IMAGEM CRIADA POR ALEF IKEDA ESPECIALMENTE PARA ESTE TEXTO

Contam que há muito tempo atrás, numa cidadezinha muito distante no interior de Santa Catarina, vivia uma família que não gostava muito de fazer amizade com os vizinhos. Ali vivia uma mulher muito cruel com seu marido e sua enteada, uma garotinha chamada Luara, com mais ou menos oito anos de idade.

Todos os dias a madrasta espancava a garotinha e a deixava de castigo o dia inteiro trancada num quarto escuro. Quando ia dando a hora do pai da garotinha chegar do serviço, a madrasta tirava a menina do castigo e jurava que se o pai ficasse sabendo de alguma coisa, ela a mataria.

Luara tinha pavor daquela mulher horrorosa e nunca tivera coragem de contar para o seu pai tudo o que estava sofrendo.

Numa noite muito gelada e chuvosa, o pai da menina não pôde vir para casa porque tinha dado enchente no meio do caminho. A madrasta então, com toda sua crueldade, disse para a menina que naquela noite ela ficaria de castigo no canto do quarto sem janta e sem cobertor a noite toda. A madrasta tinha prazer em ver o sofrimento da pequena e inocente criança.

A noite estava muito fria... Muito gelada... Lá fora os raios e trovões anunciavam uma noite angustiante para Luara. No outro dia a menina amanheceu morta, encolhida no canto do quarto. A madrasta disse para o marido que tinha deixado a menina dormindo no quarto e que provavelmente a menina, “muito desobediente”, tinha se levantado para brincar escondida durante a noite.

O pai chorou muito a morte de sua filha e nem desconfiava as maldades que a menina havia sofrido.

 

Exatamente sete dias depois, o casal já estava deitado para dormir quando a  mulher sentiu vontade de ir ao banheiro e nem percebeu que no canto do seu quarto estava uma sombra agachada. Ao voltar para o quarto ela sentiu um ar muito gelado, correu então para debaixo das cobertas sentindo a espinha congelar. Quando ia ajeitar o cobertor pôde vislumbrar aquela figura aterradora se aproximando da cama... Era a menina que caminhava devagar em direção a ela sussurrando : "Estou com tanto frio... "

A madrasta não conseguia nem se mexer, tamanho era o seu pavor. A menina, com a pele arroxeada e com os olhos arregalados foi se enfiando embaixo da coberta: "Tô com tanto frio..." Ela foi se deslizando até chegar juntinho da madrasta. A mulher, sem poder falar, arregalou os olhos quando a menina se abraçou a ela: "Me esquenta, madrasta!" A menina aproximou  seu rosto ao da madrasta e sorriu diabolicamente: "Estou com tanto frio..." sussurrou.

No outro dia, quando o homem acordou, sua mulher estava morta na cama. O que ninguém conseguiu explicar foi o motivo dela estar totalmente congelada e com os olhos esbugalhados!