O repouso dos mortos

Aquele era um dia cinzento, uma sexta feira vazia, o outono encarnava o cinza com suas cores e a avenida que serpenteava o pequeno povoado, beirava pequenas residências, uma pracinha, a igreja com sua discreta capela funerária, e ao fundo onde sumia a avenida, o orgulho daquele lugar, o cemitério.
Não era nenhuma surpresa para os moradores que pessoas de todo o lugar viessem ate ali para visitar o campo santo, afinal fora construída por ricos mercadores de diamantes, que outrora moraram ali ao redor do povoado. O piso do cemitério era de mármore, os jazigos construídos como se fossem moradias de uma pedra rara da polinésia, e com um planejamento minucioso, e depois doados às famílias da região, e os que sobraram vendidos a milionários que de longe vinham adquirir um lugar naquela linda vastidão, onde o sol da tarde banhava tudo de uma beleza monumental.
Sim, ali se sentiam no paraíso literalmente, e pensavam, seria assim depois da passagem.
E exatamente quando a manhã nasceu sobre uma neblina uma voz feminina estridente, surgiu como um fantasma e anunciou a altos brados...
___Mataram Rudolfh... Meu Deus degolaram o coveiro Rudolfh...
Alarmou-se a cidade, porque apesar do olhar sinistro que ele tinha, do rosto marcado por navalhadas em brigas pelos diamantes, Rudolfh era querido, era o homem que preparava os túmulos, recebia os visitantes, articulava com elegância as palavras, faria muita falta, a quem interessaria a sua morte, horrenda e com crueldade?
Mas muitas e estranhas coisas antecederam a morte do coveiro, uma passagem merece destaque pelo mistério que o cercou...
Constantim era um garoto em seus 16 anos, mas a sua morte resumiu uma vida de vícios, alucinações e o assassinato de sua namorada, cuja responsabilidade era óbvia, pois encontraram o rapaz ao lado do corpo cujas vísceras estavam expostas, fígado partido ao meio, e o estomago aberto deixando a mostra seu interior banhado de sangue... Nas mãos de Constantim, uma adaga turca de 40 centímetros ensangüentada assim como suas mãos e as vestes.
Mas a alucinação era tanta que creditaram a maldade pelo uso das drogas e problemas mentais, o juiz deixou aos cuidados do pai, também com um passado condenável, era um veterano de guerra,  incansavelmente espancou sua ex esposa,débil mentalmente e fisicamente forte o bastante para ter praticado crimes atribuídos a ele, mas nunca provados.
Sua mãe desapareceu quando ele tinha 10 anos, e em suas alucinações sempre a via...
No dia da morte de sua namorada ele relatou mais tarde que ouviu vozes vindas da pequena cômoda em seu quarto...
___Constantim... Constantim... Você tem uma coisa que me pertence, Constantim...
E completamente entregue à química maldita, quando sua namorada, abriu a porta e acendeu a luz, ele não a reconheceu, pegou a adaga debaixo do travesseiro e pôs-se esfaquear, a na morada teve sua boca tampada e esvaiu em sangue até a morte, e devido aos gritos dele próprio seu pai os achou... E depois outras pessoas, pois já era manhã e as pessoas passavam ali.
Apesar de ser uma pessoa estranha o pai de Constatim trabalhava, tinha a sua marcenaria e por diversas vezes tentou convencer o rapaz a trabalhar, mas foram infrutíferas as tentativas, o que era mais estranho era o fato de que o pai era amigo do coveiro, o que, aliás, naquele pequeno povoado não era estranho, por isso ninguém assutou-se quando a caminhonete do coveiro foi encontrada nas imediações da marcenaria no dia em que o rapaz foi morto...
Mas quando o coveiro morreu, e da mesma maneira que o rapaz, tiveram que investigar o pai de Constantim que havia sumido.
E a incoerência começava aí, como ligar os fatos, atribuindo ao pai a morte do filho? E porque ele faria isso? E porque mataria o coveiro?
O pai foi e voltou da viagem, e na mesma noite sua marcenaria foi inteiramente destruída por um incêndio, seu corpo incinerado nas chamas mostrava a carbonização das esperanças de encontrar o culpado pelos crimes...
Os dias foram ficando mais frios, veio o inverno, sepultando na neve os vestígios das mortes... Depois veio a primavera e encontrou uma velha senhora, ajoelhada ao lado de um mausoléu...
Depois da oração, retirou um pequeno papel do bolso, nele anotações...
Traços deixados, que ela encontrou na marcenaria, antes de imobilizar e matar o pai de Constantim, e ex marido, e depois incendiar tudo...
No papel, a quantidade de tábuas de caixões fornecidas ao pai de Constantim pelo coveiro, que retirava as madeiras dos luxuosos caixões e as vendia a ele.
Uma discussão entre os dois causou a morte de Constantim, vingança do coveiro, e como vingança também, a mãe de constantim voltou e trucidou o coveiro e para não deixar vestígio do negocio espúrio matou o ex marido e queimou tudo... Vingando-se dos maus tratos sofridos antigamente.
As vozes que Constantim ouviu no quarto...? Pois é... Já olhou seus móveis no quarto hoje?

Malgaxe
 

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 21/09/2011
Reeditado em 21/09/2011
Código do texto: T3233270
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