Pena de Morte - Capítulo II - O Clone

Mara apontava a arma para João Carlos, sua mão esquerda segurava uma pistola K-58 , cartucho de 60 tiros, enquanto a direita estava sobre os olhos do soldado que a guiou até ali. Seus olhos estavam perdidos em um branco profundo, o soldado paralisado, inerte, como se estivesse hipnotizado. O agente Silva a encarava enquanto os braços mecânicos desciam em direção ao corpo de Daniel, o barulho de uma serra se aproximando cada vez mais...

- Já disse! Pare esta execução, ou o próximo a ser executado será você agente! Por desobediência à uma ordem direta do presidente.

- Acho melhor você ouvi-la amigo! – Daniel falava enquanto respirava fundo... seus olhos acompanhando cada movimento dos braços mecânicos.

- Não sou seu amigo! – Disse João para Daniel. - Abortar execução 40.353.

Um fleche de cor avermelhada tomou a câmara e toda a fumaça branca dissipou-se em segundos. O agente Silva olhou para Mara. Seu olhar em um misto de ódio e decepção.

- Liberar algemas.

- Da câmara da morte para a liberdade. – Daniel ria e zombava.

- Não pense que vai ficar livre de mim.

- E quem disse que eu quero isso?

- Vamos Daniel! Não temos tempo a perder.

- Só se ele for com a gente! - Disse o condenado se levantando com dificuldade.

- O quê? João surpreendeu-se. Que jogo está fazendo seu idiota?

- Não temos tempo para isso! Venha logo! – Disse Mara para Daniel.

- Então ta, é isso ou liguem a câmara e terminem logo a execução. – Disse ele deitando-se novamente.

- Ok, ele pode vir. Mas, venham logo. Os dois! João saiu da câmara levando Daniel, ele não estava totalmente livre, seus braços estavam para trás presos por uma algema especial. Algo que apenas o agente Silva poderia abrir.

- Não sei o que está fazendo, mas acredite, você estará morto assim que tudo isso terminar.

- Eu espero por isso há anos agente! Não se intimide em fazê-lo, por favor.

- Meninos parem com este namorico! Daniel? – Ele se aproximou e Mara levou suas mãos em direção aos olhos dele. Ele não teve tempo de reação, ficou estático, os olhos de Mara estavam fechados. Ela estava em transe. Ela recebia a imagem, como se estivesse assistindo a um filme em 3D. O assassino estava pendurando um homem de cabeça para baixo, amarrou suas mãos e pés, dois troncos jaziam erguidos paralelamente. Em um deles o pé e a mão esquerda amarrados, no outro o pé e a mão direita. A vitima estava nua, consciente e gritava por socorro. Mas não havia ferimentos. Fique calmo! – Dizia Daniel para ele... - Vai ficar tudo bem! Logo tudo vai passar. Você está dividido amigo! Eu vou te ajudar!

- O que você está fazendo? – Perguntava o agente Silva. Mas tanto Mara como Daniel não o ouviam. Eles estavam dentro da sala, os homens de terno ainda confusos com o que se passava ali.

- Socorro!!! Me salvem! – Era um local aberto. O sol escaldante sobre a pele nua daquele homem fazia com que ela tomasse uma cor avermelhada. Ele estava cheio de manchas, eram como assaduras. Mara já sentia a sensação angustiante que aquela dor o causava. Mesmo com o fator 3001, a pele sentiria aquele calor se exposta por muito tempo. Era necessário usar roupas especiais, macacões de peplasticone, um material originado da mistura de um plástico especial produzido para resistir a força do calor e pressão, e ao mesmo tempo não perder sua maleabilidade. Esse material era unido a uma espécie de novo silicone que como o antigo era altamente resistente ao ultravioleta e intemperismos. Mara continuava. Tentava descobrir onde aquele homem estava, procurava alguma pista. Não conseguia ver paredes, apenas uma estátua de um homem, não dava pra se ver direito o rosto, pois o assassino não focava nele, mas na placa abaixo do monumento...

“Inauguração do monumento em 2013... aposentou-se em 2011, o maior...das...com 14...”

Estava a céu aberto. Era um lugar enorme. O homem estava apavorado...

- O que é isto??? O que vai fazer comigo??? Pelo amor de Deus, me liberte!!! Por favor!!! – O homem gritava enquanto, seja lá o que ele viu, deixou-o completamente amedrontado.

De repente Mara acordou assustada.

- Deus, o que ele vai fazer? – Seus pensamentos ainda confusos. - Onde ele está? –

Daniel a olhava assustado.

- Afinal o que você fez comigo? E o que você é?

- A pergunta que você deveria fazer seu imbecil, é por que ela te salvou? O que ela quer de você?

- Vamos andando! – Explico no caminho. - E você agente, vem conosco?

- Sim. O prazer de matar este cretino será todo meu! – Disse João sentindo que pela primeira vez iria enfrentar o perigo real de ser um policial. Algo que ele nunca havia experimentado por escolher fazer parte do corpo de agente da Nova Bangu.

- Ok! Tomem isto. Não vão sobreviver muito tempo lá fora sem estes comprimidos, tenho mais roupas especiais comigo em meu carro, lá vocês se trocam. O efeito do fator 3001 é de seis horas, mas deve ser tomado por precaução a cada cinco horas.

- Então vocês conseguiram? Criaram um fator que realmente nos protege contra o UVA. Mas isso é fabuloso! – Daniel estava completamente desligado do mundo há anos.

- Sim Daniel, mas criamos coisas horríveis junto com isso. E hoje você é a pior delas.

- Humm... Vejo que tenho mais uma admiradora.

Eles saíram em direção ao V8, as portas do carro se ergueram com um simples comando da voz de Mara. Eles entraram, o carro de repente flutuou, logo estava a dois metros do chão, oito turbinas funcionavam na parte inferior, mais quatro na parte traseira, estas eram as mais potentes, duas na dianteira e mais outras duas em cada ponta das laterais, as quais eram responsáveis por girar o carro. Mara colocou sua mão sobre uma tela de 25 cm x 25 cm que ficava do lado direito de um pequeno volante em forma de bumerangue. Uma voz metálica saiu dos alto-falantes do carro,

- “Reconhecimento de digitais completo... Pra onde vamos soldado Mara?”.

- Ainda não sei. Faça uma busca na área nacional com base nestes dados, quero uma estatua, a inscrição estava ilegível em alguns pontos. O que dava para ler era apenas isto:

“Inauguração do monumento em 2013... aposentou-se em 2011, o maior...das...com 14...”

- Iniciando varredura! – Disse a voz mecânica enquanto no painel eletrônico uma série de estátuas passavam na tela, todas continham as palavras chaves, algumas apenas inauguração, mas todas em 2013.

- Deus, a tecnologia parece ter evoluído bem. – Daniel parecia estar fascinado com o carro.

- Nem tanto. Mas a farmacêutica, esta sim melhorou consideravelmente. – Respondeu Mara.

- Então vai nos esclarecer o que está acontecendo? – Disse o agente Silva.

- Pois bem! Meu nome é Mara Torres, agente investigativa, uma detetive do gelo. Sou a responsável atual por toda a área Nacional. Recebi uma mensagem hoje as 12:00 hs relatando o seqüestro de um ônibus aerodinâmico, modelo VCX 47, classe 1, onde haviam 37 passageiros e o piloto...

- O que significa classe 1? – Daniel interrompeu.

- Membros do novo estado! Estavam fazendo uma visita ao novo pólo industrial. Bem, dos 38 que estavam no ônibus, um clone estava disfarçado, ele fez todas estas pessoas de reféns.

- Um clone? Mas isto foi proibido! Vocês não... – dizia Daniel.

- Fizemos sim, Daniel! Um pequeno número deles!

- Deus do céu! – Disse o agente Silva.

- Também acho um erro, mas foi a forma de conseguirmos testar o

fator 3001. Foi uma decisão difícil, mas teve de ser tomada em sigilo. Pois bem, os clones se mostravam inofensivos, apenas cumpriam seu papel, entravam e saiam, ficavam durante o dia lá fora, mas regressavam na hora marcada...

- Até? – Interrompeu o agente.

- Até dois dias atrás, quando um deles desapareceu.

- E seqüestrou essas pessoas? – Indagou João.

- Sim. De imediato ele matou 11 membros do novo estado, e os lançou pela rua. Mortes horrendas. Eles foram alvejados a bala, um a um, tiros de fuzil e metralhadora, olhos, cabeças, pernas e braços deformados, ele pediu que eles ficassem lado a lado e os obrigou a cantar o hino Nacional. Quem é que sabe o hino Nacional hoje em dia? – Ela observou. Ele não parou de atirar enquanto um estivesse respirando, sangue derramado com uma frieza incrível. Foi a última coisa que pude ver dos olhos das vitimas. Este é meu poder, é o que eu sou, é uma espécie de dom que nasceu comigo junto com minha deficiência visual, eu posso sentir as coisas pelo toque, sentir e vê-las claramente, se eu toco na parede eu a vejo, se eu toco em você eu te vejo, mas se eu toco em seus olhos, eu vejo tudo que você vê, ou tudo que você viu antes. Mas não vejo o futuro. Apenas o presente ou o passado. E não muito no passado, apenas uma hora no máximo.

- Mas o que é que eu tenho a ver com esta história toda? – Perguntou Daniel.

- A nova lei como você bem lembrou não permitia que clonássemos uma pessoa viva, um cidadão, então o Novo Estado usou vocês, um grupo de 15 condenados a morte, “não cidadãos”, pessoas dadas como mortas para a sociedade.

- Então o clone é o clone de um ex-condenado? – Questionou o agente Silva.

- Do mais perigoso dos últimos cem anos pra falar a verdade! E agora com uma força e inteligência descomunal.

- Fizeram um clone meu? Vocês são loucos? – Daniel parecia estar apavorado com a notícia.

- Um clone dele? – Repetiu João atônito.

- Eu concordo com vocês, eles erraram completamente.

- Quantas pessoas ele já matou? – Perguntou Daniel.

- 12 membros!

- 12... primeiros onze, morte coletiva –. Observou Daniel.

- Como?

- Fuzilamento! Ele fuzilou os membros. Era a pena de morte mantida no Brasil. Muitos pensavam que a pena de morte não existia aqui. Mas não era verdade. Ela existia. Para poucos casos, casos quase impossíveis de ocorrer. Não assassinato, roubo... a constituição de 1988 permitia pena de morte apenas no caso de guerra declarada, eles achavam a morte por fuzilamento menos desonrosa que por exemplo a forca ou a decapitação. Então se caso tivesse que ser aplicada, o fuzilamento era a única alternativa. A segunda morte presumo, que tenha sido “A Roda”. Ele está seguindo meu roteiro não é?

- Sim! – Respondeu Mara.

- Deus! Onde está o presidente? – Perguntou o agente Silva.

- Entre os seqüestrados.

- Mas e a segurança? – Perguntou Daniel.

- Pra que segurança? Não havia furto, assassinato, a não ser algo ha noite feito pelos nanoinfectos. São dezesseis anos sem crimes. Eles estavam seguros na atual concepção de segurança.

- E agora querem que eu os ajude a me pegar?

- Eu só preciso de você por perto. Você é única chance de pegarmos ele. Vocês estão conectados Daniel. Eu vejo ele por seus olhos. Você é meu prisioneiro agora. Nossa única chance de acabarmos com isso.

- Que bacana! Ao invés de matar você uma vez. Terei o prazer de matá-lo duas vezes. Até que estou gostando disso. – Comentou João.

- Engraçado! – Ironizou Daniel.

- Monumento encontrado! – Interrompeu o computador do carro.

- Onde fica? – Perguntou Mara.

- “Inauguração do monumento em 2013... aposentou-se em 2011, o maior artilheiro das copas com 14 gols” Estátua de Ronaldo Luiz Nazário de Lima... também conhecido como Ronaldo Fenômeno.

- Onde fica essa estátua? – Insistiu Mara.

- A estátua fica no antigo estádio Maracanã! Um presente dos extintos Flamengo e CBF em homenagem ao ex-jogador.

- Maracanã. É claro! A estátua inaugurada em 2013 para frustrante copa de 2014. Disse Daniel.

- Nos leve até lá o mais rápido possível V8. – Ordenou Mara.

- Seguindo coordenadas. – Disse a voz pelos alto-falantes.

- Qual é a próxima morte? – Perguntou Mara para Daniel.

- É melhor encontrarmos ele logo. Quando você o viu na sala, ele estava de cabeça para baixo amarrado em dois troncos distintos. O tempo está acabando.

- Sim. Mas, esperai. Como você sabe?

- Eu também o vi! Ele vai parti-lo ao meio soldado Mara. É uma morte horrível. Ele vai serrá-lo a partir do ânus, se ele fizer isso com pouca proeza, a vitima morrerá quando o serrote chegar ao umbigo, mas se ele for bom como eu, ah... Deus o abençoe!

- Jesus! – Espantou-se Mara.

Naquele momento Mara levou as mãos aos olhos de Daniel. Eles estavam á meia hora do estádio. Mara viu o homem.

- Não faça isso, por favor? Ele implorava! O que eu fiz? Eu peço perdão!!! Perdão! Perdão senhor! – Mas não adiantava. O clone gargalhava.

- Não há perdão para você! – Ele posicionou o serrote, e começou a serrar devagar. A pele sendo arranhada pelos dentes cegos e enferrujados do serrote antigo.

- Sabe por que você está de cabeça para baixo? – Ele sorria friamente. - Nesta posição você perderá pouco sangue e seu cérebro ficará bastante oxigenado,o que permitirá um morte mais lenta, coisa que eu adoro presenciar. Era um serrote de 1,30 m, indo e voltando, a cada volta pedaços de pele, sangue, gritos, gemidos e sussurros intensos. A dor nos olhos da vitima era algo indescritível. O clone fazia questão de vê-los. O serrote atingiu o órgão genital, por fim o atravessou, partindo-o ao meio, o homem já não conseguia gritar, sua cabeça não parava quieta, tremia, balançava, como se estivesse em um show louco de rock, até que o serrote chegou ao umbigo, e o corpo desfaleceu-se... Mara despertou!

- Meu Deus! Ele é um monstro! Você é um monstro!

- Acalme-se! Ainda não viu nada Mara!

- Você viu isso também?

- Sim. Temos pouco tempo. Ele continuará até que o corpo se divida inteiramente em dois. Precisamos ir rápido.

- Afinal você quer nos ajudar?

- Eu tinha minhas razões para fazer o que fiz. Sou culpado pelos meus erros e quero pagar por eles. Precisamos achá-lo antes que ele mate mais pessoas.

- Não confie nele Soldado. Ele está jogando com você! Este homem é um assassino frio, uma mente doente.

- Não disse que não sou isso, agente Silva! – Daniel olhava para o agente, seus olhos castanhos e estreitos, vislumbravam a figura do agente João Carlos, cerca de 1,86m de altura, calvo, olhos grandes como de uma coruja.

- Acalmem-se! Precisamos nos unir para pega-lo. Daniel vai pagar por seus crimes. Eu te garanto isso agente Silva, mas precisamos da ajuda dele agora. Ele é o único que conhece o clone tão bem! Pense agente Silva. É a carta escondida que temos na nossa manga.

- Que seja! – Disse João. Mas não desgrudarei dele por nenhum segundo.

Continua...

Continua...

Esta é uma das mais cruéis penas de morte...

Este instrumento foi utilizado um pouco por toda a Europa na Idade Média. O serrote serviu para punir os mais variados crimes ( bruxaria, desobediência militar, rebelião, homossexualidade,…) provavelmente porque seria encontrado facilmente e garantia uma execução rápida.

A vítima era atada pelos pés de cabeça para baixo de modo a obter a máxima oxigenação cerebral e atrasar a inevitável perda de sangue, deste modo ela só perdia a consciência quando a serra lha atingisse o umbigo, ou às vezes até o peito.

Leiam também...

Pena de morte - Capítulo I - O Condenado

E

"O Jogo da Forca" em e-livro ou em episódios em minha página.

Um abraço forte a todos e fiquem com Deus!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 23/02/2011
Reeditado em 04/11/2011
Código do texto: T2810010
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