O Silêncio dos Malditos

"Aaah, venho esperando há muito por esse momento. O dia em que o único som para meus ouvidos já desgastados, fosse os gritos deles. Como estou alegre, mal posso me conter. Desejei tantas vezes para que isso acontecesse, mesmo que sem esperanças, mas aconteceu, realmente aconteceu."

" Meus vizinhos...hunf...tenho desprezo em dizer essa frase. Mas não mais. Desde que eu era criança a vida aqui era perfeita. Tudo mudou quando eles chegaram. Aos poucos foram surgindo, mais e mais deles. Aos poucos foi se multiplicando a prole de vermes. Eles não tinham respeito pelo os outros, muito menos educação. Minha vida se tornou o inferno. Eu fui obrigado a escutar o lixo que eles chamavam de "música", ver seus atos profanos e ouvir suas conversas altas e fúteis que ultrapassavam as paredes de minha casa. Suas crianças... É triste dizer, mas nem mesmo elas eram mais puras. Mesmo ainda tão pequenas eu não conseguia ver mais o brilho da inocência em seus olhos. Meu escárnio por meus vizinhos somente cresceu com o passar dos anos. Até que então... O silêncio. Não pude acreditar, mas era realmente o som do nada. Por minuto achei ter ficado surdo, mas ainda podia ouvir o som do vento nas árvores, o som dos pássaros e a goteira da bica na cozinha. Depois vieram os gritos, o desespero e o horror. Haha, eu assistia todo o espetáculo de minha janela. Enquanto as pessoas que passavam pela rua se amutuavam para ver o horror, em choque com a cena, eu ria descontroladamente de tão engraçado que aquilo parecia para mim."

" Haha, todos mortos. Finalmente alguém silênciou aquela raça vil e desprezível. Eu não me importo com quem assassinou todos eles e em seguida deixou seus corpos nus, expostos, com cordas amarradas em seus pescoços, pendurados aos galhos de uma árvore, logo depois ateando fogo na casa e no carro. Acho que ficaria encantado em conhecer esse bravo herói para poder agradecê-lo. Naquela manhã de domingo, pela primeira vez, eu fui para a varanda e tomei meu café da manhã apreciando seus corpos balançando com o vento, enquanto a chama ainda ardente, queimava o pouco do que sobrou da casa. Estranhamente notei que minha camisa estava com um mancha de sangue, mas pouco me importei já que aquele era o melhor café da manhã que eu jamais tomei."

Gabriel Almeida
Enviado por Gabriel Almeida em 10/10/2011
Código do texto: T3269140
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.