O MISTÉRIO DO VELHO CASTELO - PARTE 1

O castelo fedorento não era pra qualquer um. Velho, caindo aos pedaços, o castelo fedorento era conhecido por ser a única construção antiga do bairro dos canudos ainda de pé. Rezava a lenda, que em 1919, exatamente as 23:59 uma família inteira havia sido assassinada enquanto dormia. Hoje, eu estou aqui para falar que isso não é uma lenda.

O único sobrevivente, o mordomo da mansão enlouquecera e à poucos anos atrás morreu enquanto se debatia furiosamente no leito do hospital. Eu, como psiquiátra que o acompanhou durante 11 anos, hoje não consigo mais viver em paz. Tive de me mudar, e posso dizer com certeza que hoje eu acredito que existam forças na natureza que estejam além do nosso limite de conhecimento, e muito mais além da nossa compreensão.

A história que irei narrar aqui, nada tem haver com fantasia e pouco menos se trata de um conto para crianças. Os fatos aqui narrados são verdadeiros, e qualquer um que se sentir perturbado com esse texto, ou encontrar qualquer semelhança com ele, deve para de lêr imediatamente.

O meu nome é Josh. São 15:45 do dia 16 de dezembro de 1961, um sábado. Estava em casa fumando meu cigarro em frente ao rádio escutando uma reportagem especial sobre a morte do nazista Adolf Eichmann quando recebi um telefonema.

Era do hospital. O velho "mordomo fedorento" estava dando trabalho denovo, mas algo naquela ligação era diferente. Vesti meu terno, dei mais uma tragada no cigarro e saí. Morando sozinho no apartamento, desde que tinha perdido minha mulher e filhas, eu não me importava de deixar a casa inteira cheirando a cigarro. Na verdade, nada mais tinha sentido para mim, de forma que a única coisa que significava na minha vida era o trabalho. Depois do vício, era ele que me sustentava. Na verdade, um pouco dos dois claro. Eu não podia viver sem meus cigarros, meus cigarros não existiam sem o trabalho. Maldito vício aquele.

-Bom dia Srª Norma! Qual o problema de hoje?

-Ele acordou gritando por seu nome, disse que havia esclarecido o que aconteceu na morte dos Monteiros. Falou de uma coisa horrível que vivia o perseguindo em seus sonhos e desatou a chorar. Acho que agora está mais calmo...

-Ele me chamou?

-Sim Srº Josh, a manhã inteira.

O "mordomo fedorento" como era conhecido Armand Bastos, na verdade tinha esse apelido nojento em razão das circunstâncias em que o encontraram dentro do "Grande Castelo" da Avenida Arthur V, esquina com a pracinha da cidade. Um cheiro muito forte de carne de podre, moscas varejeiras verdes esatavam por todos os cantos e a situação era deplorável. Duas semanas antes os Monteiros foram vistos no Bairro, com sacolas de roupas e um cachorrinho poodle no colo da Srª Maria Monteiros. O respeitadíssimo senhor Luiz da Cruz Monteiros, ou simplesmente Srº Cruz como era conhecido na cidade era dono de um enorme armazém de alimentos, responsável por abastecer cidades vizinhas. Enriquecera seguindo os passos de seu pai e seu avô, que revendiam suas colheitas da roça para mercados nas grandes cidades. Luiz tirou daí seu sustento, e decidiu fazer disso seu investimento. Conhecido como um senhor bondoso por toda a cidade, eu sempre achei estranho o fato de todos desconhecerem o motivo de seu assassinato. Nenhuma suspeita, nenhum motivo. Absolutamente nada. Até o dia em que acharam o pobre coitado crivado de balas em sua suntuosa sala de estar ao lado de sua esposa. Os filhos foram encontrados em suas camas, com expressões horríveis no rosto mas sem nenhum sinal de violência. Nada, nenhum arranhão sequer.

Quando as portas do Castelo foram arrombadas no dia 04 de abril de 1919, o cheiro era insuportável. Até mesmo quem passava do outro lado da rua sentia o desagradável odor, como se alguém tivesse deixado um peixe na geladeira, e depois maldosamente tivesse a desligado com a porta aberta. Os detetives da polícia julgaram que o casal teria morrido há 06 dias, os filhos um pouco antes disso.

Enquanto checavam os fundos da casa, acharam Armand debaixo de uma pequena cama. Magro, sujo, ele fedia muito. As fezes estavam por todos os lados. A doce cadelinha Maggie, morta e com marcas de mordida pelo corpo. Tremendo e com os olhos vermelhos, ele não falava. E pelo visto nem poderia. O pobre coitado estava com sua boca coberta por uma grossa casca de ferida, o pus escorria aos montes, suas mãos estavam horríveis, e no chão, nas paredes ,por todos os lado em que se olhava havia marcas de unhas. Seus dedos estavam em carne viva, e após um mês no hospital ele havia sido levado para instituto, ou Hospital (como nós preferimos chamar) Psiquiátrico Dr. Adolfo Bastos. A partir dali, sempre mudo e distante, eram poucas as vezes que o mordomo fedorento dera trabalho. Acompanhando seu tratamento por 10 anos, nem eu, nem meus colegas conseguimos observar algum progresso. Nos três primeiros anos a polícia tentou interrogá-lo, para que de alguma forma ele ajudasse nas investigações, mas ele era como bebê. Não falava, não ria... não tinha expressões. Se o irritassem muito, ele urrava até ser tranqulizado, mas era durante as noites que seu comportamento mudava. Seu olhar ficava amedrontado, suas mãos tremiam e o pobre coitado precisava ser sedado para dormir sem arranhar o chão ou as paredes. Uma vez um enfermeiro novo lhe deu um medicamento errado e ele quase arrancara seu dedo esquerdo tentando "desenhar na parede". Foi a única vez que ele fez algo diferente.

Por isso, apesar de ser um sábado, aquele foi um dia importante.

-Ele está te chamando Dr.

-Chamando? Está me dizendo que o ferdorento me chamou?

-Isso mesmo, ele está bravo, mas muito bravo. Amarramos ele na maca, mas ele não para de gritar seu nome.

-Esto indo pra ai, tchau.

Continua.....

Bonilha
Enviado por Bonilha em 28/06/2011
Reeditado em 03/05/2012
Código do texto: T3062601
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.