora encharcada para conter o fogo não deixando que ele se espalhasse pelas paredes. Então Max mergulhou na banheira e todo molhado correu em direção a porta, e fez isto repetitivamente por vezes, trombava com seu ombro, a porta sentia cada pancada mais forte que a outra, ele gritava com a porta... Vamos quebre-se! E se debatia com ela, gritava pela esposa, pelo filho, estava mergulhado em agonia, o que havia acontecido? Quem o prendeu ali? Estava totalmente confuso. Depois de uma hora a porta cedeu e ele a atravessou com os ombros e punhos ensangüentados, o fogo escapou para o quarto, tomou o forro do teto, e invadiu as cortinas, não dava para apagá-lo mais. Mas o que ele viu impediu que ele pensasse nisso, sua esposa estava caída no chão, sangue derramado pelo piso de taco, seus olhos arregalados. Estava morta. Ele se ajoelhou aos seus pés e chorou silenciosamente desta vez, um choro calado, mas nitidamente sofrido, suas lágrimas jorravam de seus olhos, foi quando ele viu um gravador ao lado do corpo, e lembrou-se também de seu filho, ele estava dormindo quando ele foi tomar banho, correu em direção ao quarto do lado, deixando o corpo da mulher que tanto amava em meio às chamas.

Chegou ao quarto e procurou seu filho, e o que viu o deixou ainda mais apavorado. A cama estava com marcas de sangue, mas seu filho não estava lá. Ele estava paralisado, perplexo, não sabia o que fazer, seu filho estava machucado, ou pior, Quem poderia ter feito aquilo? Foi quando olhou ao redor do quarto... e viu algo desenhado na parede, era como uma forca, um menino dependurado desenhado a sangue, e abaixo do desenho estava escrito em letras maiúsculas, “OUÇA!”. Ouça! Ele pensava... Ouvir o que? Foi quando refez seus passos tentando entender e lembrou-se do gravador, saiu em disparada em direção ao seu quarto, o fogo já estava no corredor e cada vez mais tomava a casa, ele saltou para dentro do quarto, tudo em chamas, o fogo não havia atingido o corpo de sua mulher, mas já caiam pedaços de forro do teto, e o gravador ainda estava ileso, ele o pegou, tentou pegar o corpo de Daniela quando uma grande parte do forro desabou encima dela, ele apenas a olhou com enorme tristeza e correu para fora daquele quarto, desceu as escadas seguido pelo fogo que atingia os corrimões e saiu de casa. Entrou no carro e ligou o gravador. A voz que ele ouvia era como se fosse a de um robô, algo computadorizado, mecânico, horrível.

- Como vai Max... dizia a voz... primeiramente quero lhe pedir desculpas por Daniela, mas com o tempo verá que ela mereceu cada tesourada, cada uma, mas não entremos em detalhes ainda, ouça a mensagem com atenção, pois a vida de seu filho depende disso... Max ouvia tudo, seu rosto agora estava consumido por uma ira enorme, olhos ardendo em brasas, olhou pra sua casa, estava queimando como o próprio inferno, o inferno que ele desejava para aquele psicopata... bem Max, você precisa fazer umas coisinhas pra mim para que tenha o Bernardo de volta, a propósito ele é um garoto lindo... um riso escapou do assassino, algo indescritível e frio, Max esmurrou o para brisa, e o vidro trincou-se... você já jogou forca Max? Com certeza que sim, era uma brincadeira ótima não era, as crianças adoram... cheia de enigmas, intuição, sorte e principalmente inteligência. Eu te proponho jogar Max, jogar a forca comigo! Só que de uma forma diferente, você terá que passar de níveis, eu bolei uma nova maneira, de jogar. Você preza pela vida de seu filho? Acho que sim. Você será o primeiro a participar deste jogo, seu filho será o garoto da forca, a cada erro seu eu vou considerar uma parte do corpo dele, mas não se preocupe ele ficará bem, sem nenhum arranhão. Se você conseguir me vencer no jogo o encontrará são e salvo... A cada palavra que você decifrar terá que matar uma pessoa, mas sentirá prazer por isso Max, são pessoas que te traíram, que te fizeram mau, que não merecem seu perdão, elas estão em lugares distintos, em suas próprias casas, prontas para serem mortas... são apenas cinco pessoas, cinco dicas... cabeça, corpo, pernas, braços e a forca... e que fique claro elas devem ser mortas por que se não o seu filho é quem vai morrer...

Compre um celular, um chip novo, e me ligue no número atrás do gravador... Eu te retorno com a primeira dica. Você terá uma hora para decifrar cada palavra e encontrar suas vitimas, e Max... não jogue este gravador fora ele lhe será útil... fim de mensagem.

Max estava imerso em seus próprios pensamentos... queria ver seu filho, salva-lo, mas pra isso ele deveria matar alguém. Mas ele não podia fazer nada, girou a chave na ignição e saiu em disparada até a banca mais próxima, comprou um chip, entrou numa loja e pegou um celular, por fim ligou para o número do assassino.

- Max? Até que enfim. Que bom falar com você.

- Eu quero meu filho! Max gritava ao telefone. Ele estava desesperado.

- Eu sei que quer e que fará tudo para tê-lo de volta. Então ouça com atenção por que você tem apenas uma hora Max.

- Diga logo seu cretino!

- Há... ha...ha... quanta delicadeza amigo... lá vai... Quem sou eu?Cemitério de água,caixão de carne e ossos,vivo eu estava, mas achavam que eu estava morto?

- O quê? Max estava confuso, mas ouviu bem a dica que era na verdade uma charada.

- Quantas letras?

- Cinco Max... apenas cinco! É sua primeira vitima.

- Só isso! Você está louco! Preciso de mais dicas!

- Max, até logo, eu te ligo em uma hora... o jogo começou!

Continua...

Há também meus contos "Um assassinato no recanto das letras" e "Joãozinho faz de conta"... Um forte abraço e obrigado pela visita! Logo postarei a continuação!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 21/01/2011
Reeditado em 22/01/2011
Código do texto: T2742659
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