Contos de Fadas de Terror - Heh, heh, heh

A bruxa má, dona do abutre e do gato preto, que mora no Bosque Escuro, quer alguém para a ceia.

Antropófaga, ela prefere as carnes invioláveis e doces das crianças que vinham ao bosque para colher as mais belas flores e também para comer as mais doces e carnudas amoras.

Mas raras são as crianças que vem ao bosque, pois seus pais as proíbem com medo que desapareçam como outras já desapareceram.

Uma garotinha chamada Lúcia segue uma borboleta, pois ela sonhava em ter asas e voar livre como essas flores coloridas e voadoras. Quando percebeu já estava no bosque.

Viu os pés de amoras carregados com frutas rubras e negras que tantas crianças vinham desfrutar e acabavam sumindo para sempre.

Seus olhos se admiraram com as frutas, por isso não deu ouvidas as recomendações da mãe para ficar longe do bosque. Ávida e ansiosa ela colhe uma amora e come. E de novo quebra uma regra da mãe que pediu para que nunca comesse dessas amoras.

Após o pequeno prazer lacônico Lúcia cai desmaiada, pois a estava com a poção do sono...

Ela acordou atordoada e não estava mais no pomar. Agora estava num local mais escuro e sombrio, onde só tinha uma luz fosca que iluminava um canto do lugar medonho.

A pobrezinha chora de medo, pois queria estar livre no colo de sua mãe.

Não foi senão o susto mais terrível que a garota levou ao ver o rosto da bruxa por uma portinhola enferrujada embutida na porta emporcalhada.

Ela chora com mais terror e pavor da fisionomia da bruxa que era desgrenhada, corcunda, fedida, piolhenta, desgraçada, desdentada e nariguda.

A bruxa solta o gato preto no calabouço para junto da garota e ri:

- Heh, heh, heh.

O gato maldito falava para mais assombro da menina:

- Vamos brinca – mas o felino tinha uma malícia tenebrosa e insana no olhar.

- Vai embora gato malvado! – gritou Lúcia.

- Que bom que você veio para matar a nossa fome – sussurrou o gato aos ouvidos da menina.

- Não!

O bichano avançou contra a criança e comeu a língua dela.

A bruxa veio, levou o gato preto e trouxe o abutre, soltando-o, e riu:

-Heh, heh, heh.

O abutre sagaz e agourento voava ao redor da garotinha, apavorando-a mais e mais.

O abutre disse:

-Eu prefiro comer a morte, mas comerei a vida mais e mais.

Lúcia tenta pedir socorro, mas não conseguia, pois o gato havia comido a sua língua.

Ela tenta dizer, mas só o que fez foi mostrar a face da angústia em seu próprio rosto coberto de medo.

Então o abutre come os olhos lacrimejados dela.

A bruxa veio, libertou o abutre, depois pegou Lúcia no colo e riu-se:

-Heh, heh, heh.

A garota cheia de ódio jurou um dia vir para matar a bruxa e seus dois animais negros.

Pediu com fervor para a Fada Madrinha da Vingança para que isso acontecesse.

Mas a bruxa matou e comeu parte do corpo dela. A carne dos braços e das pernas eram as preferidas para se fazer picadinho com cauda de cobra e bosta de bode.

Quando a velha acabou de comer riu:

- Heh, heh, heh.

Depois jogou corpo da menininha numa cova aberta para que o gato e o abutre pudessem comer da carne podre do cadáver.

Mas naquela mesma noite a Fada madrinha da Vingança atendeu às súplicas de Lúcia e reviveu o seu corpo que jazia podre naquela vala repleta dos mais diversos despojos infantis.

Lúcia se levanta melindrosa e sorrateira. Cega, mas intuitiva. Podre, mas lúcida. Viva, mas morta.

As pernas e os braços só eram ossos que tilintavam, o tronco e a cabeça estavam putrefatos.

Lúcia pegou o gato e o enforcou e tirou-lhe o enigmático olho verde e os colocou em suas próprias órbitas vazias e imundas. Agora ficou com um olhar sinistro e terrível.

Também matou o abutre e o comeu sem deixá-lo apodrecer. E tirou as asas negras dele e as colocou nas costas. Agora realizaria o seu sonho de voar. Essas asas a deixaram com uma aparência demoníaca.

A bruxa ao ver a ressurreição e vingança de Lúcia, fugiu em sua vassoura pelos céus.

Lúcia parecia um demônio do inferno voando e a bruxa uma mera criança indefesa. Sempre no encalço da velha horrenda, a garota a empurra da vassoura.

Então Lúcia chama as crianças para comer, sua voz não saia, mas sons guturais aterradores e catacúmbicos clamavam pelos pequeninos. Não as crianças do vilarejo, mas sim todas as crianças que a bruxa matou por todos esses anos.

Todas saíram daquelas valas sujas, não para comer amoras e sim para devorar a bruxa.

E cada criança, inclusive Lúcia, comem vagarosamente a bruxa viva que grita até a morte, enquanto Lúcia ri guturalmemte:

- Heh, heh, heh.

FIM

lord edu
Enviado por lord edu em 31/12/2006
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