Cemitério

O que mais gostavam de fazer era passar a noite no cemitério, conversando, bebendo vinho e ouvindo gothic rock. Sempre faziam isso. Era a rotina dos fins de semana.

Algo os unira naquela pequena cidadezinha encravada no meio do nada.

Eram todos desprezados na escola pelo seus modos estranhos e isso os unia.

Eram o grupo dos 6. Quatro garotas e 2 rapazes. Idade? Entre 14 e 16 anos.

Sem maldade, sem malícia. Apenas se refugiavam no cemitério.

Talvez porque lá não eram molestados, lá eram seres normais.

Eram inofensivos. Bons jovens.

Serem frequentadores de cemitério era o único defeito deles, se é que se possa chamar isso de defeito.

Conversavam e contavam histórias e riam muito.

Eram felizes lá.

Eram noites felizes para eles.

Os funcionários do cemitério já os conheciam e sabiam que passavam algumas noites lá, e para facilitarem até deixavam o portão destrancado, afinal quem estava lá dentro não iria sair e quem estava de fora, raramente entraria lá durante a noite e madrugada afora.

Apenas os seis jovens se aventuravam a isso.

Porém, nem todo dia é igual ao outro e as madrugadas também não....

Em noite, era sábado, lá estavam eles, os seis, levaram um bom vinho e muitas histórias para compartilhar. Parecia que seria apenas mais uma noite comum.

A lua estava cheia, e grande como uma pedra redonda amarela.

Andaram por entre os túmulos até encontrarem um bom lugar onde se acomodaram e fizeram uma pequena fogueira. E ali ficaram. Conversando enquanto a hora ia passando.

E as horas foram mesmo passando. De repente o céu se escureceu, as nuvens cobriram a lua.

Ficou bem mais escuro que o normal.

Notaram então que iria chover. Raios cortavam o céu negro e pesado.

Trovões ecoavam dando a impressão de que toda a terra tremia.

Uma das garotas sugeriru que seria bom irem todos pra casa. O restante do grupo achou que não haveria necessidade, se fosse necessário, se esconderiam por ali mesmo.

Os ventos começaram a soprar forte, fazendo as árvores parecerem vultos enormes a se moverem por entre os túmulos . Faziam sons assustadores, parecendo com gemidos e lamentos.

Ouviram uivos de dor e angustia.

Algo parecia vir se arrastando para onde estavam. Se levantaram e sairam caminhando, mas todos sabiam que estavam com medo, um medo como nunca sentiam antes.

E quando notaram estavam correndo, e o barulho parecia chegar cada vez mais próximo.

No meio da escuridão um grito rasga a noite.

-Socorroooooooooooo. !!!! Algo me agarrou.....Me solta.

Era a voz da garota mais nova. E como se tivesse sido ensaiado o movimento, todos os cinco que estavam na frente dela se viram para tras e conseguem ver apenas um vulto enorme e a garota se debatendo numa tentativa inutil se escapar.

Eles correm, todos eles. O mais que podem, deixando para trás a garota aos gritos, até que um silêncio mortal toma conta da madrugada.

Sem gritos, sem barulho do vento, sem trovões, sem nada, só o silêncio mortal.

Só o silêncio do medo, do pavor.....

Eles estão lá fora.

4:15. Logo o sol vai aparecer. Não encontram coragem para entar lá de volta.

Medo.

O sol aparece devagar e os cinco estão lá, todos sentados encostados do lado de fora do muro do cemitério.

Seis horas. Chegam os funcionários. Eles contam o ocorrido.

A garota foi encontrada caída sobre um túmulo com olhos arregalados de desespero.

Seu sobretudo preto continua enrroscado em uma cruz de metal enferrugada pelo tempo, e isso não a deixou correr com os outros.

Seu coração não resistiu ao medo e teve uma parada fulminante.

Infelizmente foi isso que apareceu como causa mortis na certidão de óbito.

Mas para os cinco jovens o que eles viram quando olharam para tras quando a garota começou a gritar não se parecia com uma simples cruz.

Estariam todos eles tendo uma mesma visão ao mesmo tempo??

A propósito não houve sequer uma gota de chuva naquela noite, quando eles conseguiram atravessar o portão olharam para o céu e lá estava a mesma lua de antes.

Enorme, brilhante e prateada.

Como se fosse um sinal para não voltarem lá, pelos menos por enquanto.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 27/03/2011
Reeditado em 27/03/2011
Código do texto: T2873963
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