O Bate Bola Macabro - Parte 1

Domingo de carnaval, 6 de Março, 4h da manhã. Um crime brutal foi relatado pelas ruas do Centro, onde foram encontrados quatro corpos, duas mulheres e dois homens. Os corpos estavam a uma certa distância um dos outros, levando a crer que as vítimas estavam fugindo. Achamos primeiro o corpo de uma das mulheres, largado em uma viela, contornado por uma poça de sangue. Seu couro cabeludo havia sido arrancado a força e depois seu tórax foi esmagado contra o chão. O da outra mulher estava logo a frente, porém este estava com as duas pernas quebradas e com a garganta cortada. Os dois rapazes estavam um pouco mais atrás de onde os corpos das mulheres foram encontrados. Era quase impossível identificar quem eram pois seus rostos estavam completamente deformados. Quase todos os seus ossos foram quebrados, e pelo corpo todo havia cortes e lesões corporais, provavelmente as vítimas confrontaram o assassino. Não via um crime horrendo assim há anos, aliás, seja quem, ou o quê, matou aquelas pessoas, não era humano.

Crimes desse tipo, acontecendo em público, não podem ser relatados aos jornais, ainda mais em pleno o carnaval, isso arruinaria a cidade. Tivemos que tirar os corpos o quanto antes do local e começar nossas investigações pelo suspeito. A perícia nos entregou o relatório do horário exato em que as vítimas foram assassinadas: 23h07. Com essa pista, pude voltar ao local ainda na parte da tarde e procurar por possíveis testemunhas que tenham visto ou ouvido algo. A noite o Centro é bastante deserto, mas os mendigos sempre ficam por ali, dormindo em qualquer canto que lhes for mais acolhedor. Interroguei cada morador sem-teto por volta daquela região, procurando por respostas. Uma velha me disse que ouviu gritos na madrugada, e que seu amigo acordou e foi ver o que estava acontecendo; minutos depois ele voltou correndo, pálido e assustado. Quando perguntei por onde esse tal amigo dela estava, ela me disse que ele partiu logo ao amanhacer, dizendo que não ficaria mais ali. A velha também me disse que ante dos gritos, tinha ouvido um som estranho ecoar pelos prédios. Parecia o som de um martelo grande, seguindo por um assovio fino, parecido com um apito fraco.

As pistas que me foram dadas não me levaram a lugar algum. Em época de carnaval fica difícil encontrar criminosos, ou achar testemunhas convincentes, já que qualquer lunático pode estar fantasiado. Algo me dizia que aquelas pessoas assassinadas não seriam as últimas. Eu estava em um beco sem saída. Nenhuma câmera de segurança, ou as do trânsito, havia registrado qualquer imagem de um suspeito rondando as ruas, simplesmente não havia nenhuma evidência. Investigamos a vida das vítimas e nada, aparentemente não havia nenhuma declaração de morte, inimigos ou coisa parecida. Estávamos em um ponto cego e não sabíamos onde seria o próximo ataque.

Noite de domingo, 21h. Um telefonema nos informou de um homicídio na Barra, próximo a praia. Cheguei a acreditar que fosse o assassino que eu procurava, mas não parecia haver qualquer semelhança, até eu ser informado por telefone sobre a morte da vítima. O corpo de um homem com as genitálias amputadas e enfiadas na boca. Havia cortes por todo o corpo e dessa vez a seguinte palavra escrita com sangue em sua barriga: "Porco". A perícia indicou que a vítima devia estar urinando na rua na hora em que foi pego de surpresa e assassinado. Na mesma noite, por volta das 23h41, outro telefonema, dessa vez a coisa parecia grave e fui checar. Vila Valqueire foi o novo local do crime. Mas desta vez a coisa parecia bem pior do que eu poderia imaginar. Foram identificados os corpos de um homem, uma mulher e uma criança. O pai foi decapitado, tendo sua cabeça lançada a mais de 4 metros de distância, tanto sua cabeça como seu corpo estavam mutilados, cheios de cortes e os ossos todos quebrados; a mulher teve suas tripas arrancadas, das quais o assassino utilizou para pendurá-la num tronco de uma árvore próxima ao local; quanto a criança, uma garotinha de 9 anos, estava com seu corpo totalmente destroçado. Havia marcas de sangue no muro e na calçada próximos à cena do crime. A perícia acredita que o criminoso tenha pego a vítima pelos pés e usado ela para bater no muro e no chão até que todos os seus ossos fossem quebrados. Matar crianças. Como poderia haver um crime mais hediondo do que esse? De fato, o assassino que eu procurava não era um assassino qualquer. Todos seus crimes, exigiriam uma força sobre-humana. Eu começei a ficar assustado, pois em uma noite, dois crimes brutais foram cometidos em diferentes pontos da cidade. A coisa estava começando a ficar fora de controle. Mas para minha sorte, consegui achar o endereço da pessoa que telefonou para a polícia. Morava logo ali na rua. Aproveitei e fui tomar a chance de bater na porta da casa. Ouvi a voz de uma velha senhora, perguntando por quem batia em sua porta. Quando me apresentei e expliquei a minha visita, a senhora abriu somente um pouco a porta e me disse que não era seguro conversar a noite e me mandou voltar no dia seguinte pelas 14h.

Desde que esses assassinatos começaram eu não tenho dormido. Passo horas acordado procurando por alguma informação valiosa. Agora que achei uma testemunha não poderia perdê-la como

aconteceu com o mendigo que fugiu. Preciso descobrir quem ou o quê é que está por trás de todos esses assassinatos. Depois do ocorrido no bairro da Vila Valqueire, eu decidi tirar um descanso e dormir. Em apenas 5 horas de sono, recebi a informação de meus colegas, que mais 6 pessoas haviam sido assassinadas, com as mesmas características das vítimas anteriores. Dessa vez as respectivas cenas do crime foram na Baixada, Rio das Pedras, Botafogo e três na Tijuca. Ordenei que todos investigassem câmeras de segurança, de trânsito e que procurassem por quaisquer evidências concretas. Logo depois fui informado por meu parceiro, do surgimento de algo incomum a respeito dos corpos das vítimas do primeiro crime no Centro da cidade. Os quatro corpos seriam enterrados nessa exata manhã de segunda-feira de carnaval, mas, quando o padre fez sua oração e jogou água benta pelo corpo do falecido, este começou a entrar em combustão espontânea. O mesmo aconteceu com o corpo dos outros três. Foi algo bastante assustador, sem falar que a única coisa que restou de seus corpos foram carne queimada, ossos e cinzas. E o estranho é que durante a autópsia não fora detectado nenhum tipo de química radioativa ou inflamável nos cadáveres.

A visita à casa daquela senhora talvez me esclareça sobre a aparência do suspeito. Quando entrei em sua casa, logo percebi que não se tratava de uma velhinha qualquer e sim de uma macumbeira. Porém não era nenhuma charlatona, ah não. Aquela era uma senhora distinta de qualquer outra que eu havia conhecido. Ela me levou para sua sala onde faz consultas, fechou a porta e as cortinas, acendeu algumas velas e me perguntou se eu queria realmente saber a verdade sobre o assassino da noite passada. Para mim parecia que eu havia encontrado muito mais do que uma testemunha ocular.

Ela me pediu para eu não fazer barulho e deixá-la se concentrar. Ela abaixou a cabeça, respirou fundo, começou a ter uns tremiliques, e então abriu os olhos. Dessa vez, seus olhos que antes estavam calmos, agora estavam assustados, me olhando com medo. Ela começou a falar em uma voz enrolada, e me disse - Tome cuidado com os olhos vermelhos. Tome cuidado com a máscara, ela te devorará. Corra, corra o mais rápido que você puder-. Após recobrar os sentidos a velha me explicou tudo: "Na noite do crime o suposto assassino apareceu do nada. Primeiro ouvi um som ecoar pelas ruas, seguido pelo som de batidas fortes de algo no chão, como os bate bolas fazem com suas bolas de plástico, mas esse som era mais forte e ecoava um som de ferro. Eu não queria ousar em olhar para a rua, mas quando ouvi o grito de uma criança eu fui ver o que estava acontecendo. Era ele... o assassino estava usando uma fantasia negra de bate bola, com luvas brancas e uma capa; em sua mão ele estava segurando um osso, deveria ser um fêmur, acorrentado a uma bola de ferro com espinhos. Eu vi ele colocando seu rosto próximo ao rosto das vítimas, e quando ele se virou eu olhei para sua máscara assustadora; os olhos da máscara brilhavam, havia sangue, e a marca da besta na testa. Isso foi tudo o que eu vi. Era um bate bola, mas não é o que você está pensando. Este bate bola, diferente do que muitos pensam, não é bonzinho e nem muito menos é humano. Há 10 anos atrás ouvi boatos de uma lenda urbana, uma antiga magia negra vodu, caiu sobre uma antiga fantasia de bate bola. O primeiro garoto que a usou, teve sua alma devorada pela maldição. Desde então a fantasia ganhou vida. Ela prendeu o corpo deste garoto à fantasia e o manipulou para cometer seus atos de brutalidade. Durante todos os carnavais, somente a noite, essa criatura sai pelas ruas, balançando sua clava de bola de ferro, à procura de almas para saciar sua fome. Como não possui voz, o único som que ele consegue transmitir é o som de um assovio. Quando ele mata alguém, ele tenta sugar a alma da pessoa. Isso o torna mais forte, enquanto o espírito de suas vítimas nunca conhecerão o descanso. Pensei que fosse mentira mas há 3 anos descobri que não era." Isso explica a anomalia do caso da água benta. Os corpos sem alma queimaram ao entrar em reação com a água benta, que nem misturar fogo com álcool. Mas uma peça estava faltando nesse quebra-cabeças. Por que nunca esse ser foi notado antes? Por que somente aos carnavais e por que evita a luz do dia? A velha disse que à noite é quando as almas vagam pelo mundo dos vivos, mas quanto ao resto ela não sabia responder. Para ela, o bate bola está mais agitado, matando mais pessoas do que costumava matar. Algo talvez tenha acontecido para ele agir assim. Algo está muito errado.

Agora preciso encontrar uma fantasia de bate bola, amaldiçoada, vagando pela cidade do Rio de Janeiro. A velha me aconselhou a encontrá-lo antes da quarta-feira de cinzas, pois se não algo de pior irá acontecer. Ela tentou prever o local do próximo ataque, me disse que em sua visão viu sangue e a torre de uma igreja. Agora preciso procurar todas as igrejas com torres, e o problema é que igreja é o que não falta nessa cidade. Talvez seja baboseira daquela velha mulher. Mas e se não for?! Verdade ou não, é a única pista que eu possuo e vou precisar dela se quiser terminar esse quebra-cabeças antes que mais pessoas inocentes sejam assassinadas por esse Bate bola macabro.

Gabriel Almeida
Enviado por Gabriel Almeida em 02/10/2011
Reeditado em 31/10/2011
Código do texto: T3254091
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