O Transatlântico.

Aquele Transatlântico de luxo com destino às ilhas do Caribe fazia a alegria de todas as pessoas que ali se faziam presentes. Um lindíssimo navio de luxo com seus maravilhosos quartos, magníficos restaurantes, salas de cinema onde se podiam assistir aos mais variados filmes, shopping onde se podiam encontrar as mais variadas lojas, piscinas térmica e de temperatura ambiente para aqueles que quisessem aproveitar a viagem refrescando-se naquelas águas sublimes, enfim um Transatlântico de Luxo que saía do Porto do Rio de Janeiro com destino às ilhas do Caribe. Muitos ali eram a primeira vez que faziam aquela que prometia ser uma inesquecível viagem. Com certeza será mesmo inesquecível! Vários já faziam esse mesmo itinerário pela segunda vez por considerarem algo que foi marcante em suas vidas. Aquela manhã na qual o navio sairia estava magnífica, com um esplendoroso céu azul e muito poucas nuvens que não atrapalhavam em nada o calor e o sol daquele lindo dia. Notar-se-ia que todos se encontravam radiantes para fazerem aquela viagem. Os grandes magnatas, ricos e milionários, grandes empresários e executivos se encontravam ali, ou seja, a massa da alta sociedade com seus familiares, parentes e amigos prontos para realizarem a sensacional viagem. No porto se encontravam muitas pessoas amigas, prontas para darem o último adeus àqueles que agora iriam se aventurar nas maravilhas do alto-mar. Da cabine de comando anuncia-se que o navio está pronto para partir, desejando a todos uma excelente viagem. Assim o navio segue rumo ao seu destino. Nesse navio haviam também muitos recém-casados que iriam fazer a sua lua-de-mel em grande estilo. Entre estes se encontravam Murilo e Vanessa que haviam se casado havia dois dias numa exuberante Catedral, terminando com uma soberana festa para mais de 1000 convidados. Murilo e Vanessa ainda não conheciam as ilhas do Caribe e aquele seria um momento único para se realizar aquele sonho tão esperado. O navio seguia tranqüilo em alto-mar e quando caiu a noite podia-se contemplar um lindíssimo céu todo estrelado. Murilo e Vanessa estavam num daqueles maravilhosos restaurantes trocando juras de amor como um casal completamente apaixonado. Seguiram após para uma das salas de cinema onde nem sequer prestaram atenção ao filme que estava passando trocando beijos e abraços e fortes carícias que começava a despertar a libido. Acabaram saindo da sala de cinema antes mesmo do dia terminar a fim de consumarem uma linda noite de amor. Eles estavam hospedados na Primeira Classe daquele Transatlântico e com isso o seu quarto tinha uma suíte, com uma enorme cama de casal, cobertores da mais fina seda e banheira de hidromassagem com finos sais de banho a fim de que o casal pudesse relaxar com todo o conforto. Dentro do quarto os dois resolvem tomar um banho juntos naquela maravilhosa banheira e ali mesmo consumam o seu ato de amor. Os dois estavam completamente envolvidos um pelo outro. Assim que saíram da banheira foram para o quarto, onde tiveram mais um momento de amor. Vanessa sentia-se a mulher mais feliz do mundo e Murilo estava completamente realizado, pois antes de conhecer Vanessa a quem também amava era dado a todo tipo de frivolidades, só que mudou categoricamente depois que conhecera aquela que roubara definitivamente o seu coração. Dormiram felizes e tranqüilos, um abraçado ao outro. No dia seguinte assim que amanheceu Vanessa estava sozinha na cama e quando resolve envolver seu marido com seus braços percebe que não havia mais ninguém ali. Nisso ela começa a chamar por seu amor, mas não obtém nenhuma reposta. Então ela levanta-se, vai até o banheiro pensando que talvez ele pudesse estar tomando um banho, mas nada, completamente vazio. “Onde será que esse danado se meteu?” – pensou Vanessa. Ela resolve ficar ali e esperar. O tempo começa a passar e nada de Murilo aparecer. Vanessa começa a preocupar-se. “O que será que aconteceu?” Já passava das duas horas da tarde e nada de Murilo aparecer. Vanessa chama pelo interfone um daqueles muitos auxiliares existentes naquele navio e pede que se possível localizem o seu marido, pois desde o início da manhã saíra do quarto e não voltara mais. O rapaz promete encaminhar o assunto para a cabine de comando a fim de que pudessem fazer a localização e tentou tranqüilizá-la dizendo que provavelmente ele deveria ter saído para um pequeno passeio e acabou por se perder naquele imenso navio, mas que ela não se preocupasse, pois logo tudo estaria resolvido. Ela deu uma foto do Murilo ao rapaz que disse a ela que logo haveriam de encontrá-lo. Vanessa resolve ficar no quarto e esperar por notícias de Murilo. Começa a cair a noite e nada. A essas alturas Vanessa já começa a entrar em desespero. “Como pode o Murilo ter saído assim, sem me dizer nada? Ele teria me levado caso saísse para dar uma volta. Não é possível, deve ter algo de errado, mas o que pode ter acontecido meu Deus?” - pensava Vanessa que já estava tomada por uma aflição sem tamanhos. A hora começa a avançar e já vai dando pra lá das nove da noite. Suzana já começava a chorar, pensando que só podia ter acontecido alguma coisa de grave pelo fato de seu marido ter desaparecido daquele jeito. Andava de um lado para o outro e não saiu do quarto para nada naquele dia e não quis nem alimentar-se, pois do jeito que estava aflita, nada iria descer. Quando já são quase dez da noite, o rapaz que disse que tinha prometido ajudá-la a encontrar seu marido voltou com um senhor alto, pele clara, com bigodes ralos e bem aparados que dizia ser o Comandante daquele navio.

- Prazer senhora, me chamo Adriano. Adriano Bittencourt Sampaio! O que aconteceu ao seu marido?

- Eu é que pergunto seu Adriano! Desde cedo que meu marido saiu deste quarto e não voltou mais! O que será que aconteceu com ele meu Deus? Não é possível que ele tenha se perdido. Por maior que fosse o navio ele não ficaria desaparecido ainda mais com os recursos de busca que se deve ter para encontrar uma pessoa aqui.

- Não sei como lhe dizer senhora, só que nós usamos todos os recursos de busca e ainda não conseguimos encontrar o seu marido.

- Não é possível, meu Deus o que pode ter acontecido ao Murilo? Vocês têm que me ajudar, pelo amor de Deus. Isso só pode ser um pesadelo! Não é possível que isto esteja acontecendo logo no primeiro dia da minha lua-de-mel. E cai sobre a cama com o rosto sobre os travesseiros onde se pôs a gritar desesperadamente.

O Comandante Adriano tenta acalmá-la dizendo que ainda poderiam encontrá-lo, mas a essas alturas o seu desespero aumentava gradativamente. O Comandante disse que de qualquer forma continuariam procurando e assim que tivessem um parecer lhe comunicaria logo em seguida. Saíram do quarto deixando Vanessa. Ela já não agüentava mais de tanta aflição e quando passa da meia-noite ela resolve sair do quarto e ir ela mesma atrás de seu marido. Começa a andar a passos rápidos querendo de qualquer maneira encontrar seu marido. Quando Vanessa já está na parte de cima do navio ela vê uma pessoa caminhando em direção ao mar e reconhece naquela pessoa ainda que ao longe a figura de seu marido. Apesar do avançado da hora a noite estava linda e clara com uma lua cheia deslumbrante. Vanessa grita o nome de seu marido, mas a pessoa caminha em direção ao mar e se joga nas águas geladas do oceano. Vanessa solta um grito de pavor e corre até a parte em que seu marido havia pulado e fia desesperada quando vê o seu corpo inerte boiando na água. Aquele era realmente o Murilo seu marido. Mas por que ele havia feito isso? Por que ele iria se suicidar? Pensamentos desencontrados fazem com que sua visão fique turva e Vanessa desmaia contemplando aquela horrível imagem. Quando recobrou os sentidos estava novamente em seu quarto com o Comandante em pé ao lado da cama e um médico examinado-a. Vanessa começa a gritar dizendo que eles precisavam ajudar seu marido que havia pulado no mar e o Comandante disse que quando eles chegaram lá não havia corpo nenhum na água e que somente ela se encontrava ali. Ela queria de todo o jeito sair dali e correr para onde tinha ido a fim de mostrar que não havia enlouquecido e que ela tinha visto com plena certeza o momento em que seu marido atirara-se nas águas do mar. Ela olhou para o relógio e viu que já era quase duas da manhã. Ela começa a gritar de uma tal forma que começa a acordar as outras pessoas que se encontravam nas cabines vizinhas. Começa a se formar um aglomerado de pessoas em sua porta perguntando curiosas sobre o que estaria acontecendo com aquela pobre mulher para ela estar naquele desespero tão grande.

- Deixe-me sair daqui, eu preciso salvar o meu Murilo! - berrava Vanessa histericamente. Nisso dois homens a seguravam enquanto o médico preparava um calmante que aplicaria pela via intravenosa.

Com uma força descomunal Vanessa consegue se desvencilhar de um dos homens e com a mão que sobrou ela pega um pequeno vaso de flores que se encontrava em uma mesinha ao lado de sua cama e senta na cabeça do outro que a segurava. Parte para cima do médico pega a injeção que está em sua mão e aplica em sua perna. O Comandante até tenta impedir sua saída barrando a porta, porém Vanessa o empurra fazendo com toda a força fazendo com que o grandalhão fosse de cara no chão. Vanessa estava completamente descontrolada. Ela iria encontrar seu marido de qualquer maneira, nem que fosse a última coisa que fizesse em sua vida. Corre até onde supostamente Murilo teria se jogado e pula no mar a fim de quem sabe encontrar alguma coisa. Ela começa a olhar dentro daquelas águas geladas e grita desesperadamente por seu marido. Quando a respiração começa a lhe faltar ela sobe correndo a fim de tomar ar. Quando chega ao topo e começa a respirar sente uma mão pegando-a pelo tornozelo e trazendo-a de volta para o fundo. Vanessa começa a gritar desesperadamente por socorro, porém começa a ser puxada para o fundo. Tenta ver o que a está segurando e percebe que algo demoníaco quer afogá-la naquelas águas. Ela se debate desesperadamente tentando se desvencilhar daquela criatura grotesca que por fim a solta e ela começa a voltar para o topo daquelas águas. Ali chegando uma mão já se encontra pronta para tirá-la dali. Ela grita dizendo que o demônio havia matado seu marido e que o corpo dele estava ali naquele mar profundo. Nisso quatro homens agarram Vanessa com força e o tal médico que antes estava em seu quarto agora dentro daquele bote aplica-lhe um fortíssimo tranqüilizante fazendo com que ela dormisse quase que de imediato. Quando acorda está novamente em seu quarto com seu marido ao lado perguntando a ela se estava tudo bem e ela sem entender nada do que estava acontecendo abraça Murilo com toda a força e chorando convulsivamente pergunta a Murilo o que tinha acontecido a ele. Ele esboça um sorriso e diz que ela havia tido um pesadelo, mas que estava tudo bem. Ela pede para que ele a abrace com força e nunca mais saía de perto dela. Murilo a abraça e ela acaba adormecendo em seus braços. Acorda novamente e se vê na cama toda amarrada, grita por Murilo e quem aparece é aquele rapaz que tinha prometido ajudar-lhe no dia anterior a encontrar o seu marido. Ela pergunta o que está acontecendo e o rapaz pede para que ela tenha calma, pois havia sido sedada por estar muito tensa e ela pergunta por seu marido e ele diz que infelizmente não o haviam encontrado. Ela disse que o havia visto ali que ele estava com ela no quarto, mas o rapaz pede que ela se acalme e vai embora dizendo que logo ela estaria sendo levada de volta para casa. Vanessa começa a achar que está enlouquecendo e grita desesperadamente para sair dali. O médico. Dr. Luiz entra em seu quarto e diz que ela está tendo alucinações, mas que a família já havia sido avisada e logo ela estaria sendo removida dali para casa. Ela pede insistentemente para que o médico a solte e ele diz que preferiu amarrá-la por ela estar muito agitada, e pediu que ela se acalmasse. Vanessa se transforma como se algo demoníaco tomasse posse de seu corpo e começa a falar com uma voz grossa e horripilante:

- Se vocês pensam que isso vai ficar assim tenham certeza de que todos os que estão neste navio irão perecer como o marido desta idiota aqui!

O médico olha aterrorizado aquela cena, pois os lindos olhos azuis e meigos de Vanessa ficaram vermelhos com as pálpebras que pareciam chamas de fogo e um olhar que irradiava um ódio profundo. Com isso as luzes do quarto se apagam e as portas se fecham bem atrás do médico. Ele corre até a porta e tenta abri-la quando vê um facão surgido não se sabe de onde vindo direto em sua direção. O médico começa a gritar e a bater com toda a força na porta a fim de sair daquele quarto quando o facão decepa a sua cabeça e seu corpo cai dando as últimas estrebuchadas no chão. Naquele dia o inferno se instala naquele navio, pois aos montes pessoas começam a desaparecer sem serem encontradas. O Comandante em desespero resolve que as pessoas que sobraram fossem todas mandadas de volta para os seus lares e que isso deveria ser feito com a máxima urgência possível. Quando ele tenta entrar em contato com o serviço de resgate e emergência descobre que o aparelho está completamente danificado e com isso eles perdem até mesmo a direção do mar em que estão. Um Transatlântico perdido no oceano. As pessoas que estão naquele navio começam a ficar apavoradas com o que estava acontecendo. Como as pessoas estavam desaparecendo e para onde iam, só Deus sabe. E agora além de tudo elas estavam completamente perdidas no alto-mar sem terem sequer a mínima chance de saírem daquele cenário de horror.

E conforme o tempo ia passando mais e mais pessoas iam desaparecendo. Depois de três dias não havia quase nenhum passageiro daqueles mais de 5.000 que partiram para aquela viagem do horror. O Comandante resolve reunir os poucos passageiros que ainda restaram e colocá-los reunidos numa das enormes salas de cinema que ali tinha a fim de que ninguém mais desaparecesse. Já era noite e o tempo encontrava-se como sempre maravilhoso. Havia até se esquecido de Vanessa e resolve ir até o quarto onde ela se encontrava para ver o que havia acontecido. Quando abre a porta da de cara com aquela cena dantesca do médico já com o corpo apodrecendo caído sem a cabeça e no olhar daquela cabeça separada do corpo ainda o brilho do pavor pelo que iria lhe acontecer. Na cama ainda amarrada Vanessa sorri e pergunta ao Comandante:

- Olá seu filho-da-puta, tá lembrado de mim?

- Quem é você? – pergunta Adriano apavorado.

- Eu sou aquele que se jogou no mar por sua causa e por causa daquela vaca que se dizia minha mulher, seu comandantezinho de merda! Ou você se esqueceu daquela noite em que nesse mesmo navio há nove anos atrás eu peguei a minha amada esposa que eu pensava ser uma mulher direita transando com você. A mulher que eu amava acima de qualquer coisa até mais que a mim mesmo. Ela me pediu que eu saísse, pois não estava se sentindo bem dizendo que precisava ficar sozinha. Engraçado que em minha companhia ela nunca se sentia bem! Nunca me esquecerei aquele maldito dia em que eu entrando no quarto por que havia esquecido a minha carteira volto a fim de acertar umas contas que havia feito no restaurante e depois em algumas lojas do Shopping, inclusive comprando até umas jóias para presentear a biscate quando entrando no quarto dou de cara com minha mulher transando com o comandante do navio. Como eu fui otário, como não desconfiei que a maldita casou-se comigo somente por causa de meu dinheiro? Lembra-se que ela mesmo disse isso naquele dia? Sorrindo e bêbada a desgraçada disse-me entre gargalhadas que nunca havia me amado e que se estava comigo era unicamente por causa de minha fortuna e pelo luxo que eu poderia proporcionar a ela e que já havia me traído muitas vezes. E você juntamente com ela rindo da minha desgraça, do meu sofrimento, do meu desespero. Canalhas, malditos! Eu não vi mais nada depois daquela cena bizarra e corri feito louco em direção ao mar onde me joguei em profundo desespero pensando somente em aniquilar de vez com a minha tão estúpida vida. Porém eu não morri como desejava e fiquei vagando na escuridão, sofrendo todos os tormentos do Inferno e como vi que não chegaria a um estado de inconsciência definitiva resolvi voltar e me vingar daqueles que foram a causa do meu aniquilamento. E nada melhor do que voltar ao lugar de origem, certo? A puta já teve o fim que merecia e agora se encontra no mais profundo dos infernos pagando por todo o mal que me fez. As pessoas que desapareceram fui eu que as hipnotizava a fim de que caminhassem até o mar e se jogassem tendo o mesmo fim que eu tive e sentirem na pele o mesmo sofrimento pelo qual eu passei. Quanto a encontrá-las capitão, bem no inferno elas estarão lhe esperando a fim de agradecerem a maravilhosa viagem que você as proporcionou. É hora de lhe dizer boa viagem capitão!

Falando isso o Comandante aterrorizado com aquela cena que acabara de presenciar e que mal teve tempo de assimilar, vê Vanessa soltando-se das cordas que a prendiam nos pés e nas mãos e parte para cima de Adriano que tenta correr porta afora apavorado com aquela cena, só que Vanessa incorporada daquele ser demoníaco atira-se contra ele, jogando-o no chão e começa a estrangulá-lo apertando o seu pescoço com toda a força. Adriano se debate desesperadamente, porém vai ficando roxo e perdendo completamente a respiração até que por fim morre sufocado. Ela pega o Comandante, colocando-o no colo e o leva para junto do mar e quando chega próximo àquelas águas que agora se encontravam agitadas e ao som dos agitos daquelas ondas ela sorri e joga seu corpo no mar a fim de que o diabo o recebesse nas portas do Inferno, junto com aquela vadia. Depois que vê seu corpo afundando lentamente no mar, Vanessa volta assoviando para o quarto e cai na cama onde adormece profundamente. Quando acorda vê aquela cena apavorante e aquele fedor insuportável dentro do quarto com o corpo do médico em avançado estado de putrefação. Nisso aparece à porta seu marido Murilo, todo encharcado de água e diz que veio para buscá-la, pois como ele havia prometido nunca mais a deixaria sozinha. Vanessa sorri e dá suas mãos a ele a fim de viverem eternamente juntos. Quanto ao restante dos passageiros que sobraram, os que ficaram vivos e não enlouqueceram iriam lembrar-se por toda a vida da viagem mais inesquecível que fizeram em suas vidas naquele Transatlântico de luxo.

Rodolfo Aliecksándrovitch
Enviado por Rodolfo Aliecksándrovitch em 22/11/2006
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