O fantasma do shopping

 

 

Assim que lavei as mãos no banheiro do shopping, olhei no espelho para ver se meus cabelos estavam em ordem. Levei um susto. Ao lado da minha cara tinha outra cara. Exatamente igual à minha: de óculos, o mesmo tipo de cabelo, a mesma boca. Eu não estava tonta, não tinha bebido nada. Pelo sim, pelo não, passei água fria no rosto. Olhei de novo para o espelho e só encontrei uma cara. Voltei-me, não havia ninguém atrás de mim, uma mulher de costas dirigia-se para a saída. Nisso minha amiga saiu do toalete e ficou espantada, quis saber por que eu estava tão pálida. Contei-lhe o que se passou, ela achou que minha pressão devia estar muito baixa. Propôs irmos à enfermaria ou tomar um café. Optei pelo café.

 

Sentadas à mesinha no corredor, eu me sentia bem melhor depois de um copo d´água seguido do cafezinho. Já estava pensando em pedir um croissant, quando me assustei novamente. No meio de todas aquelas pessoas circulando eu ME vi logo adiante, em pé, na frente de uma vitrine, o rosto refletido no vidro. De tênis, blusa branca e calça jeans, exatamente como eu estava. Olha lá, olha lá! chamei minha amiga, apontando com o dedo. Ela também viu e ficou pasma. Saímos correndo, atropelando gente pelo caminho. Não conseguimos alcançar. No meio da multidão, eu desapareci... Quer dizer, aquela outra, que era eu mas não era eu, desapareceu. Eu mesma fiquei ali, só procurando.

 

Inconformadas, andamos freneticamente de um lado para outro sem nenhum resultado. Assustadas, ficamos nos beliscando, para ter certeza de que não sonhávamos. Foi então que eu pensei em outra coisa e pedi a ela:

 

- Me diga com toda sinceridade, juro que agüentarei firme a verdade: eu já morri?...

 







 (*) Texto inspirado no caso verídico relatado na crônica "Você não se lembra mais de mim?"