O Filho do Diabo

Papai nunca me visitou pessoalmente. Não o conheço ainda, mas ele vive mandando seus empregados para me levar embora e por diversas vezes eu tentei entender porquê que isso aconteceu logo comigo. Mas bem, deixe-me contar a minha história.

Eu nasci às 23:59:59 do dia 31 de dezembro do ano 1999. Minha mãe infelizmente não suportou a dor e morreu no momento do parto.

Naquele dia a entrada principal do hospital estava lotada. Todos queriam ver aquela criança prematura. Apenas sete dias de gestação na barriga de uma garotinha de onze anos que comprovadamente foi diagnosticada como sendo virgem por dezenas de especialistas. Para todos aquilo era um milagre, mal sabiam eles que era exatamente o oposto. As veias de minha mãe estavam tão altas, sua pele rocha, pálida e estranha, completamente anormal. Como eu soube de tudo isso? Bem, o médico que me criou gravou tudo. Cada detalhe foi registrado.

A primeira vez que vi estas imagens junto com ele foi realmente terrível. Mal tiveram tempo de preparar a maca. A barriga dela se movendo estranhamente e de repente um pequeno jato de sangue saindo do umbigo, depois duas unhas que mais pareciam garras em sentidos opostos uma a outra começaram a abrir a barriga dela, logo havia uma fenda enorme e eu coloquei a cabeça para fora. Todos se assustaram com a cena, a câmera caiu no chão, mas continuou gravando tudo ainda virada para eles que corriam para todos os lados, uma enfermeira mais velha teve um infarto fulminante e caiu morta, meu corpo crescia desproporcionalmente ao tempo, eu os matava um por um, era tão fácil. Matei quase todos, dei uma pancada no médico que caiu aturdido. Só faltavam ele e um enfermeiro que tentava fugir inutilmente. Arranquei o coração dele com minha ainda pequena mão direita. Assistindo a fita vejo duas mãos se erguem sobre minha cabeça. Nesse momento eu já devia ter quase 80 centímetros de altura, orelhas pontiagudas , dentes afiados, eram três fileiras, quatro asas brotando em minhas costas, duas atrás de meus ombros e outras duas no meio de meu corpo. Meus pés e mãos eram horríveis garras. Os dedos muito maiores que o normal, então o metal tocou minha pele visguenta, tomei uma carga de xoque com o desfibrilador e cai inconsciente. O homem ficou me olhando, eu era horrível, mas ele devia estar louco pois me pegou no colo, me colocou sob uma maca, cobriu meu corpo e saiu correndo fugindo pela saída dos fundos. Ele me contou que roubou uma ambulância e dirigiu por mais um tempo. Deixou a ambulância em um terreno abandonado. Ele me sedou e me prendeu em uma jaula de aço numa casa que alugou em uma cidadezinha do interior após sacar todas suas economias em um banco distante dali, comprou identidades falsas, rapou sua cabeça e passou a usar um bigode ridículo, lentes de contato e fez duas enormes cicatrizes em seu rosto. Aquilo o tornou irreconhecível. Ele havia sido acusado de todas aquelas mortes, mas ele me alimentou e cuidou de mim. Eu vivi naquela jaula por algum tempo, mas ele logo viu que me amava e a abriu pra mim. Mudamos repetidas vezes de endereço devido aos incidentes macabros ocorridos nas cidades onde morávamos. Mas nunca fui eu e sim os malditos anjos que meu pai sempre manda. Devoradores de alma imundos! Eu me alimento da carne de cachorros, coelhos e outros tipos de animais mas as galinhas eu odeio pra falar a verdade. O sangue tem gosto de merda! Não me perguntem por que, pois não sei. Mas não experimentei sangue humano depois daquela chacina. O médico disse que tudo tem a ver com a data e horário em que nasci, que eu condenaria a raça humana. Que eu era a besta fera que destruiria o mundo! Se ele estava certo? Bem não tenho certeza, mas ele tinha e disse que um anjo do bem o havia instruído a me proteger e dito que da mesma forma que meu destino era ser o destruidor eu também poderia ser aquele que salvaria a humanidade.

O médico agora está morto, aquele filho da mãe só poderia ser um louco. Mas prefiro não pensar nisso. Nunca o chamei de pai enquanto ele esteve vivo. Também ser pai de um demônio não lhe traria orgulho algum.

Hoje tenho a altura de um homem normal, posso assumir qualquer forma, homem animal ou até mesmo uma mulher. Estes anjos perversos sempre me encontram, dizem que querem me libertar, que meu pai me chama. Eu carinhosamente os mando sempre de volta ao meu querido papai! É tão fácil matá-los! É o meu presente pra ele! Eu os mando de volta pro inferno! Agora... bem.. agora eu vou continuar me escondendo, lutar contra minha sede, minha fome pela carne humana! Eu posso até ser o filho maldito dele, mas eu não serei o filho maldito para o mundo de meu pai humano!

Esse é o meu presente para aquele médico... o mesmo médico que me chamou tantas vezes de filho!

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A todos um forte abraço e que Deus lhes abençoe e ilumine sempre!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 04/08/2011
Reeditado em 05/08/2011
Código do texto: T3138382
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