Noite de Caça (Vampiros)

Esse conto tem como personagem principal um dos vampiros do meu romance Busca por Sangue (disponível no Submarino, Saraiva, Leitura, Nobel).

Noite de Caça

Ao contrário da maioria da população de Belo Horizonte, ele só se levantou quando o sol se pôs. Bastou o último raio de luz cruzar o céu e desaparecer entre os prédios para que seus olhos se abrissem. Apareceram claros no meio da escuridão de seu esconderijo, um de seus inúmeros refúgios, diga-se de passagem. Levantou-se do que parecia um caixão ou um sarcófago, abrindo a pesada tampa de aço com seus braços frios e poderosos. Jogou-a para o lado enquanto se espreguiçava, sentindo o sangue correr pelo corpo e reativar todo seu poder, trazer à tona seus sentidos especiais, sua força, além da fome.

Pôs-se de pé com um salto e olhou para seu dormitório. Não gostava do clichê do caixão, mas ainda não encontrara nada que pudesse dar-lhe mais segurança durante o dia. Com aquela urna de metal ele estava protegido, pois poucas pessoas seriam capazes de erguer sua tampa. Ainda sim, pensou na idéia que um amigo tivera, dormir dentro de um cofre, que fora feito especialmente para ser aberto por dentro e por fora, com uma senha.

- Bobagem – disse para si mesmo com sua voz sinistra, tão fria quanto temerosa. – Quero só ver o dia em que aquele mecanismo eletrônico deixá-lo trancado lá.

Seu quarto estava tão escuro quanto o interior do caixão, mas ele não teve dificuldade para chegar até o guarda-roupa e pegar o que precisava. Gostava de usar roupas negras para se misturar com a noite, mas daquela vez, preferiu uma pesada camisa azul. Depois das calças de couro, calçou as botas e julgou-se preparado para enfrentar o que viesse. De fato, na maioria das vezes ele estava. Depois de trezentos anos de existência era difícil se impressionar, ainda mais alguém contido como aquele vampiro.

Uma das provas disso foi que não disse nada quando se sentou em sua poltrona e viu uma estranha figura encostada na parede, perto da porta. Tinha uma forma translúcida, pele pálida como a dele, só que sem a beleza característica dos imortais. Além disso, seu pescoço estava dilacerado. A grande ferida começava debaixo da orelha e acabava perto do queixo, estando enegrecida, como que cheia de sangue coagulado. Aquilo não parecia o incomodar. Tanto que caminhou sem problemas até o vampiro da poltrona.

Não se poderia dizer que aquela caminhada era normal. O homem tinha movimentos dotados de uma lentidão assustadora, ainda que a velocidade não condissesse com seu andar moroso. Parecia estar andando através de gelatina, mas, contraditoriamente, era tão veloz como se corresse. Além disso, era preciso salientar a educação que havia nos movimentos. Essa era uma exigência de seu mestre, justamente o vampiro sentado na poltrona.

- Como foi seu sono, senhor? – perguntou ele, colocando-se ao lado do vampiro como se esperasse uma ordem.

O mestre não respondeu, apenas esticou o braço e pegou um livro no criado-mudo ao lado da poltrona. Folheou-o um pouco até encontrar a página certa e começou a ler. Na capa negra não havia nenhum título, apenas algumas marcas de garras, vindas, por sinal, daquele vampiro e de seus antigos donos. Seria bom dizer que os antigos donos não existiam mais, tendo falecido, encontrado a morte final, quando se recusaram a entregar aquele precioso conhecimento. Era o que acontecia quando se recusava a negociar com aquele vampiro.

- Senhor Lastwish, devo lembrá-lo de que pretendia começar a procurar componentes para o ritual ainda esta noite – comentou o servo.

Aquele nome chamaria a atenção na cidade, mas mostrava um pouco da origem do vampiro. James Lastwish era inglês, nascido e transformado na Inglaterra há séculos. Adotara o Brasil para viver, tanto por gostar do lugar, quanto por praticidade. Estava longe de seus inimigos, ao menos de alguns deles, aqueles que conheciam mais de seu passado.

Também havia o fato de ser bem poderoso ali. Podia não ser o mais velho dos vampiros da cidade, ainda havia alguns como Marcus Alexandre, Julieta e Fernandez, mas ele se sentia seguro estando entre os temidos. Era deixado em paz para continuar suas pesquisas necromânticas, continuar com seus rituais de invocação e controle dos mortos.

- Senhor... – começou de novo seu servo, a prova de seu poder. Aquela criatura era um fantasma que o servia fielmente há muitas décadas. Por sinal, ele fora o último dono do livro que agora estava nas mãos do vampiro.

- Eu sei, Ismael. O que acha que estou lendo? Preciso apenas revisar algumas partes do ritual para ter certeza do que preciso – disse ele, podendo até parecer impaciente, mas nem seus gestos ou sua voz demonstravam alterações. Continuavam com o mesmo tom frio.

- Senhor, pelo que sei falta-lhe apenas o sangue de lobisomem. Como o senhor pretenderia encontrá-lo? – perguntou o fantasma, tentado não ser petulante. – Eu poderia aconselhá-lo a procurar por Andersom.

- Não preciso dele. Além do mais, você sabe que ele acabaria com tudo. Já sei como encontrar essa criatura – concluiu ele, levantando-se e aproximando-se de uma estante.

Seus olhos podiam ver os crânios, ossos e outros objetos bizarros depositados ali. Suas mãos foram direto para um pote cheio de formol. O que havia dentro dele? Orelhas cortadas de seus inimigos. Mais uma evidência de que aquele vampiro levava a sério a fama de caçador implacável da noite. Ele era um predador acima de tudo.

Retirou uma das orelhas e dirigiu-se para o meio do quarto. Agora seria possível notar-se um círculo de tinta branca com um triângulo no meio. Ia usá-lo, mas passou por ele, chegando perto de um armário, de onde retirou algumas velas para começar seu ritual.

Enquanto isso o fantasma o observava, tentando entender o que aconteceria. Não entendia muito de feitiços necromânticos. Os livros que tivera em vida estavam em suas mãos apenas para serem guardados, protegidos contra o mal. Infelizmente falhara em sua missão e acabara como escravo daquela criatura. Não via nada de bom no que aquele ser fazia, mas aquelas magias o impeliam a servi-lo. Incapaz de desobedecer, ele apenas esperava o dia de sua libertação. Acreditava que cedo ou tarde ela viria e aquele monstro seria punido por suas maldades.

O vampiro pegou algumas velas negras e colocou nas pontas do triângulo. Começou a realizar outros preparativos, como os cânticos, além de outros componentes materiais. Aquele ritual lhe permitiria ouvir os mortos, além de fazer uma pergunta especial. Teria a resposta específica para o que queria e poderia encontrar sua presa.

Ismael temeu pela alma do pobre coitado que seria caçado pelo vampiro. Rezou para que a criatura fosse maligna, para que, ao menos, um outro ser terrível tombasse nas garras de James.

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Lucas estava agitado, andando aborrecido pela Savassi. Já era quase meia noite e estava um pouco mais quente do que o normal, além de mais barulhento do que ele estava acostumado. O barulho de cada carro que passava o incomodava. Para dizer a verdade, qualquer som estava o incomodando, desde os latidos dos vira-latas até os miados dos gatos. Era capaz de ouvir as pessoas conversando nos prédios e sentir o cheio de suas comidas, quando seu nariz não estava ocupado com o fedor da rua.

Normalmente ele não andaria sozinho pelas ruas de Belo Horizonte. Sua mãe sempre lhe dissera que não era seguro, que deveria tomar muito cuidado com os perigos da noite. Mas ele estava farto de tudo, não estava disposto a dar atenção nem à sua própria segurança naquele dia, não depois de ter reencontrado o pai após tantos anos separados. Por que ele voltara? Por quê?

Chutou uma lata de refrigerante, jogando-a do outro lado da rua, enquanto segurava-se para não começar a xingar o mundo inteiro mais uma vez. Xingar tudo e todos poderia ser normal para muitos adolescentes, mas não para ele. Lucas sempre fora comportado, contido, muito bem educado. Gostava de ir à igreja, algo que a mãe sempre lhe ensinara desde pequeno. Não era à toa que tinha uma corrente de ouro com um crucifixo.

Começara aquela noite xingando Deus, culpando-o por sua desgraça, por sua maldição, mas depois viu que Ele não era culpado de nada. Por que culpá-lo por algo que os homens faziam, por brigas entre as pessoas? Não, aquilo era culpa exclusivamente de seu pai, daquele homem amaldiçoado, tão amaldiçoado que passara seu mal adiante.

Incapaz de se controlar, soltou um grito agoniado que saiu quase como um uivo. Assim que liberou a raiva, levou a mão à boca e olhou em volta, assustado consigo mesmo e preocupado, pois alguém poderia tê-lo visto. Luzes se ascendendo nos apartamentos mostravam que não foram poucos os que o ouviram. Assim ele se escondeu entre as sombras dos prédios e continuou andando. Pensou em ligar para a namorada, mas decidiu que não iria fazê-lo, não depois do que acontecera na escola.

Era sexta-feira e ele estava louco para que a última aula acabasse. Poderia sair e ir para o shopping comer alguma coisa e assistir o filme. A mãe havia o liberado e Daniela o acompanharia. Na carteira ao lado, ela sorria toda vez que eles se olhavam e trocavam recados. Pensavam em sair bem tarde de lá, pois o pai dela os buscaria. E ele gostava do sogro, pra dizer a verdade, adorava a família dela. Talvez porque quisesse que a dele fosse assim.

Mas tudo tinha que dar errado. Tudo. Começou a sentir algo diferente assim que pegou sua mochila e preparou-se para sair. Alguma coisa o irritava, como se tentasse sair de dentro dele. Lucas fez de tudo para se conter, mas a fúria ficava cada vez mais próxima. A conversa animada dos colegas irritava seus ouvidos, assim como os perfumes da garotas importunavam seu nariz.

Até aí estava tudo bem, tudo muito bem até chegarem ao pátio da escola. Foi quando um ex-namorado de Daniela resolveu abordá-la, rindo para Lucas como se estivesse caçoando dele. Talvez não fosse bem assim, mas ele se sentiu mal e com raiva, com muita raiva. De repente, já estava discutindo com ele e saltou sobre o idiota com uma força que desconhecia até o momento. Socou-o e parou só quando as mãos estavam sujas de sangue e ouvia os gritos de Daniela, além de sentir o cheiro de seu medo. Nem chegou a olhar para ela, saindo correndo da escola, procurando pelo portão como se fosse sua saída para o céu.

Quando estava para sair, foi agarrado pelo braço. Pensou que fosse alguém da escola, mas não era. As mãos fortes o arrastaram pelo passeio e o jogaram dentro de um carro. Só então ele viu quem era. Era seu pai, aquele homem de rosto severo, sobrancelhas que se uniam sobre o nariz e olhar de fera, de gente perigosa.

- Hoje é seu dia – disse ele, como se congratulasse Lucas por algum motivo. O garoto sentiu logo que não deveria se sentir alegre por aquelas congratulações.

O pai o levou dali para um barracão na periferia da cidade. Era um lugar escuro onde Lucas ficou até que a noite chegasse com a lua cheia. Ficou lá cheio de fome e com aquele calor dentro de seu peito, a fúria pedindo para sair. Só se conteve rezando, pedindo para que nada de mal acontecesse. Durante todas aquelas horas, o pai ficou sentando o olhando. Nenhum dos dois disse nada. Só quando a lua surgiu, eles sentiram isso sem ver, o homem abriu a boca.

- Parabéns, é hora de sentir minha maldição. E eu que nem esperava isso. Não imaginava que pudesse me orgulhar de você. Pensei que fosse patético como sua mãe – zombou ele, fazendo Lucas se lembrar da cara de medo da mãe sempre que o nome dele era pronunciado. Bastava ouvir o nome Paulo para que ficasse assustada.

- O que você quer comigo? – perguntou Lucas, encolhendo-se em um canto, mas o desafiando com um olhar furioso.

- Contar o que você é – riu ele, começando a bater palmas. – Lucas, meu filho, você tem meu sangue e herdou de mim minha maldição.

- O quê? – ele perguntou incrédulo.

- Olhe para suas mãos, está começando... – falou, apontando para ele.

A princípio, Lucas recusou-se a olhar, mas depois sentiu que algo estava acontecendo. Levantou as mãos, colocando-as na frente dos olhos. Notou-as cheias de pêlos, as unhas crescendo como se fossem garras. Então, como se aquela ação houvesse catalisado a metamorfose, todo seu corpo começou a mudar. Os pêlos cresceram por toda parte. Tudo doía, com um tremor que dos músculos ia para os ossos, fazendo-o rolar pelo chão.

O rosto começou a se deformar com um focinho crescendo cheio de pêlos negros. As orelhas tomaram a forma diferente como a de um lobo. E ele foi crescendo, crescendo, crescendo até quase tocar o teto do barracão quando pôde se levantar. Então olhou para si mesmo mais uma vez, naquela forma de homem-lobo, algo que imaginava existir apenas no cinema. Achou que ficaria louco, mas sua mente aceitou tudo aquilo. Aceitou ainda mais facilmente quando olhou para o outro lado e viu o pai com a mesma forma, só que maior, mais poderosa, mais feroz.

Lucas ficou tentado a correr na direção do pai e enfiar-lhe as garras, mas o olhar daquele outro lobisomem o impediu de seguir em frente. Ele era mais forte, muito mais forte. Não haveria como vencê-lo. A fúria tentava sair de dentro dele mais uma vez, só que a conteve. Pensou em si mesmo, na mãe e em Daniela, rezou e concentrou-se tanto que, quando viu, era ele mesmo mais uma vez. O mesmo garoto de quinze anos. E estava nu no meio do barracão, as roupas rasgadas em volta dele.

O pai também voltara à forma original e aproximou-se com um sorriso no rosto.

- Parabéns. Para você é ainda mais fácil, pois nasceu com a maldição. Eu, que fui amaldiçoado, tive dificuldade em controlar e precisei contratar um feiticeiro para dar um jeito nisso. Muito bom. Acho que em breve vai poder se juntar a nós, conviver com outros que também têm a maldição do lobo.

Lucas encostou-se na parede frágil do barracão, temendo a proximidade do pai.

- Quero ir embora. Me deixa em paz... – disse ele, quase sussurrando.

- Você ainda tem que se acostumar com a idéia. Aconteceu com os filhos dos outros também. Todos com a mesma maldição, alguns nem aceitaram e nós tivemos que usá-los como comida. Vai e pensa se quer morrer ou viver conosco. – Terminando de falar, ele andou até um canto e pegou umas roupas, jogando-as para o filho. Já tinha tudo preparado, já sabia quando seria a transformação dele.

Lucas vestiu-se depressa e saiu correndo daquele lugar maldito. O pai jogou-lhe a mochila quando ele já estava fora do barracão. O garoto pegou-a e tomou o primeiro ônibus para longe, indo parar no centro da cidade e depois tomando rumo de casa.

Agora perambulava pela Savassi com medo de encontrar a mãe. O que ela diria? Será que ela sabia da maldição do pai e o temia tanto por isso? Será que rejeitaria o próprio filho? Achava que não, mas temia a resposta. Fizera questão colocar o celular no modo silencioso, pois sabia que ela o procuraria. Lembrando-se do aparelho, pegou-o na mochila enquanto se sentava no meio-fio.

Havia dez ligações não atendidas. Nove delas eram de sua mãe, tanto do celular dela quanto de casa. Uma era de Daniela e aquilo o deixou um pouco feliz. Mas o que será que ela queria? Será que ligara para terminar o namoro? Rezou para que isso não acontecesse e retirou o celular do modo silencioso. Não ousou ligar para ninguém, mas atenderia se qualquer um telefonasse.

Levantou-se para continuar sua caminhada e seus sentidos captaram algo. Havia um cheiro diferente na noite, algo que o assustava e o excitava ao mesmo tempo. Seus instintos o avisavam de alguma coisa. Demorou um pouco para saber o que era, mas depois a resposta veio do fundo de sua mente, daquela parte esquecida, empurrada para longe pela razão. Algo primordial avisou o que era. Era a caçada. Uma caçada estava para se iniciar.

Imediatamente, seu lábio se ergueu, mostrando os dentes enquanto os olhos se comprimiam, como um cão rugindo para o inimigo. Mas antes que o instinto de morder e eriçar os pêlos aparecesse, algo saltou das sombras e socou seu estômago com tanta força que ele se dobrou e rolou pela rua. Lucas não soube como, mas conseguiu se manter acordado e ainda se levantou.

Parado à sua frente estava um homem de uns trinta anos ou quase isso. Seus cabelos negros e longos escorriam soltos sobre os ombros. Os olhos eram azuis, mas por um momento, Lucas jurou ver um brilho vermelho neles. A face era muito pálida e o garoto temeu, pois, de algum modo, passou a crer em vampiros naquele instante. Confirmou suas certezas quando o homem abriu a boca e mostrou os dentes afiados.

- É ele mesmo. Eu disse que estava certo – falou ele, retirando uma enorme mochila das costas. – Esperava. Só não imaginava que fosse ser tão jovem. – Mexeu na mochila até retirar uma arma. Era uma maldita escopeta! Lucas sentiu um frio na espinha e teve certeza de que havia balas de prata ali dentro. Só faltava isso naquela noite que mais parecia um filme de terror barato. – Também acho. Deve ser maldição herdada mesmo. Preferiria o amaldiçoado, mas me satisfaço com esse.

O homem estava falando sozinho? Será que todos os vampiros eram loucos? Ou estava falando com ele? Não, sua voz indicava que a criatura pensava que havia alguém ali do seu lado, alguém com quem conversava. Era muito bizarro para ele.

- Por acaso veio por causa do meu pai? – perguntou ele, quase rosnando.

- Ele disse pai? – perguntou o vampiro, mas Lucas sabia que a pergunta não era para ele. – Não, não vou.

- Você é louco? – perguntou Lucas, gritando.

O vampiro já apontava a escopeta, preparando-se para atirar, quando Deus pareceu interceder pelo garoto. Um grupo de pessoas surgiu do outro lado da rua, um bando de gente passando e indo para a farra. O vampiro continuou parado, apontando a escopeta. Parecia uma estátua. As pessoas passaram por ele, sem notá-lo, desviando-se sem nem saber o motivo.

"Eu é que não fico aqui!", pensou Lucas, dando meia volta e começando a correr, mas tomando cuidado para sempre deixar as pessoas entre ele e o vampiro. Mas ele sabia que haveria perseguição. Aquela era noite de caça e o maldito imortal não o permitiria sobreviver. "Droga, por que comigo?", pensou enquanto continuava correndo.

Seus sentidos ampliados tentavam ajudá-lo, mas acabavam atrapalhando. Olhava de um lado para o outro em busca de um refúgio, mas não era capaz de encontrar. Seus instintos o avisavam de que nada deteria a caçada do vampiro. Por falar nos instintos, eles provocavam uma série de emoções que confundiam ainda mais a cabeça de Lucas. Havia a fúria que o fazia odiar-se por estar fugindo e o desafiava a virar-se e dar uma surra naquele maldito vampiro. Agora ele tinha força para isso.

Mas também crescia um medo dentro dele, um temor por sua alma e por sua vida. Temia perder o controle e tornar-se como o pai. Também havia a possibilidade de o vampiro trucidá-lo em um piscar de olhos. Havia algo naquele morto-vivo que indicava seu poder. Seus confusos instintos o contavam isso, assim como indicaram o que ele era.

Assim ele fugiu, correndo por pedra e asfalto, passando por ruas e prédios, sabendo que só estaria salvo se o sol nascesse. Tentava confiar nos sentidos, deixava-os indicar o caminho. Não sabia o porquê, mas sentia que era fácil para ele controlar essa parte de seu poder, ainda que temesse o restante.

Parou já cansado debaixo de um poste, vendo outras pessoas caminhando pela rua e os carros parados em frente ao semáforo. Havia muita gente ali, o que o fez pensar que estaria seguro. Ledo engano.

- Por que ele acha que pode fugir assim? Eu não me divirto nem um pouco nessas caçadas. Isso é mais coisa do Andersom – ouviu alguém dizer à sua direita. Fechou os olhos e fez uma prece antes de olhar para o lado. Mas apenas tentou virar a cabeça. Parou assim que sentiu o cano frio da escopeta contra a bochecha.

- Por que me caça? O que eu te fiz? – perguntou ele. Será que havia alguma desavença natural entre lobisomens e vampiros? Suspeitava de que havia lido algo parecido em algum lugar.

- Ele está pensando isso? – perguntou o vampiro, ainda falando com alguém invisível. – Não é nada pessoal ou questão de raça, garoto. Simplesmente preciso de seu sangue.

Lucas ficou ainda mais assustado. Olhou para os lados procurando por ajuda, mas ninguém parecia notar o vampiro. Às vezes o olhavam como se estivessem diante de um louco. Ele não teve coragem de gritar.

- Não serve se eu doá-lo ao invés de você me matar? – perguntou com dificuldade para deixar a voz sair da garganta. Estava quase chorando.

- Não, infelizmente preciso levar o sangue na sua pele. Faz parte do ritual. A magia é assim, cheia de caprichos – disse o vampiro, dando uma pausa antes de continuar, mas aí já não estava falando com Lucas. – Sim, estou muito falante hoje.

Aquela voz fria era o que mais assustava o garoto. Como uma criatura poderia ser tão fria assim? Nem mesmo seu pai, encarnação da maldade, era daquele jeito. E bastou pensar nele para que aparecesse. De repente, Paulo surgiu em frente a eles, franzindo os cenhos e mostrando os dentes.

- Solte meu filho!

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James ficou de pé no meio do círculo ritual até finalmente ouvir as vozes dos espíritos. Eles contavam-lhe tudo o que sabiam sobre os lobisomens. Não era muito, mas o suficiente para que ele pudesse começar a caçada. Um aviso em especial o deixou contente, ainda que não tenha feito abrir um sorriso. Um fantasma avisou de um lobisomem andando pela cidade, uma criatura jovem.

Estava feito. Encontrara o que precisava e partiria em busca daquilo. Ajeitou os cabelos enquanto pegava a grande mochila preta, colocando nela tudo o que julgava necessário para a caçada. Primeiro a escopeta, que não podia faltar, depois as pistolas, algumas balas de prata, uma faca e, por fim, tentou pôr sua espada. Não gostava de andar sem sua lâmina, mas ela não cabia naquela sacola. Pensou em pô-la em uma capa de violão, mas desistiu da idéia. Pegaria a espada curta, que também seria útil.

Assim ele saiu de casa acompanhado por Ismael. Montou em sua moto e ajeitou a bolsa de lado, tomando cuidado para não deixar nada cair. Os olhos atentos varreram a rua em busca de inimigos. Seus ouvidos fizeram o mesmo, assim como seus sentidos especiais. Também não ouviu nada por parte dos fantasmas. Era hora de ir.

Deu uma partida rápida, correndo pela cidade como um demônio, aproveitando toda a potência da moto. Com mais de mil cilindradas, não demorou a chegar onde queria. Usando seus sentidos e destreza ampliada, não teve dificuldade nenhuma para dirigir de um jeito que nenhum mortal em sã consciência faria. Quando desceu da moto, Ismael já estava a seu lado novamente, tendo seus próprios meios de se movimentar.

A mochila seria pesada para muitos, mas não para James que desenvolvera muito sua força ao longo dos anos. Ela não foi nenhum incômodo enquanto o vampiro saltava de um lugar para o outro, às vezes subindo pelos prédios como uma aranha, seus dedos tocando o concreto e fixando-se ali, permitindo-o arrastar-se na vertical.

A caçada foi mais rápida do que imaginou. O lobisomem não tentava se esconder, nem parecia preocupado com qualquer perseguição e ele só soube o motivo quando o viu. James desceu de um prédio, caindo entre as sombras e vendo o garoto sentado no meio-fio. Ficou observando um tempo, vendo o olhar triste e atormentado. Aquilo o paralisou, como se o afetasse de algum modo.

- Algum problema, senhor? – perguntou Ismael, observando o garoto e pensando na hesitação de seu mestre.

James não respondeu. Uma de suas mãos já se preparava para abrir o zíper da mochila, mas ele acabou se contendo. Ismael não pôde compreender o motivo disso, mas percebeu que o vampiro estava um pouco estranho.

- Acha que ele não é o lobisomem? Talvez não seja – disse Ismael, torcendo para que o garoto não se tornasse uma vítima.

- Quero ver se ele é mesmo um lobisomem – explicou. Tinha a mesma voz fria, mas Ismael não acreditou em suas palavras por algum motivo que não pôde entender.

Antes que o fantasma percebesse, o vampiro saltou das sombras, avançando sobre o garoto e acertando-lhe um soco que o fez rolar pelo passeio. Aquela não fora toda a força do vampiro, mas seria o suficiente para derrubar qualquer humano, talvez até matar. No entanto, o garoto se levantou mais uma vez. Definitivamente, ele era o lobisomem.

- É ele mesmo. Eu disse que estava certo – disse James, sacando sua escopeta.

- Os espíritos não avisaram que havia um lobisomem aqui? Achei que seria difícil eles mentirem depois do ritual que o senhor usou. Esperava uma criatura mais violenta ou perigosa? – perguntou Ismael, olhando para o garoto e ficando com pena.

- Esperava. Só não imaginava que fosse ser tão jovem. – Sua arma já apontava para o jovem lobisomem, mas ainda não ousava atirar. O dedo não estava no gatilho.

- Suponho que o garoto seja filho de um lobisomem. O pobre coitado nem sabe o que é direito.

- Também acho. Deve ser maldição herdada mesmo. Preferiria o amaldiçoado, mas me satisfaço com esse. – Seus olhos miravam o alvo, mas seus pensamentos pareciam bem distantes.

O garoto disse alguma coisa, mas ele não entendeu direito. O que seria?

- Ele disse pai? – perguntou o vampiro.

- Sim, parece temer o pai ou temer que você tenha sido enviado por ele. Não acha melhor esperar? Talvez o amaldiçoado apareça – sugeriu Ismael, tentando poupar a vida do rapaz e dar um pouco de sentido às ações de James.

- Não, não vou – negou o vampiro, preparando-se para atirar. Parecia ter resolvido algum dilema interno.

Seu dedo não chegou a apertar o gatilho. Ouviu um bando de pessoas aproximando-se, antes que elas cruzassem a esquina. James sentiu o cheiro, ouviu as vozes, podia até perceber o sangue em suas veias, as batidas de seus corações chamando por ele, pedindo para que se alimentasse. Mas não era hora daquilo. Tinha uma missão a cumprir. Infelizmente, se atirasse ali, não teria tempo para pegar o que precisava.

O garoto fugiu e ele não se importou nem um pouco. Era só uma questão de tempo até pegá-lo. Sendo mais veloz do que o lobisomem, alcançá-lo foi uma questão de tempo. Também, ele era o predador mor. Ele era o vampiro, que fora criado para se alimentar de sangue, para estar no topo da cadeia alimentar. Os lobisomens eram só uma caça um pouco mais difícil, segundo o que pensava.

Teria sentido pena dele, se ainda fosse capaz disso. Mas a mente de James era prática demais para sentir pena. Por isso, o que sentiu quando o viu encostado no poste e o surpreendeu, foi só um pouco de uma prazer perverso ao ver seus olhos cheios de raiva e medo.

- Por que ele acha que pode fugir assim? Eu não me divirto nem um pouco nessas caçadas. Isso é mais coisa do Andersom – falou para Ismael, achando a fuga do garoto uma besteira.

- É a esperança. E você não pode negar isso a um homem. Para dizer a verdade, nem a um garoto como ele, que praticamente vive desse sentimento. – James já ia mandar Ismael calar a boca, mas ele continuou. – O garoto pensa que existe uma disputa especial entre lobisomens e vampiros.

James ficou um pouco impressionado. Por que alguém pensaria uma coisa dessas? Para alguns vampiros, os lobisomens eram até aliados bastante úteis. Pensou em explicar tudo para o garoto, mas não era de falar muito, por isso fez só um comentário. E ainda foi obrigado a ouvir mais algumas palavras de Ismael.

- O senhor está muito eloqüente hoje. Essa explicação satisfará a mente assustada dele – ironizou o fantasma.

- Sim, estou muito falante hoje – respondeu ele, para depois se calar. Havia sentido algo. Mais alguém estava ali.

Olhou para o lado para enxergar um homem estranho o observando. Tinha um cheiro semelhante ao do garoto e olhos cheios de fúria. Era o pai, com certeza. Suas palavras confirmaram isso depois de James já começar a fazer planos para acabar com a criatura.

Sem se importar com nada, o lobisomem mais velho saltou sobre ele. James logo viu que ele não estava pensando muito, pois nem imaginou que o vampiro poderia ter explodido a cabeça de seu filho antes de sua aproximação. Lastwish evitou o ataque saltando para trás, já mirando a escopeta e preparando-se para atirar. Não o fez por um simples motivo. Queria evitar chamar a atenção. Ainda mais no território em que estavam. Aquela área pertencia a Marcus e aquele vampiro não gostava de bagunça em sua casa.

Quando olhou de volta, os dois lobisomens já estavam correndo. James observou-os se distanciarem sem se importar nem um pouco. Guardou a escopeta na mochila e estalou os dedos, depois o pescoço. Era hora de começar a caçar de verdade, além de lutar.

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Talvez aquela tenha sido a primeira vez na vida em que Lucas tenha ficado aliviado por ver o pai. Não era pra menos, ele acabara de salvar sua vida. Agora o garoto esperava continuar vivo. Imaginava o que aconteceria dali em diante. Com certeza o vampiro continuaria a caçada.

- Vai chamar seus amigos para acabarem coma aquele vampiro? – perguntou enquanto corriam.

- Então era mesmo um vampiro? – perguntou Paulo, surpreso.

- O senhor não sabia? Não sentiu o cheiro? – Lucas ficou um pouco perturbado.

- Senti só depois. Você está me deixando impressionado, filho. Será ótimo para o nosso grupo.

Os dois continuaram correndo por um bom tempo, passando por becos escuros e ruas que Lucas nem sonhava em conhecer. Ele nem tinha idéia de para onde o pai estava o levando, mas achou melhor o acompanhar, ao menos até o amanhecer, quando se livraria dele e poderia continuar sua vida.

Sentiu o cheiro do vampiro mais uma vez. Ele estava perto, apesar de terem corrido tanto. Paulo estendeu um braço e o fez parar, fungando e procurando pelo cheiro do inimigo.

- Ele está aqui – concluiu ele.

"Disso eu sei, droga! Quero saber é como fugir dele!", pensou Lucas, irritado com o pai que, de repente, não parecia meter tanto medo assim. Não quando havia um vampiro logo atrás deles.

- Para as sombras. Eu sei um modo de evitá-lo – disse ele, retirando da roupa uma pequena esfera. Apertou-a com força enquanto segurava o filho, encostando-se à parede. Não houve um pingo de carinho naquele aperto.

Os dois ficaram parados e Lucas até evitava respirar, principalmente quando viu o vampiro cair na frente deles, olhando de um lado para o outro, estranhando ter perdido a pista de suas presas.

O medo deixava as perdas de Lucas bambas, mas não era só isso que o incomodava. Podia sentir o bafo do pai na sua nuca e aquilo não era nada bom, nada confortável, deixando-o ainda mais nervoso. Apenas o lembrava de que estava entre duas feras, duas criaturas perigosas que acabariam com sua vida. Então rezou um pouco e lembrou-se de sua mãe. Será que ela estaria preocupada?

Aparentemente estava, pois assim que pensou nela, seu celular tocou. O barulho fez seus olhos arregalarem e os do seu pai devem ter feito o mesmo. No instante seguinte, o vampiro já havia se virado, dando um enorme salto e sacando duas pistolas ainda no ar. Paulo empurrou Lucas e transformou-se quase que instantaneamente. Ele tentou pular na direção do vampiro, mas foi atingido várias vezes por balas de prata, sendo perfurado no peito e nos ombros. Mas não caiu. Cambaleou, mas não caiu.

O vampiro caiu de novo e começou a atirar mais uma vez, só que agora o lobisomem estava preparado. Começou uma corrida furiosa sem se importar com os tiros, como se tivesse uma proteção especial. O vampiro percebeu que suas balas não eram suficientes e tratou de jogar fora as pistolas. Aproveitando a mochila aberta, retirou uma espada curta que brilhou na fraca luz do ambiente. Mas Paulo já estava sobre ele, saltando com suas garras.

Os dois rolaram pela rua, as garras do lobisomem furando a barriga do vampiro, enquanto o morto-vivo enfiava sua espada no ombro do inimigo e afastava a bocarra do licantropo com o braço livre. Eles rolaram até o vampiro conseguir parar por cima e finalmente cravar os dedos no pescoço da fera, enforcando-a enquanto retirava sua espada para enfiá-la mais uma vez no corpo do inimigo.

Aquela posição durou pouco tempo. Paulo conseguiu arremessar o imortal, fazendo-o bater na parede, enquanto levantava-se rugindo, tentando se impor e mostrar que sairia vitorioso. Mas o vampiro já estava de pé; nem bem tocara a parede. Ele passou a mão pelo abdome ferido e levou-a a boca, experimentando o próprio sangue. Um sorriso quase cruzou seu rosto, mas mesmo naquela batalha frenética ele não demonstrava emoções. Então correu na direção do lobisomem, que retribuiu a corrida.

Os dois se engalfinharam mais uma vez, só que agora o vampiro fora mais esperto. Aproveitando-se do tamanho do inimigo, ele abaixou-se um pouco, escapando das garras e levantando-se para enfiar a espada na barriga de Paulo, soltando a lâmina depois de vê-la passar pelos pêlos e cravar-se nas entranhas do inimigo. Com as duas mãos livres, ele socou até afastar um pouco o licantropo. Uma sucessão de golpes de artes marciais jogou o lobisomem do outro lado da rua.

Paulo levantou-se tonto, com sangue escorrendo da boca e da barriga. Lucas observou tudo horrorizado, sabendo que seria o próximo. Aquele vampiro era forte demais, seus socos ainda mais poderosos do que os de uma criatura como Paulo. Para provar isso, o sanguessuga aproximou-se lentamente. Foi atacado, mas segurou com facilidade o braço do lobisomem. Então levou sua mão ao rosto do inimigo e fechou os dedos em volta o focinho. Paulo o encarava com um brilho fraco e derrotado nos olhos. Sem se comover, o vampiro o segurou bem firme e torceu o focinho, quebrando o pescoço do oponente no processo. A luta acabou.

O lobisomem caiu no chão e começou a voltar à sua forma original, diminuindo até ser de novo aquele ser humano que tanto metia medo em Lucas e em sua mãe. No entanto, agora não era mais nada. O temor no coração do garoto desapareceu, mesmo que o vampiro estivesse ali.

Lucas ficou o observando, vendo-o arrancar a pele de seu pai e fazer uma espécie de bolsa, onde foi colocando o sangue quente que ainda escorria do corpo. "Em breve será minha vez", pensou, "Vou morrer lutando". Começou a se transformar, assumindo sua forma de combate, com a qual não estava nem um pouco acostumado. Para dizer a verdade, não estava acostumado nem a brigar. Sua mãe o orientava a nunca fazê-lo.

O vampiro já estava de pé e olhou para ele. Lucas rugiu, mas não obteve resposta. James apenas levantou uma sobrancelha curiosa para ele.

- Não preciso mais de você, garoto – disse o vampiro, com sua mentalidade prática e a voz fria.

Aquilo fez Lucas se esfriar totalmente. Toda a fúria do combate se apagou de maneira instantânea. Sua forma humana voltou em um piscar de olhos e ele ficou ali parado, de roupas rasgadas, olhando para o vampiro.

- E então? – perguntou.

O vampiro não respondeu, continuando taciturno.

- E eu? – insistiu Lucas.

James continuou calado, terminando de arrumar suas coisas.

- Por favor, preciso saber sobre mim! – Lucas não sabia o que estava querendo. Por acaso queria que o homem o matasse? Que loucura!

- Não tenho nada com você – respondeu ele, olhando-o com a mesma sobrancelha erguida.

- Tem sim! Preciso de ajuda. Como vou conviver comigo mesmo? O que Deus fará comigo?

A sobrancelha desceu e uma expressão aborrecida tomou o rosto de James.

- Por que todos se perguntam isso? Não posso te ajudar. Não sou tutor de ninguém. – Parou um pouco, como se ouvisse alguém. – Não sei, Ismael, mas pode funcionar. – Voltou-se para Lucas mais uma vez. – Vou te indicar um amigo que viveu alguns conflitos. Pelo que notei, você parece ter fé. Procure Marcus, ele o ajudará. – Pareceu ouvir mais alguma coisa. – Ismael, Andersom iria matá-lo antes que ele lhe contasse o problema. E Julius é um idiota. Ele ensinaria poesias ao garoto. E eu não quero isso para ninguém.

Lucas gostava de poesias e gravou aquele último nome, mas seguiria a primeira indicação. Encontraria o tal Marcus. Mas como? James viu a pergunta em seu rosto.

- Procure perto da serra, lá em cima. – Apontou para o bairro Mangabeiras com os olhos. – Você o encontrará lá. Boa sorte.

Assim o vampiro desapareceu na noite, deixando Lucas perdido em um mar de dúvidas, com só uma direção a seguir. Não sabia se era a direção certa, mas havia apenas um farol e seria aquele tal de Marcus. Ele esperava que aquele fosse o caminho certo. Beijando seu crucifixo, ele preparou-se para continuar seu caminho. só que o celular tocou. Era sua mãe de novo. O melhor era ir pra casa, dormir e resolver seus problemas no dia seguinte. Nada como o dia seguinte!