A morte do amor

Ele só queria uma familia, sua familia, mas tudo estava desmoronando. Seus pensamentos estavam cada vez mais confusos, tantas coisas passavam por sua mente. Esposa, filhos, os anos de união do casal, os melhores e piores momentos de sua vida. Se aquilo era o limite. Que se dane! Pensou ele se levantando da cadeira em que estava. Caminhou a passos lentos até seus filhos, deu um beijo em cada um. Os olhou com olhos úmidos e depois desviou o olhar. Lá estava ela, ele a encarou em seus olhos. Ela era tudo pra ele, mas o amor as vezes é simplesmente terrivel. Ela não o queria mais. Ele se levantou. Lembrou de cada poesia, de cada verso, de cada letra dedicada a ela e simplesmente a deu as costas saindo pela porta da frente da casa. Pensou mais uma vez em seus filhos mas ele sabia que não podia suportar aquilo tudo e continuou caminhando. Quando saiu do lado de fora da casa começou a correr desesperadamente, as lágrimas correndo pelo seu rosto tão jovem. Seus olhos inchados, o coração parecia estar em um lugar indevido pois batia desesperado para sair dali. Ele continuava a correr, suas mãos visitavam constantemente o seu rosto para secar as lágrimas que teimavam em brotar como uma nascente de sangue, um sangue que ele sabia que deveria ser derramado. Ele desceu por uma rua e la estava ela, tão casual e imponente. Seus pneus cantavam sob o asfalto da br. Transportava tanta cerveja que daria para embebedar uma cidade inteira. Seus olhos de vidro piscaram ao encontro dos olhos parados do corpo que saltou á sua frente. O som exasperado da buzina chegou tão rápido aos ouvidos dele, tão rápido e ao mesmo tempo tão imperceptível. Ele não pensava em nada a não ser nela. Talvez ele estivesse doente. Muitos diriam isso. Ele estava louco! Mas não, ele a amava tanto. O metal bateu contra o seu corpo e enquanto a carreta patinava devido a manobra feita em vão pelo motorista, ele era arrastado pelo asfalto frio, sua pele queimando enquanto ele rolava batendo os cotovelos e quebrando seus ossos, a ultima coisa que ele viu foi o pneu a centimetros de seus olhos, tantas lembranças, tantos sonhos despedaçados... e de repente seu crânio se espatifou levando embora toda sua vida. A poesia aquele dia terminou, não haviam mais rimas, apenas sangue, suor e lágrimas.

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 21/05/2011
Reeditado em 23/05/2011
Código do texto: T2984535
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