Ultima noite. (Danação.) Versão Curta.

Imagino que me resta pouco tempo, um passo da criatura que está do lado de fora, que observo através de minha janela. Será que sou o culpado ou amaldiçoado? Antes ele se mantinha ali, parado do lado de fora, apenas me observando, sim, apenas aguardando a hora para me atormentar, me levar para o inferno; então passou a dar um passo por noite, todas as malditas 20 horas de cada noite, eu observava torcendo para que fosse apenas uma ilusão da noite anterior, porém ele sempre estava ali e ao me ver, dando um passo a frente, me causando pavor. Um olhar fixo, diabólico em minha direção, como se esperasse que eu fizesse algo. A cada passo que dá consigo ver mais da aparência daquele monstro...

Fui a diversos centros religiosos, nenhum deles fez afastar meu pesar, ora, talvez tenha sido algum deus miserável que mandou aquela Desgraça me castigar, ­-mas meus crimes, quais foram?-

Deixem-me contar lhes os pecados que me custarão à danação, enquanto sentado aqui, observo o Demônio que me observa.

-Sempre fui um homem de bem, trabalhando duro para dar uma vida agradável a minha mulher e toda minha família; eu formado em direito sempre trabalhei corretamente, queria o melhor para todos então tentei me tornar juiz. E consegui o que queria, contudo, antes, tive um ultimo cliente como advogado, antes de sair da área.

Era um jovem, vinte ou vinte um anos de idade, acusado de estuprar e matar uma garota de doze; jurava não ter feito tal monstruosidade, eu também sabia que ele era inocente e acompanhei seu caso, até que o rapaz não pôde mais pagar a alta quantia que eu cobrava, -O que poderia eu fazer? Também preciso de dinheiro para viver, alguém como eu, devo manter uma aparência a meu nível, se ele não parasse... Oras.- Alguns dias depois li em um jornal, sobre o rapaz, havia sido considerado culpado, ele estava sobre prisão domiciliar e se suicidou, enforcou-se engenhosamente com lençóis na varanda de seu humilde apartamento. O processo porém continuou, descobriram que realmente, não era culpado, um outro homem fora acusado e o mesmo me contratou, se declarou culpado para mim, mas pagara bem para que o defendesse, e assim foi, ganhamos a causa. Acusações retiradas e final feliz, mas não para mi, a partir deste dia comecei a ver a figura infernal pela janela de minha casa.

Quando tornei-me juiz e tive muitos casos, julguei-os com a maior coerência e verdade possível, tornei-me muito famoso e importante no país. Contudo, alguém estava melhor que eu, um velho companheiro da turma de direito na faculdade, se tornara um político, um governador, reeleito quatro vezes e possivelmente seria numa quinta eleição. Nunca gostei dele, sempre fora mais inteligente e melhor que eu em tudo, isso gerou uma raiva que durou até hoje. Por fim, um caso chegou a mim, e olhe só, eram denuncias contra esse tal governador, claramente eram forjadas, um homem parecido com ele, pagando prostitutas por sexo, drogas e outras coisas mais, sendo que a verdade era que ele, bêbado uma vez no tempo faculdade pagou uma prostituta quando saímos para comemorar a formatura. Por mais que as provas não fossem suficientes, o jornalista que o incriminara, pagou-me uma certa quantia para tornar suas provas mais relevantes e levasse mais em conta suas acusações, eu topei claro, aquele idiota iria pagar caro por ter se aparecido em cima de mim no tempo da faculdade.

Por fim ele fora preso, e os escândalos com seu nome viajaram o país inteiro; pobrezinha de sua mulher, não aceitara seu homem com prostitutas, drogas e etc, horrorizada por ter uma família com um ‘porco’ como ele, matou sua filha afogada e então se matou. Ao saber do ocorrido, meu querido companheiro de turma teve um infarto e agora está internado em coma. Bem, eu adoraria que ele tivesse morrido. Isso foi bom, para que o povo preste mais atenção em quem irá votar, ele não era inocente!

(...)

Fui obrigado a presenciar tantas coisas horríveis em minha profissão, a pior dela envolvia minha amada mulher. Minha doce e querida, descobrira as coisas terríveis que fiz no meu trabalho, -Ela deveria saber que tudo foi por seu bem, e não quis ficar a meu lado.-

Ameaçou me denunciar, oras, como pôde cometer tal traição? Eu obviamente não poderia deixar que ela estragasse minha vida assim. Tive que pagar para alguns indivíduos levarem-na embora para sempre, soube que abusaram dela e que sofreu antes de morrer. Foi para o seu bem, não seria bom se ela vivesse com o encargo do nome de um homem corrupto como eu seria acusado. Injusta! Ela morreu porque quis. Um policial descobriu o ocorrido, contudo o paguei com 20% do dinheiro em minha conta, ele ficou rico e “esqueceu” o caso e eu não perdi meu cargo.

A partir de então, a Coisa que ficava me observando do lado de fora de minha casa, passou a dar um passo a cada noite. Nunca mais dormi em paz.

Já contei 130 passos, 130 noites desde que ele avança, e daqui um minuto ele estará diante de minha janela, será que irá entrar? São 19 horas e 59 minutos, menos de um minuto para mais um passo.

Eis que esse demônio agora andou novamente, está diante de minha janela, seus olhos brilham como a chama de uma vela, sua pele é vermelha, como se fosse tingido por sangue; por Deus, estou rezando como nunca fiz; olhe! Em seu rosto asqueroso agora vejo um sorriso irônico se formando em sua boca de cobra.

-O que quer de mim Besta?!?- Estou desesperado, o que mais posso fazer?

O filho do inferno levanta as mãos lentamente e então encosta com força na janela lisa, meu coração dispara, ele não está tentando entrar ou teria batido forte e arrebentado o vidro. Onde suas mãos com garras nas pontas dos dedos, encostara, marcas vermelhas, -Sangue?!?-

Está escrevendo algo em minha janela, riscando no vidro com suas garras, o barulho é atormentador; pego minha Magnum na gaveta de minha escrivaninha, se ele entrar eu atiro.

Avareza, Luxuria, Inveja, Ira, Soberba! Por que essa coisa escreveu isso em minha janela? Está escrevendo algo mais, -Vamos para casa, os outros estão esperando?-, a coisa arranha minha janela. - Não vou deixar que me leve, não terá esse prazer! Hahaha...-

Sinto o metal da arma, frio em minha cabeça, eu vou morrer, e ninguém poderá me acusar de nada.

(...)

Fim.

Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 12/10/2011
Código do texto: T3272596
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